Publicado em: 15/02/2024 às 16:30hs
Em 2020 foi publicado o livro “Agricultura, fatos e mitos” (bit.ly/3NsHgrs), desconstruindo mitos ligados ao agronegócio, reposicionando-os com fatos à luz do conhecimento científico. Nesse texto são elencadas informações adversas ao consumo de produtos derivados de plantas transgênicas, ou a pesticidas a elas associados, nos quais os resultados foram distorcidos para adaptar-se à conveniência da narrativa.
Artigo sobre o tema foi publicado em revista pouco conhecida (bit.ly/3TqNprR), por um autor que se intitula “cientista independente e consultor” e outro autor da área de Ciência da Computação. O artigo expressa uma teoria, sem comprová-la. Usa referências selecionadas para não expor o contraditório, as quais não demonstravam a relação entre o pesticida e as doenças elencadas. O editor da revista destacou que o artigo tratava-se de opinião enviesada, com literatura tendenciosa, para suportar a opinião dos autores. O fato é que não há evidência científica da relação entre glifosato e as doenças citadas, como mostra Keith Kloor (bit.ly/3RJ4hJi). O artigo publicado por Mesnage e Atoniou (bit.ly/3RIc6Pj) aplica-se a este parágrafo, extensivo a outros que seguem abaixo.
Um artigo propôs-se a demonstrar que o glifosato estaria presente, em doses mais elevadas, em doentes crônicos (humanos ou animais) do que em sadios (bit.ly/4apTIC7). No entanto, estão ausentes na publicação informações mínimas necessárias para garantir a confiabilidade do estudo. Não é definido o que são doentes crônicos, não se indica o tipo e quantidade de alimento, o manejo dos animais, ou a idade, sexo, peso, altura ou antecedentes genéticos dos humanos, o que e quanto comeram, se lavaram os alimentos, há quanto tempo suas dietas eram orgânicas ou convencionais, e outros aspectos que poderiam interferir nos resultados. Ou seja, há tantos vieses e condicionantes que não há como corroborar as afirmativas contidas no artigo.
Um estudo investigou a ocorrência de inflamações estomacais e aumento do útero em porcos alimentados com OGMs (bit.ly/4apAzk2). O artigo foi duramente criticado por cientistas, mostrando não apenas bias na análise (bit.ly/41ljcN3) como afrontas às conclusões de outros cientistas, americanos (bit.ly/3RF4Tzz), europeus (bit.ly/3GII0oz) e chineses (bit.ly/3RJyBn2). O artigo enviesou a análise de resultados de inflamações estomacais e cita, mas não discute, a redução de 50% de anormalidades cardíacas em porcos alimentados com OGMs. Variáveis intervenientes do ambiente ou do sistema de produção de OGMs não foram levadas em consideração (bit.ly/3tsIOed), assim como a alta prevalência de outras doenças nos porcos, apesar de sua possível interferência nos resultados (bit.ly/48nnaqR).
Os autores do artigo alegam haver encontrado a proteína Cry1Ab (presente em variedades Bt, resistentes a insetos) no sangue de grávidas e respectivos fetos (bit.ly/474MOzk). Utilizando os números dos autores, seria necessário o consumo diário de milho Bt entre 0,49 e 5,8 kg, para atingir os teores encontrados no sangue. O limite de detecção do método é de 1ng/ml, porém os autores referem valores de 0,04 ng/ml, indicando a inadequação do teste de Elisa utilizado pelos autores (bit.ly/3NtgK1d), o que pode ter gerado falsos positivos. Importante: seres humanos não possuem receptores para ligação da Cry1Ab, que é inócua aos nossos organismos.
Ativistas acenam com o risco de incorporação do DNA de OGMs, em seres humanos (bit.ly/4aoxMqW), citando um estudo de Sandor Spisak e coautores (bit.ly/46VU4xn). A leitura do artigo de Spisak mostra que os autores não concluem que genes de eventos transgênicos transfiram-se para humanos. Na realidade, foram detectados genes de alimentos OGMs em plasma humano, concluindo que flutuam no espaço intercelular, sem integração ao genoma. Até porque, se o gene de um vegetal ou animal OGM pudesse ser assim translocado, todo o genoma de vegetais e animais consumidos pelos humanos o seria. Uma análise interessante sobre o tema foi publicada por Layla Katiraee, geneticista molecular humana, professora da Penn State University (bit.ly/3H3QV4p).
Um artigo identificou tumores em ratos alimentados com OGMs e / ou expostos ao glifosato por longo prazo (bit.ly/41mRiQy). Mas a cepa de rato usada era predisposta a tumores! O estudo não contém análises estatísticas e utilizou poucas cobaias (ratos), impossibilitando afirmar se os tumores eram devido à comida, ao herbicida ou ao fato de que a cepa de ratos desenvolveria tumores independente da comida. O editor da revista que publicou o artigo alertou que o mesmo seria retirado pelas inconsistências, o que levou a uma retratação pública dos autores (bit.ly/3tpVNgH e bit.ly/3v1avv9) na mesma revista.
Um estudo in vitro (bit.ly/3RGMmTB) investigou o efeito de doses de glifosato em duas linhagens de células de câncer de mama: uma sensível ao estrogênio e a outra não. O resultado indicou que o glifosato tem um impacto semelhante ao estrogênio no crescimento do câncer de mama, porém sem diferenças para os resultados obtidos nos controles, e sem impacto na proliferação da linhagem não sensível a hormônios. O resumo do artigo chama a atenção para a necessidade de estudos em animais para comprovação dos efeitos. Os resultados contrariam o obtido em outro estudo (bit.ly/41rpYkw), que demonstrou atividade inibitória do glifosato no crescimento de células cancerígenas, causando apoptose das mesmas, porém sem afetar células normais.
Informações científicas adicionais podem ser obtidas no blog do professor Wayne Parrot, da Georgia University (bit.ly/48gxmRK). O avanço inexorável das redes sociais é um campo fértil para a propagação de mitos, inverdades, meias verdades, distorções e interpretações indevidas, dissociadas da boa Ciência. Nossa recomendação é sempre questionar as informações veiculadas, cotejando-as com fatos científicos produzidos por cientistas sérios, vinculados a instituições idôneas, publicados em revistas científicas conceituadas. Contribua com a informação correta: nunca repasse uma informação que não foi devidamente verificada, por mais crível que possa parecer.
Fonte: CCAS
◄ Leia outras notícias