Publicado em: 14/01/2025 às 12:30hs
Cientistas da Embrapa Instrumentação (SP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveram uma nova tecnologia para a produção de filmes bioplásticos a partir de cascas de banana, com a possibilidade de aplicá-los como embalagens ativas para alimentos. O processo, simples e de baixo custo, utiliza apenas água ou uma solução ácida diluída como pré-tratamentos, sem gerar resíduos. A pesquisa, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), revela que os filmes obtidos apresentam excelentes propriedades antioxidantes e uma proteção eficaz contra radiação ultravioleta (UV), o que pode ajudar a prolongar a vida útil dos alimentos.
A banana, uma das frutas mais cultivadas no mundo, gera uma grande quantidade de subprodutos que, frequentemente, são descartados ou subutilizados, gerando impactos ambientais negativos. Para cada tonelada de banana processada, até 417 kg de cascas podem ser gerados. Aproveitar esses resíduos para criar filmes bioplásticos representa uma solução inovadora para reduzir o desperdício e, ao mesmo tempo, valorizar os compostos bioativos presentes nas cascas, como fenólicos e pectina.
Segundo o engenheiro químico Rodrigo Duarte Silva, responsável pela pesquisa, a transformação das cascas de banana em bioplásticos não apenas reduz o impacto ambiental do descarte inadequado, mas também contribui para a diminuição do uso de plásticos não biodegradáveis. "O aproveitamento da casca de banana como filme bioplástico é uma oportunidade de agregar valor a um resíduo e contribuir para a sustentabilidade", destaca Silva.
Os pesquisadores utilizaram cascas de banana da variedade Cavendish, a mais consumida no mundo, para desenvolver o bioplástico. O processo incluiu secagem e moagem das cascas, que foram transformadas em pó. Dois tipos de pós foram preparados: um a partir de cascas não branqueadas, que escureceram durante a secagem devido à ação de enzimas, e outro de cascas submetidas a um processo de branqueamento para inativar essas enzimas.
Os filmes foram produzidos com diferentes pré-tratamentos, como o hidrotérmico (com água) e o tratamento com solução diluída de ácido sulfúrico. Além disso, foi testada a adição de carboximetilcelulose, um polímero biodegradável derivado da celulose, para melhorar as propriedades dos filmes. O processo de preparação, realizado em autoclave a 121°C por apenas 30 minutos, revelou-se eficiente na transformação das cascas em bioplásticos com boas propriedades mecânicas e funcionais.
Os filmes bioplásticos desenvolvidos pelos pesquisadores apresentaram várias vantagens. Além de suas propriedades antioxidantes, retendo pelo menos 50% da atividade antioxidante da matéria-prima inicial, os filmes demonstraram alta eficácia na proteção contra radiação UV, bloqueando mais de 98% da radiação UVA e mais de 99,9% da radiação UVB. Esses benefícios são essenciais para evitar a oxidação de alimentos e prolongar sua durabilidade. O estudo revelou também que alguns dos filmes produzidos possuíam superfícies hidrofóbicas, uma característica útil para evitar a absorção de água, uma qualidade importante para o uso em embalagens de alimentos.
Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, destacou que as cascas de banana pré-tratadas hidrotermicamente surgem como uma biomassa promissora para a produção de bioplásticos sustentáveis. "Esses filmes podem contribuir para a transição para uma bioeconomia circular e ajudar na preservação de alimentos, ao mesmo tempo em que reduzem o desperdício de recursos naturais", afirmou Azeredo.
O desenvolvimento do bioplástico a partir de cascas de banana está em andamento, com a previsão de ampliação para escala piloto nos próximos 18 meses. O objetivo é tornar o processo mais atrativo para a indústria, tornando-o ainda mais eficiente e aplicável em larga escala. Os pesquisadores também destacam que a diversificação dos produtos obtidos a partir da biomassa da banana pode ampliar as opções de uso e tornar a tecnologia ainda mais relevante no setor de embalagens sustentáveis.
Este estudo abre novas possibilidades para a produção de bioplásticos de baixo custo, utilizando resíduos agroalimentares, e marca um avanço importante na busca por alternativas sustentáveis à crescente problemática dos plásticos convencionais.
Fonte: Portal do Agronegócio
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