Publicado em: 06/01/2016 às 01:00hs
Airton Kunz: Doutor em química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e trabalha com temas como tratamento de resíduos da produção animal, biodigestão anaeróbia e remoção de nutrientes
Por: Bruno Saviotti - Jornalista do Projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono
Airton Kunz é doutor em química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e trabalha com temas como tratamento de resíduos da produção animal, biodigestão anaeróbia e remoção de nutrientes. O pesquisador também é professor do programa de pós-graduação em engenharia agrícola da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e participa da Rede Biogás Fert, sendo responsável, entre outras atividades, pela prospecção e mapeamento de resíduos de interesse, avaliação de tecnologias de biodigestores, e desenvolvimento, adaptação e padronização de procedimentos que servirão de base para a realização de análises interlaboratoriais.
Qual a origem da Rede Biogás Fert e os seus principais objetivos?
A rede Biogás Fert é fruto de uma articulação de várias instituições e unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com universidades que culminou em um projeto de pesquisa que temos em desenvolvimento. A rede tem como dois grandes pilares: a Embrapa e a Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional. Está em execução desde 2013 e tem uma forte articulação com várias instituições.
Os principais objetivos são trabalharmos com a cadeia do biogás, desde a caracterização de substratos passando pelo processo de biodigestão, o uso do biogás como fonte de calor e energia e também a caracterização e o uso e o tratamento dos efluentes que saem dos biodigestores, também chamado de biofertilizante. Por fim, passa pela parte final do processo com a saída do biogás.
Qual a importância social do biogás e o tratamento dos dejetos para o produtor? Quais os benefícios?
Extremamente importante, pois, a cadeia do biogás permite a agregação de valor ao produtor pela geração principalmente do biogás que tem a possibilidade de uso e substituição de outras fontes de calor e de energia que tem dentro da sua propriedade rural. Possibilita também benefícios para o produtor, por exemplo, a substituição de fontes de gás que vem do petróleo, utilizando o biogás como fonte de energia dentro da propriedade rural, também para sistemas de aquecimento e de secagem de grãos e de geração de energia elétrica. O próprio uso do biofertilizante, nas atividades agrícolas, quando bem manejado pode reduzir o uso de fertilizantes minerais.
O biogás traz uma série de benefícios para o produtor. É sempre claro ressaltar a importância do correto manejo dos biodigestores, dos dejetos para evitar os impactos ambientais. Nunca podemos esquecer que os efluentes têm um grande impacto ambiental, e podem sim contaminar nossos rios e lençóis freáticos quando não são corretamente manejados.
Na sua opinião, quais as principais barreiras à adoção do tratamento de dejetos animais por parte dos produtores rurais?
A implantação muitas vezes está associada à capacidade dos produtores de investimento, eles não conseguem entender e não têm muita informação sobre as fontes de financiamento para um processo de biodigestão. Muitas vezes também há uma necessidade de capacitação técnica por parte dos usuários e os produtores para o correto uso da tecnologia de biodigestão e das potencialidades e limitações também dessa tecnologia.
Qual o futuro esperado para o biogás e, consequentemente, para a rede Biogás Fert?
Não é por que atuo na área, mas sou bastante otimista em relação às potencialidades do biogás no nosso país. O biogás tem uma história com muitas fases de expansão e de revés. Então é importante entendermos a história para não cometermos os mesmos equívocos. Temos muita coisa positiva acontecendo, no setor enérgico, por exemplo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem resoluções específicas para o biogás. Além disso, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) lançou uma resolução própria para biometano que vem de fontes agrícolas e agroindustriais. Então, tem acontecido entrada de setores do próprio governo para o uso do biogás, e isso ajuda a disciplinar o nosso mercado.
Além disso, é importante ressaltar a riqueza do País, nossa condição tropical, a diversidade de substratos, de resíduos que podemos usar para a geração do biogás. Temos muitas vantagens quando comparamos com outros países que não tem uma potencialidade e diversidade tão grande do ponto de vista material para o processo de biodigestão. É uma vantagem competitiva muito grande que o Brasil possui.
Qual a importância do projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono para a rede?
É fundamental, extremamente importante, acreditamos e compactuamos com o Projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono e nossa rede está completamente conectada com as ações da agricultura de baixa emissão de carbono.
Para mais informações sobre a Rede Biogás Fert acesse o site: http://www.cnpsa.embrapa.br/biogasfert/
Fonte: Projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono
◄ Leia outras entrevistas