Publicado em: 20/12/2013 às 01:00hs
2013 é o ano em que a adoção de transgênicos no Brasil completou 10 anos. Esse cálculo leva em consideração a autorização, em 2003, do plantio de soja geneticamente modificada (GM) no país. Ao longo dessa década, a adoção não parou de crescer. Inicialmente com apenas uma variedade disponível, hoje o Brasil conta com 37 tecnologias que oferecem ao agricultor, além de opções em soja, eventos transgênicos de algodão, milho e feijão. E se, a princípio, os organismos geneticamente modificados (OGM) despertaram alguma dúvida, atualmente diversos estudos científicos respaldam a avaliação da comunidade acadêmica internacional de que esses alimentos são, no mínimo, tão seguros quanto suas versões convencionais.
É importante ressaltar que os estudos de biossegurança dos transgênicos precederam, em muitos anos, o início de sua adoção no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Antes mesmo de os primeiros eventos GM serem desenvolvidos em laboratórios na década de 1980, a segurança das proteínas codificadas pelos genes inseridos era amplamente conhecida. A tecnologia de controle de insetos por meio do uso de toxinas da bactéria do solo Bacillus thuringiensis (Bt) é um exemplo histórico. A mesma já era conhecida desde meados do século passado e usada como método alternativo ao uso de inseticidas. Por meio da biotecnologia, o gene que expressa esta proteína foi introduzido em plantas e tornou-as resistentes a insetos. Além do controle mais eficiente, a modificação genética resultou na redução do número de aplicações de defensivos químicos e, consequentemente, do uso de água e combustível, significando vantagem para o meio ambiente.
A outra característica incorporada às variedades disponíveis atualmente no Brasil é a tolerância a herbicidas, fundamental para garantir a estabilidade da produção agrícola, especialmente àquela praticada em clima tropical. Os cultivos tolerantes facilitaram o manejo da lavoura, reduziram as perdas em decorrência de plantas invasoras e, com isso, elevaram o lucro dos agricultores. Isso tudo foi feito em consonância com práticas conservacionistas, a exemplo do cultivo mínimo e do plantio direto. Portanto, é correto dizer que, além dos benefícios socioeconômicos, os transgênicos tolerantes a herbicidas também trouxeram ganhos ambientais como a redução da perda de solo e matéria orgânica.
Se nos últimos 10 anos a agricultura se consolidou como um segmento de destaque na economia brasileira, parte do mérito é do empreendedorismo do agricultor e do arrojo da pesquisa nacional, ambos comprometidos com o aumento da produtividade e a preservação do meio ambiente. Neste cenário, nenhuma outra tecnologia teve uma adoção tão rápida e um benefício tão evidente como o uso dos transgênicos. Eles começaram a ser plantados há uma década e hoje representam cerca de 92% de toda a soja cultivada no país, 81% do milho e 47% do algodão. Entretanto, a contribuição da transgenia para o bom desempenho da agricultura brasileira não teria acontecido caso o país não contasse com um marco regulatório consolidado. Desde 2005, a lei de Biossegurança (11.105/05) estabelece de forma clara que compete à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a análise de OGMs. O constante e criterioso trabalho da comissão elevou o Brasil à categoria de modelo na avaliação de biossegurança e possibilitou a aprovação do único produto GM do mundo inteiramente desenvolvido por uma instituição pública: do feijão da Embrapa resistente ao vírus do mosaico dourado.
Dessa maneira, na próxima década de transgênicos no Brasil, podemos esperar pesquisa e desenvolvimento de novas variedades (cana-de-açúcar, citros, eucalipto) e características (tolerância a outros herbicidas, a estresses hídricos e solos salinos). Se continuar investindo em inovação, adoção e diversificação, o país poderá exercer o papel estratégico de provedor global de gêneros agrícolas de maneira sustentável.
Marcelo Gravina - Graduado em Agronomia, possui mestrado em Microbiologia Agrícola e do Ambiente, ambos pela Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRGS), e doutorado em Fitopatologia e Biologia Molecular pela University of Wisconsin. É professor associado da UFRGS e conselheiro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).
Fonte: Monsanto em Campo
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