Publicado em: 09/09/2024 às 16:00hs
Em uma inovação inédita no Brasil, cientistas realizaram o sequenciamento completo do genoma do cupuaçu (Theobroma grandiflorum), uma fruta emblemática da Amazônia. Este avanço representa um marco no campo da engenharia genética, possibilitando a identificação e manipulação de genes responsáveis por características desejáveis, como resistência a doenças e aumento da produtividade. Além disso, o estudo permite mapear bactérias benéficas que protegem a planta, promovendo o desenvolvimento de variedades mais resilientes e sustentáveis.
A pesquisa foi liderada pelo professor Alessandro Varani, especialista em bioinformática e genômica da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em colaboração com o professor Vinícius Abreu da Faculdade de Computação da Universidade Federal do Pará (UFPA), e o pesquisador Rafael Alves, da Embrapa Amazônia Oriental (PA), além de cientistas da Universidade de São Paulo (USP). O estudo recebeu apoio financeiro das Fundações Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os cientistas conseguiram decodificar 31.381 genes distribuídos por 10 cromossomos, revelando, entre outras descobertas, uma semelhança genética de 65% entre o cupuaçu e o cacau (Theobroma cacao). Entre os achados mais significativos está a identificação de genes relacionados à produtividade dos frutos e à defesa contra a vassoura-de-bruxa, uma doença causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa.
O estudo também destacou a presença de bactérias naturais, especialmente do grupo Actinomycetota, nas folhas do cupuaçu. Essas bactérias produzem substâncias que auxiliam na defesa da planta contra patógenos, fortalecendo sua saúde e resistência.
O professor Varani enfatiza a importância do estudo como um exemplo do potencial da ciência brasileira. “Esse é, possivelmente, um dos primeiros artigos a descrever o genoma completo de uma planta da nossa biodiversidade, telômero a telômero”, celebra Varani. Ele ressalta que a compreensão detalhada dos genes permitirá o desenvolvimento de variedades de cupuaçu mais resistentes a doenças, promovendo a proteção da produção e a preservação da planta como um recurso vital para a bioeconomia amazônica, incluindo o mercado de alimentos e cosméticos.
O pesquisador Rafael Alves, da Embrapa, destaca que a decodificação genômica pode acelerar resultados que, tradicionalmente, levariam décadas para serem alcançados. A nova tecnologia promete otimizar recursos e impactar positivamente a economia. Alves explica que a seleção de mudas com características desejáveis, identificadas já nas primeiras brotações, permitirá investimentos mais assertivos em cultivares com alto padrão de sanidade, produtividade e resiliência ambiental.
O professor Vinícius Abreu da UFPA observa que, apesar das dificuldades impostas pela pandemia, o uso de técnicas avançadas de sequenciamento permitiu a formação de um genoma completo do cupuaçu, demonstrando o potencial da bioeconomia na Amazônia. Ele acredita que essas descobertas abrirão novas possibilidades para o aprimoramento da produção de polpa, qualidade do cupulate (chocolate de cupuaçu) e extração de óleos com maior valor agregado, beneficiando tanto a indústria alimentícia quanto a de cosméticos. Abreu ressalta que o desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições específicas da região contribuirá para a conservação dos ecossistemas locais, promovendo um equilíbrio entre produção agrícola e preservação ambiental.
O artigo completo sobre o sequenciamento genético do cupuaçu foi publicado na revista GigaScience, da editora Oxford Academic. O estudo é um exemplo notável do avanço da biotecnologia e seu impacto potencial na bioeconomia da Amazônia.
Com uma área plantada de 8.900 hectares e produção anual de 29 mil toneladas, o cupuaçu desempenha um papel significativo na economia do Pará, envolvendo cerca de 1.400 propriedades. A demanda crescente por polpa e manteiga de cupuaçu, utilizada na indústria de cosméticos, reforça a importância da pesquisa. A cooperativa C.A.M.T.A, localizada em Tomé-Açu, o maior polo produtor da fruta, já enfrenta uma demanda superior à sua capacidade de entrega.
O estudo “Bioeconomia da Sociobiodiversidade no Estado do Pará” prevê uma geração de mais de R$ 170 bilhões com a produção e comercialização do cupuaçu até 2040, destacando a fruta entre os produtos com maior potencial econômico. Este panorama sublinha o impacto positivo das inovações genéticas na cadeia produtiva do cupuaçu e seu papel crucial no desenvolvimento econômico sustentável da região amazônica.
Fonte: Portal do Agronegócio
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