Publicado em: 28/08/2020 às 14:40hs
O projeto “Biologia e Etnociências: o que sabemos sobre os moluscos bivalves explorados no litoral do Paraná?”, coordenado pela bióloga e docente Yara Aparecida Garcia Tavares da UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná) - campus de Paranaguá está avaliando os dados do Monitoramento da Atividade Pesqueira no Estado do Paraná desenvolvido pela Fundepag (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio), parceira deste projeto. Um dos objetivos é traçar um panorama da pesca para que possa servir como instrumento-base para futuros planos de uso, manejo e gestão da exploração dos moluscos bivalves (ostra, mexilhão, sururu, berbigão e almeja). O projeto foi desenhado principalmente pela preocupação sobre a inexistência, até então, de dados oficiais sobre a extração desses animais e suas consequências sobre os ecossistemas estuarinos.
O litoral paranaense terá os primeiros registros sobre as dinâmicas destas pescarias, o que contribui significativamente para o desenvolvimento de mecanismos que permitam adequações na gestão pesqueira em âmbito regional e nacional, bem como o aprofundamento das pesquisas sobre a biologia das espécies e a pressão das capturas sobre esses recursos vivos.
“A pressão das capturas, as mudanças na qualidade dos habitats aquáticos e o desconhecimento biológico sobre esses recursos vivos explorados são fatores a serem monitorados a curto e médio prazo”, afirma a bióloga. “Nas últimas duas décadas, a crescente atividade turística, a degradação dos habitats costeiros são fatores que comprometem o frágil equilíbrio sócio-econômico-ambiental. Além disso, o modo de vida dos pescadores e sua relação com os ecossistemas existentes devem ser valorados, pois compõe parte de um cenário corriqueiro, ainda que com particularidades regionais, para toda a linha de costa brasileira”, avalia.
A pesquisadora aponta que os moluscos bivalves também são importantes organismos bioindicadores da qualidade ambiental. O descarte irregular de água residual e esgoto, bem como poluentes na bacia hidrográfica litorânea, trazem riscos às características naturais e à qualidade dos habitats. “Impactos antrópicos como fluxo de embarcações, avanço das habitações na linha costeira, descarte de lixo, degradação da vegetação de manguezais e marismas das planícies lamosas que margeiam o complexo estuarino Baía de Paranaguá, também são condições que podem afetar a capacidade de sobrevivência das populações naturais de bivalves e precisam ser amplamente debatidas”, avalia.
O desequilíbrio dos ecossistemas também traz risco adicional à saúde das populações caiçaras e urbanas, uma vez que parcela significativa da proteína animal consumida provém de produtos da pesca (peixes, crustáceos e moluscos).
A proposta do projeto, que tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, é fomentar o conhecimento acadêmico e difundi-lo para a sociedade, como forma de sensibilização para a exploração sustentável dos recursos renováveis. As ações da iniciativa pretendem atingir atores variados, como corpo técnico de instituições governamentais, acadêmicos e pós-graduandos das áreas das Ciências da Natureza, profissionais de áreas afins, associação de pescadores e maricultores e comunidades em geral.
“A visão de conservação dos ecossistemas costeiros deve estar atrelada à sensibilização ambiental do homem, caiçara ou não, do meio que o cerca”, aponta a pesquisadora.
O projeto tem duração prevista de três anos. A partir do segundo ano (meados de 2021), serão produzidas duas cartilhas sobre as espécies de moluscos comercialmente exploráveis, na tentativa de popularizar um conhecimento de biologia básica junto às comunidades. O material será produzido em formato digital e impresso, para amplificar a divulgação. Com o material pronto, algumas capacitações com os agentes do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-PR) serão realizadas, para que possam transmitir esse conhecimento aos pescadores. Ao final do projeto, duas exposições serão organizadas, uma itinerante, destinada às escolas e comunidades, e outra sobre a arte da pescaria desses recursos, que será realizada no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Os moluscos bivalves são animais invertebrados aquáticos, sendo muitas espécies comestíveis e conhecidas popularmente como ostras, mariscos, mexilhões, sururus, berbigões, vieiras, entre outros. Os organismos utilizados para alimentação podem ser cultivados tanto no ambiente marinho como estuarino, a depender da biologia da espécie. Mundialmente os maiores países produtores ainda concentram-se na Ásia, Europa e EUA. No Brasil, a atividade ainda tem grande potencial de desenvolvimento, desde que seja realizada de forma sustentável. Os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro estão entre os principais produtores.
Fonte: Fundação Grupo Boticário
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