Pesquisas

Brasil se consolida como líder na exportação de genética bovina leiteira

Avanços em melhoramento genético de bovinos no Brasil promovem internacionalização e reconhecimento na América Latina


Publicado em: 11/11/2024 às 16:00hs

Brasil se consolida como líder na exportação de genética bovina leiteira

Em setembro deste ano, a Embrapa Gado de Leite (MG) enviou ao México a primeira avaliação genômica dos rebanhos da raça Gir Leiteiro naquele país, destacando o Brasil como referência em genética bovina para regiões de clima tropical. Em maio, a instituição já havia realizado a entrega da primeira avaliação genômica internacional para produtores bolivianos, e até o próximo ano, espera-se expandir esse serviço para mais 11 países latino-americanos. Além do México e da Bolívia, países como Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico e República Dominicana também receberão essas avaliações.

“Estamos internacionalizando nossas ações de melhoramento genético do Gir Leiteiro”, afirma Marcos Vinícius G. B. Silva, pesquisador da Embrapa e um dos responsáveis pelo Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL), desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL). Silva ressalta que a exportação da genética bovina traz significativas divisas ao Brasil, solidificando sua posição como referência em genética de bovinos leiteiros em climas tropicais. O presidente da ABCGIL, Evandro Guimarães, complementa que o interesse de outros países nos resultados do PNMGL é um reconhecimento do sucesso técnico-científico do programa, que teve início em 1985.

Até novembro, a Embrapa Gado de Leite deverá receber informações genéticas de 350 rebanhos estrangeiros, totalizando cerca de 3 mil animais. O custo da avaliação genômica é de até US$ 38 por animal. Para acessar o serviço, o produtor deve contatar a associação de criadores de sua raça zebuína em seu país ou a ABCGIL, manifestando sua intenção de realizar a avaliação. Será solicitado ao produtor que envie amostras genéticas — sangue, sêmen ou pelos — a um laboratório especializado indicado pela associação, que fará a genotipagem dos animais. Os resultados serão processados por uma equipe de pesquisadores e de tecnologia da informação.

Os profissionais Guilherme Moura e Matheus Machado, que atuam em parceria com a ABCGIL, destacam que milhões de dados são computados, incluindo pedigree e informações genômicas dos animais. Para esse processamento, a Embrapa Gado de Leite estruturou uma avançada infraestrutura de bioinformática, em colaboração com o Laboratório Multiusuário de Bioinformática, localizado na Embrapa Agricultura Digital (SP). Após a conclusão do trabalho, os dados são enviados à ABCGIL, que repassa as informações aos produtores. Neste ano, a ABCGIL e a Embrapa planejam disponibilizar os resultados das avaliações genômicas por meio de um aplicativo, que permitirá acesso a ganhos genéticos de cada rebanho e a emissão de certificados individuais de avaliação genômica, entre outras funcionalidades.

Além disso, a bovinocultura leiteira tem incorporado novos conceitos, como genômica, bioquímica e informática, transformando o paradigma do melhoramento genético, que, até uma década atrás, se baseava apenas em características fenotípicas dos animais, como conformação do úbere e produção de leite. Hoje, conforme João Claudio Panetto, pesquisador da Embrapa, 95% dos animais registrados anualmente na associação são avaliados por métodos genômicos, assegurando a competência do Brasil na seleção de bovinos leiteiros adaptados às condições tropicais e sustentando a exportação dessa tecnologia. Os técnicos da ABCGIL preveem um aumento exponencial na demanda por esse serviço nos próximos anos.

Avaliação genômica: rapidez e eficiência no melhoramento genético

A seleção genômica, que desperta o interesse de países latino-americanos, representa a mais recente ferramenta no melhoramento genético bovino. Seu desenvolvimento teve início há 16 anos, quando pesquisadores de várias partes do mundo, incluindo a Embrapa, anunciaram na revista Science o sequenciamento do DNA bovino. Três anos após essa conquista, a Embrapa já conseguia identificar diferenças significativas entre animais taurinos (bovinos de origem europeia, como a raça Holandesa) e zebuínos (de origem indiana, como a raça Gir).

Marco Antonio Machado, pesquisador da Embrapa, destaca que o sequenciamento do DNA provocou uma revolução na seleção genética bovina, reduzindo custos e acelerando os programas de melhoramento. O mapeamento do DNA possibilitou a identificação de mais de 5 milhões de SNPs (polimorfismos de nucleotídeo único) específicos para raças zebuínas. Segundo Silva, esses SNPs são marcadores moleculares que determinam as características dos indivíduos. “O DNA é uma sequência de nucleotídeos, e esses polimorfismos são o que distingue um indivíduo do outro”, explica.

Características como ganho de peso, produção, reprodução, resistência a parasitas e estresse térmico podem ser identificadas por meio dos SNPs, que cruzam informações fenotípicas com o genótipo dos animais. A Embrapa, em parceria com a ABCGIL, desenvolveu uma ferramenta baseada em SNPs para o mapeamento genético, selecionando animais com características desejadas. Com a avaliação genômica, é possível mais do que dobrar a velocidade do melhoramento genético a um custo reduzido. Embora o percentual exato de redução de custos varie conforme o país e o sistema de manejo, estudos apontam uma diminuição superior a 50%.

Comparação entre melhoramento genético tradicional e seleção genômica

Desde 2018, a avaliação genômica foi incorporada oficialmente ao Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro, sendo esta a primeira raça zebuína leiteira a adotar essa tecnologia, que agora é exportada para países latino-americanos. A implementação da genômica no processo de seleção aumentou a precisão das estimativas de valores genéticos, especialmente para animais jovens, permitindo a diminuição do intervalo entre gerações e a aceleração do progresso genético da raça.

O quadro abaixo compara os dois modelos de melhoramento: o tradicional (antes da avaliação genômica) e como a seleção genômica otimizou o processo:

quadro-genetica

Fonte: Portal do Agronegócio

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