“Plantemos a roça.

Lavremos a gleba.

Cuidemos do ninho,

do gado e da tulha.

Fartura teremos

e donos de sítio

felizes seremos.”

 

O trecho acima, do poema “O cântico da terra”, de Cora Coralina (1889-1985), reflete um aspecto da vida rural. Mas quem lida com o campo sabe que o contato com a terra é histórico e tem muita perspectiva de um futuro promissor.

 

Assim como um agricultor espera para colher o fruto cultivado na hora certa, Grasiele Cardoso Orlando, de 18 anos, esperou ansiosamente pelo resultado do vestibular. Prestou duas provas, ambas em universidades públicas e renomadas do País. E o fruto colhido foi o primeiro lugar no curso de Engenharia Agronômica, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).

 

Medicina, jornalismo ou agronomia?

 

Diante de tantas possibilidades, o que pesou na hora da escolha de Grasiele foram as lembranças da infância. Nascida e criada em Piracicaba, interior de São Paulo, foi no município de Anhumas, região de Presidente Prudente, onde a jovem passou finais de semana e férias no sítio do avô.

 

“A gente ia pelo lazer, mas desde os oito anos eu já queria cuidar dos animais e das plantas com meu avô. Ele ficou todo orgulhoso quando disse que passei em agronomia”, conta feliz a nova estudante da USP. Estudando pelo menos oito horas por dia, Grasiele foi incentivada por amigos a ser médica e ela mesma cogitou ser jornalista.

 

Mas com facilidades em disciplinas, como química e biologia, a jovem acredita que seguirá por caminhos parecidos na profissão escolhida. “Vou conhecer esse mundo agora, mas gosto muito de zootecnia e genética. Pode ser que eu me especialize nessa área”, diz ela.

 

A família apoia no que for preciso. Com uma irmã mais nova e pais que não tiveram a oportunidade que Grasiele está tendo, de poder frequentar uma universidade, ela é motivo de orgulho.

 

“Meu pai é metalúrgico e minha mãe empregada doméstica. Estudei em escola pública e depois consegui bolsa no ensino médio em uma escola particular”, um exemplo para jovens Brasil afora.

 

Colégio e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

 

No Colégio Luiz de Queiroz (CLQ) foi onde Grasiele se preparou para o vestibular. Luiz de Queiroz também dá nome à escola de agricultura da USP, que completou 110 anos em 2011. O homenageado foi um agricultor brasileiro que, doando a fazenda para o Estado, em 1892, fez um único pedido, que em até dez anos fosse criada uma escola agrícola. Doação aceita e pedido realizado. Em 1901 nascia a escola que recebe hoje a estudante promissora.

 

Da Esalq já saíram mais de 13 mil profissionais ligados à agricultura. Destes, mais de 10 mil são formados em Engenharia Agronômica. A instituição é referência no País, 31 cargos públicos relacionados ao agro foram ocupados por ex-esalqueanos. E é de lá que, daqui a cinco anos Grasiele Cardoso Orlando sairá agrônoma, tratando a terra com o mesmo amor e carinho quando brincava na infância no sítio do avô.