Transgênicos

Avaliações sobre a adoção da tecnologia transgênica no mercado do milho no Brasil

O uso de OGMs (organismos geneticamente modificados) na agricultura introduziu no setor um novo paradigma tecnológico, destes que acontecem periodicamente e representam um novo patamar, após o qual todo o setor se reorganiza e novos sistemas de produção podem ser desenvolvidos


Publicado em: 24/12/2009 às 10:56hs

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Apesar das divergências, em alguns casos mais acentuadas e em outros menos, entre os favoráveis e os contrários a essas novas tecnologias, gradativamente elas se consolidam e passam a influenciar o agronegócio, que, por sua vez, se adapta às novidades.

Estamos finalizando no Brasil o plantio da primeira safra em que a tecnologia dos OGMs tem condições de ser utilizada de forma significativa pelos produtores de milho, após a batalha que foi travada até a autorização, pelos órgãos públicos, dos eventos transgênicos a serem introduzidos em cultivares de milho. Para a safra de verão de 2009/10 no Centro-Sul, foi disponível o fornecimento adequado de sementes de milho, o que permite uma primeira avaliação de sua adoção pelos agricultores. Para esta safra, já estavam disponíveis 87 cultivares de milho com resistência a insetos derivada de eventos transgênicos, o que, ao lado de 225 outras cultivares convencionais, garantiu a liberdade de escolha dos agricultores.

Os dados mais confiáveis sobre a quantidade comercializada de sementes de milho no Brasil são compilados pela APPS (Associação Paulista dos Produtores de Sementes e Mudas), a partir de informações fornecidas pelas principais empresas produtoras de sementes de milho. A partir dessas informações, é possível derivar algumas características que irão condicionar o desenvolvimento da tecnologia dos transgênicos no mercado de sementes de milho no Brasil. Deve-se ressaltar que as informações disponíveis referem-se principalmente a lavouras de milho localizadas no Centro-Sul do Brasil, tendo em vista que as lavouras de milho do Nordeste (à exceção de parte da Bahia, do Maranhão e do Piauí) são plantadas somente nos primeiros meses de 2010.

A primeira característica marcante é a concentração dos transgênicos de milho em sementes de híbrido simples (uma quantidade reduzida de sementes de híbridos triplos foi comercializada). Embora esse tipo de híbrido ocupe uma parcela cada vez maior no mercado de sementes no Brasil (nos EUA e na Argentina, domina praticamente todo o mercado), ainda existe um percentual grande de área plantada com híbridos duplos e com triplos e variedades (além de uma parcela difícil de ser avaliada, que diz respeito aos plantios com sementes dos próprios agricultores), o que de certa forma estabelece um teto para a penetração dos transgênicos. O percentual do mercado de sementes atendido com híbridos simples varia entre estados: 93% na Bahia (região de Barreiras); 72% em São Paulo e em Goiás; 70% no Paraná; 57% em Minas Gerais; 50% em Santa Catarina; e 46% no Rio Grande do Sul. Somente essa dispersão ilustra a forma como a tecnologia poderá se disseminar entre os agricultores em diferentes regiões.

Um aspecto interessante verifica-se em estados como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Nestes, a participação dos híbridos triplos transgênicos no total comercializado é relativamente mais elevada (13 e 15%, respectivamente para o RS e SC), indicando que o efeito preço da semente pode exercer um papel relevante para alavancar o uso das cultivares transgênicas em regiões com menor utilização de híbridos simples. Ainda com relação ao efeito preço da semente, existem informações sobre redução de preços em negociações individuais para compra de sementes de milho transgênico para uso na safrinha, efetivamente reduzindo o valor referente ao custo da tecnologia.

Outro aspecto importante refere-se à gravidade dos danos causados por insetos controláveis pelos eventos transgênicos. Em regiões onde esses danos são menos relevantes ou os insetos-praga são passíveis de serem controlados a um custo relativamente baixo, a difusão das cultivares com características transgênicas pode apresentar menor dinamismo. Uma forma de verificar tal situação é quantificar, nos dados da APPS, a percentagem de sementes de híbridos simples comercializadas que apresentam eventos transgênicos em cada estado. O resultado também varia: 64% em São Paulo; 60% na Bahia (região de Barreiras) e em Goiás; 55% em Minas Gerais; 50% no Paraná; e ao redor de 43% no RS e em SC. Esse resultado retrata melhor o comportamento de adoção dos agricultores, pois considera um ambiente mais homogêneo (no caso, o dos agricultores que adotam a tecnologia dos híbridos simples). Nesse caso, aparentemente existem regiões onde, dentro de um mesmo padrão tecnológico, as cultivares transgênicas seriam de mais interesse para os agricultores.

Combinando os dois aspectos, a participação das cultivares transgênicas na safra de verão no Centro-Sul do Brasil chegou a 33% das sementes vendidas. Essa adoção variou entre estados: 50% em São Paulo; 45% em Goiás; 37% no Paraná; 33% em Minas Gerais; e entre 22% e 25% no RS e em SC. Algumas correções são necessárias, se considerarmos a ainda existência de agricultores que utilizam as sementes “de paiol”, que reduziriam um pouco o percentual. De qualquer forma, é um bom indicativo do início da difusão da tecnologia transgênica no caso do milho no Brasil. Falta avaliar o comportamento na safrinha, mais isto somente será possível após o fechamento das informações para verificação do interesse dos agricultores, frente às condições de produção que ocorrem nesta época de plantio.

De qualquer forma, a difusão da tecnologia de OGMs no Brasil apresenta um desempenho muito superior à verificada em outros países. No caso dos Estados Unidos, o percentual ao redor de 30% somente foi alcançado seis anos após as primeiras liberações e, na Argentina, foi alcançado três anos após o lançamento das cultivares transgênicas de milho.

João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte - Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Fonte: Embrapa Milho e Sorgo

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