Publicado em: 13/03/2025 às 13:30hs
A união entre ciência e saberes tradicionais resultou em dois produtos inovadores à base de coco babaçu, que não apenas atendem às crescentes demandas por alimentos naturais e ricos em proteínas, mas também promovem a sustentabilidade e o fortalecimento de economias locais. Entre as novidades, destaca-se o hambúrguer vegetal, criado a partir da amêndoa de babaçu, que possui 13,17% de proteína por 100g, considerado ideal para esse tipo de alimento. O produto não contém conservantes e pode ser armazenado por até seis meses congelado.
Desenvolvido por um esforço conjunto entre cientistas e quebradeiras de coco da Amazônia Maranhense, o hambúrguer e outros produtos derivados do babaçu, como farinha de amêndoas e biscoitos, são resultado de parcerias com a Embrapa Maranhão, Embrapa Agroindústria Tropical, UFMA, UFC, e a Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ). O projeto envolveu a participação de mulheres da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar e do Extrativismo do Babaçu (Coomavi), de Itapecuru-Mirim, e de diversas associações de comunidades rurais e quilombolas, com o objetivo de agregar valor ao babaçu e diversificar seus coprodutos.
A iniciativa visa dar visibilidade ao trabalho das quebradeiras de coco e ao babaçu como produto da sociobiodiversidade brasileira, abrindo novos mercados e incentivando o reaproveitamento do bagaço da amêndoa, um resíduo da extração do óleo do coco, transformado em farinha. A farinha, antes descartada, tornou-se base para a produção de hambúrgueres, biscoitos e outros alimentos, o que trouxe mais economia e satisfação aos consumidores.
A pesquisadora Guilhermina Cayres, líder do projeto, enfatiza a integração dos saberes tradicionais com as melhorias técnicas, buscando atender às necessidades específicas das comunidades locais, incluindo a padronização do processo de produção e o cumprimento das boas práticas de segurança alimentar.
O hambúrguer foi desenvolvido com uma abordagem inovadora. Em vez de seguir a metodologia convencional de criar produtos em laboratórios, a pesquisa começou com uma análise das condições locais e das matérias-primas disponíveis nas comunidades. A farinha de amêndoa de babaçu foi escolhida, pois, além de ser rica em lipídios e carboidratos, tem alto valor nutricional e é um excelente substituto para ingredientes comuns em alimentos processados.
A escolha da casca de banana como agente estruturante do hambúrguer também se destacou, pois ela contribui com fibras, vitaminas e minerais, além de ser eficaz na absorção de metais como o cobre. Para dar liga à massa, foi utilizada farinha de arroz, proporcionando uma textura e durabilidade adequadas para o produto, que tem boa aceitação sensorial entre os consumidores.
Os novos produtos passaram por análises sensoriais rigorosas, considerando aspectos como sabor, textura e aparência, e foram aprovados em testes com consumidores locais, incluindo alunos de gastronomia da UFMA. O hambúrguer à base de babaçu e casca de banana se destacou pela aceitação, sendo priorizado entre as quebradeiras de coco para prosseguir com testes e análises adicionais.
Além de enriquecer o portfólio de produtos alimentícios de origem vegetal e vegana, a inovação trouxe impactos sociais significativos. Mulheres envolvidas no projeto receberam treinamento técnico, fortaleceram suas habilidades de produção e passaram a treinar outras integrantes da comunidade, promovendo o empreendedorismo e a autonomia feminina.
O projeto tem gerado um impacto positivo na vida das quebradeiras de coco, que veem suas habilidades e produtos sendo valorizados. Rosângela Licar, da Coomavi, destaca que os produtos estão sendo bem recebidos, tanto por consumidores veganos quanto não veganos, e já são sucesso em feiras de São Luís.
O professor Harvey Villa, da UFMA, observa que a colaboração entre cientistas e quebradeiras de coco contribuiu para o fortalecimento da economia local, abrindo novas oportunidades de mercado e garantindo um preço justo para os produtos. Para Westphalen Nunes, da GIZ, a valorização do babaçu tem gerado mais riqueza e qualidade de vida para as comunidades, com um desenvolvimento sustentável para o Maranhão.
Ao unir saberes tradicionais com inovação científica, o projeto não apenas promove o uso sustentável do babaçu, mas também transforma a vida das mulheres e das comunidades que dependem dessa atividade extrativista, criando um modelo de negócios sustentável e inclusivo.
Fonte: Portal do Agronegócio
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