Pesquisas

Intercâmbio de Conhecimentos: Delegação Holandesa Conhece Tecnologias Sustentáveis no Brasil

Representantes do Reino dos Países Baixos visitam a Embrapa Cerrados para entender inovações agrícolas e práticas de sustentabilidade


Publicado em: 27/09/2024 às 17:30hs

Intercâmbio de Conhecimentos: Delegação Holandesa Conhece Tecnologias Sustentáveis no Brasil

Uma delegação composta por conselheiros, assessores agrícolas e representantes do Ministério de Assuntos Econômicos do Reino dos Países Baixos esteve na Embrapa Cerrados, em uma visita que reforça a troca de conhecimentos sobre práticas agrícolas sustentáveis. Ramon Gerrit, assessor agrícola da Embaixada dos Países Baixos em Brasília, ressaltou a importância de fornecer informações diretas sobre a agricultura brasileira, uma vez que, segundo ele, “nos Países Baixos, as pessoas são muito interessadas, mas pouco informadas sobre o que acontece no Brasil em termos de agricultura”.

Este foi o terceiro encontro entre os representantes holandeses e o centro de pesquisa neste ano. Durante a visita, o pesquisador Edson Sano apresentou tecnologias que têm garantido a produtividade no Cerrado. Um dos destaques foi o sistema de irrigação, que conta com cerca de 1.800 pivôs centrais na região Centro-Oeste, essencial para garantir a viabilidade das lavouras durante os seis meses de seca que caracterizam o bioma.

Sano também abordou o sistema de plantio direto, que permite a semeadura no solo sem revolvimento, ao contrário do preparo convencional, que envolve aração ou gradagem. Hoje, mais de 50% das áreas agrícolas no Brasil utilizam essa técnica, abrangendo mais de 12 milhões de hectares cultivados com grãos.

Outra tecnologia em destaque foi a integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que oferece conforto térmico aos animais, favorece o sequestro de carbono e diversifica a renda dos produtores. Essa abordagem não apenas aumenta a produtividade da lavoura e da pastagem, mas também reduz a erosão do solo.

Sano explicou que a adoção dessas tecnologias permite que o Brasil amplie sua produção sem a necessidade de abrir novas áreas. Ele enfatizou a importância das ferramentas de sensoriamento remoto para o monitoramento da produção agrícola e do desmatamento no país. “Devido à grande diversidade da flora brasileira, temos dificuldades para mensurar a biomassa da vegetação nativa e contabilizar o sequestro de carbono em caso de sua supressão. A variação nas datas de plantio e os diferentes estádios das culturas dificultam ainda mais os estudos de monitoramento por satélite”, elucidou.

No entanto, Sano destacou que novos satélites, que estarão disponíveis em breve, aperfeiçoarão essa análise ao permitir a identificação de oito níveis distintos de biomassa e a captura de imagens em qualquer condição climática, incluindo períodos nublados, que atualmente representam um desafio para a pesquisa.

Avaliação biológica dos solos brasileiros

O pesquisador Fábio Bueno também apresentou a BioAS, um resultado de duas décadas de pesquisa da Embrapa Cerrados. Ele destacou a importância da análise dos componentes biológicos do solo, pois esses elementos são os mais sensíveis às mudanças de manejo. A equipe da Embrapa constatou que os solos mais saudáveis, com maior atividade biológica e matéria orgânica, geralmente estão sob manejos mais sustentáveis, como os sistemas integrados de lavoura e pecuária. Essas áreas tendem a apresentar menor quantidade de nematoides, utilizar os nutrientes de forma mais eficiente e produzir alimentos de melhor qualidade.

Anna Gabriella Ferreira, assistente de gestão do Departamento Agrícola da Embaixada em Brasília, mencionou que os visitantes ficaram impressionados com a BioAS, que oferece parâmetros mais avançados e eficientes do que os métodos atualmente utilizados para a avaliação do solo.

Segundo Bueno, solos com baixa atividade enzimática podem estar em processo de adoecimento, mesmo que apresentem níveis adequados de matéria orgânica. “As enzimas atuam como sensores que indicam problemas de manejo que podem impactar a saúde do solo. Essa situação ocorre em áreas onde não há diversificação ou rotação de culturas”, esclareceu. Em contrapartida, solos que mostram alta atividade biológica e baixa matéria orgânica podem ser considerados em recuperação, refletindo boas práticas de manejo que priorizam a conservação do solo após um período de práticas inadequadas.

A pior situação, que indica baixa capacidade de ciclagem e armazenamento de nutrientes, frequentemente resulta de práticas inadequadas de manejo ao longo dos anos. “Sabemos que solos saudáveis produzem mais e são mais resilientes, por isso é fundamental que os agricultores estejam atentos a esses novos parâmetros que estamos introduzindo”, enfatizou Bueno.

Ele ainda informou que a equipe deve concluir, até 2025, os protocolos da BioAS para cultivos de café, cana-de-açúcar, pastagens e eucalipto, além de expandir a rede de laboratórios credenciados para que mais produtores tenham acesso à tecnologia.

Ao final da programação, os visitantes conheceram a pesquisa sobre trigo irrigado, realizada com o uso de pivô central. Os representantes holandeses notaram que, em sua região, essa forma de irrigação não é utilizada, sendo mais comuns os métodos de gotejamento e aspersão. Jorge Chagas, pesquisador da Embrapa Trigo, abordou a irrigação da cultura, a utilização da água e a produtividade e qualidade do trigo produzido no Cerrado.

Ria Hulsman, gerente regional da América Latina e Caribe da Universidade Wageningen, expressou sua surpresa ao conhecer as inovações apresentadas. “Eu não conhecia esse trabalho de melhoramento do trigo e fiquei muito impressionada com o conhecimento de vocês sobre a biologia do solo”, afirmou.

Ramon Gerrits destacou que a missão da Embaixada é informar os holandeses sobre a agricultura brasileira, uma tarefa essencial diante de muitos mal-entendidos existentes na Europa sobre o que ocorre no Brasil em termos de agricultura e desmatamento. “Para mim, como assessor agrícola, é fundamental mostrar a sustentabilidade da agricultura brasileira, que é realizada com conhecimento e de maneira sustentável. O Brasil é o futuro da agricultura, e este centro de pesquisa exemplifica as boas práticas e o conhecimento gerado aqui”, concluiu.

Fonte: Portal do Agronegócio

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