Publicado em: 19/08/2021 às 08:25hs
Ela tem um papel essencial na ecologia e saúde do solo e cada vez mais pesquisas tem demonstrado seu potencial para aumentar a produtividade e rentabilidade das lavouras. Entenda mais sobre os benefícios dos microrganismos na agricultura e como potencializar essas comunidades benéficas.
Diferentes funções e inter-relações dos organismos no solo.
(Fonte: SIQUEIRA & TRANNIN, 2003)
A microbiota do solo proporciona uma série de benefícios ecológicos e econômicos, através das suas diferentes interações e funções no agroecossistema. Embora, em um primeiro momento, o pensamento seja de que os microrganismos são um mal a ser combatido, esses seres microscópicos têm um papel muito importante na atividade agrícola.
Eles participam de diversos processos, que vão desde a atividade de decomposição da matéria orgânica que fornece nutrientes às plantas, passando por processos bioquímicos relacionados ao intemperismo dos minerais presentes no solo e a atuação como reguladores dos processos biológicos das plantas.
O pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, o Dr. Faustino Andreola, diz, no artigo A Microbiota do Solo na Agricultura Orgânica e no Manejo das Culturas, publicado no livro Microbiota do Solo e Qualidade Ambiental:
“Os microrganismos fazem parte do solo de maneira indissociável […] Assim, os microrganismos do solo desempenham papel fundamental na gênese do solo e ainda atuam como reguladores de nutrientes, pela decomposição da matéria orgânica e ciclagem dos elementos, atuando, portanto, como fonte e dreno de nutrientes para o crescimento das plantas”.
Os benefícios ecológicos que a microbiota proporciona para o agroecossistema estão diretamente relacionados com os benefícios econômicos que ela proporciona na agricultura.
Cada uma dessas diferentes funções e interações dos microrganismos, além de proporcionar diferentes benefícios ecológicos, tem demonstrado um grande potencial para aumentar a rentabilidade e produtividade no agronegócio.
Segunda a Embrapa, estima-se que a fixação biológica de nitrogênio (FBN), por exemplo, tenha uma contribuição global de cerca de 258 milhões de toneladas de nitrogênio (N) por ano, sendo que a contribuição somente na agricultura chega a 60 milhões de toneladas.
Algumas plantas, como as leguminosas, são especialmente beneficiadas pela FBN. Em uma entrevista realizada pela Notícias Agrícolas em 2020, a pesquisadora da Embrapa Soja Dra. Mariangela Hungria ressaltou que a fixação biológica de nitrogênio no solo economiza cerca de US$ 14 bilhões de dólares por safra de soja no Brasil.
Além do potencial que os microrganismos tem de armazenar e ciclar os nutrientes entre o solo e as plantas, outra área de grande destaque tem sido o papel da microbiota na resistência das plantas a estresses bióticos e abióticos.
No artigo Micorrizas Arbusculares em Plantas Tropicais: Café, Mandioca e Cana-de-açúcar, o Dr. Arnaldo Colozzi Filho, pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná, diz que:
“Plantas micorrizadas apresentam maior atividade fotossintética, maior atividade enzimática e de produção de substâncias reguladoras de crescimento. Essas alterações metabólicas conferem às plantas maior resistência aos efeitos provocados por estresses de natureza biótica (pragas e doenças) ou abiótica (déficits hídricos e nutricionais ou estresses térmicos)”.
As micorrizas arbusculares são uma simbiose entre alguns tipos de fungo e as raízes das plantas, que proporciona:
No comunicado técnico da Embrapa Cerrados Contribuição da Micorriza Arbuscular para produtividade e sustentabilidade nos sistemas de produção com plantio direto e convencional no cerrado, os resultados demonstraram um acréscimo na produtividade de aproximadamente 244kg/ha para soja e 590kg/ha para o milho em sistema de plantio direto inoculado com a espécie Glomus etunicatum.
Esses são apenas alguns exemplos do potencial que os microrganismos do solo têm para aumentar a rentabilidade e produtividade da lavoura. Como então preservar esses seres para poder desfrutar de todos esses benefícios ecológicos e econômicos?
As estratégias que envolvem a preservação da microbiota do solo são centradas em fornecer o melhor ambiente possível para o desenvolvimento das comunidades desses seres microscópicos.
O agricultor deve se atentar a fatores como água, temperatura, pH e matéria orgânica na escolha dos manejos agrícolas para promover o bem-estar e desenvolvimento dos microrganismos nativos e inoculados no solo.
Para alcançar o equilíbrio desses fatores no agroecossistema, os especialistas Dr. Fernando Dini Andreote, professor de microbiologia do solo na Esalq/USP e Antônio Teixeira, fundador e diretor da Libertas Agronegócios e do Instituto Brasileiro de Agroecologia indicaram a prática do plantio direto:
Entenda por que o plantio direto é a prática perfeita para a microbiota do solo - YouTube
Além disso, outro passo importante para manter a microbiota do solo saudável é evitar o uso de insumos com excesso de substâncias que matem os microrganismos, como o caso do Cloreto de Potássio (KCl) composto por 47% de cloro.
Dessa forma, é muito importante optar por insumos alternativos mais sustentáveis e com eficiência agronômica comprovada, como o Siltito Glauconítico, para substituir parcialmente ou totalmente o uso de insumos convencionais que podem trazer prejuízos a microbiota do solo.
Repensar o manejo do solo, os insumos utilizados e a função que os microrganismos têm no ciclo de produção agrícola é a chave para uma agricultura mais rentável, saudável e sustentável.
Fonte: Verde
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