Publicado em: 03/02/2021 às 14:20hs
Produzir um embrião in vitro envolve algumas etapas e processos. Para começar é preciso coletar óvulos de uma fêmea (que vamos chamar de doadora), os quais passarão por um processo chamado maturação in vitro para que possam ser fecundados. Depois, utiliza-se sêmen de um touro previamente escolhido. Esse sêmen pode ser congelado, fresco, resfriado, sexado, tanto faz. O sêmen também é tratado para selecionar somente espermatozoides viáveis. Então, óvulos e espermatozoides são incubados para que ocorra a fecundação. E, depois da fecundação, os presumíveis zigotos são incubados (ou cultivados) para o desenvolvimento inicial dos embriões. Todos esses processos de maturação, fecundação e cultivo acontecem em placas de cultivo celular, com meios de cultura específicos para cada etapa, dentro de estufas próprias para o cultivo e desenvolvimento celular, com temperatura, umidade e atmosfera controladas. Ao todo, o processo demora cerca de dez dias e, então, os embriões podem ser transferidos para vacas (que vamos chamar receptoras) que irão gestar e parir os futuros bezerros.
Essa é uma explicação bastante simplificada de todo o processo, apenas para mostrar que é um procedimento bastante elaborado, que requer habilidades, conhecimentos, equipamentos e muita capacitação técnica para ser realizado. Muitas pesquisas científicas foram e continuam sendo feitas para aprimorar cada uma dessas etapas. Afinal, cada detalhe, cada reagente, cada célula envolvida no processo é importante.
Mas agora que falamos sobre o processo, precisamos comentar sobre sua finalidade. O objetivo de usar uma tecnologia como a produção in vitro de embriões não é apenas produzir mais embriões em menor tempo. Mais que isso, o que se pretende é produzir embriões de melhor potencial genético, a partir de óvulos e espermatozoides de animais de genética avaliada e selecionada, em maior quantidade e menos tempo. A ideia é utilizar doadoras e touros selecionados segundo critérios do melhoramento genético, para que os embriões produzidos tenham potencial genético melhorador, a fim de que o rebanho receba, a cada transferência de embriões, mais material genético selecionado.
E nesse momento é importante comentar o papel que cada animal tem nesse processo todo. O conceito de maximizar o uso de material genético de alguns indivíduos previamente avaliados é bastante difundido e entendido quando o assunto é o touro. Afinal, o impacto do reprodutor no rebanho é bastante conhecido, mesmo para quem trabalha em sistema de monta natural. Afinal, a relação touro:vaca é um conceito que todo produtor rural conhece bem. Quantos touros são necessários para cobrir o número de fêmeas em idade reprodutiva é uma informação que produtor e técnico têm na ponta da língua. E com isso fica claro o impacto que o touro tem no rebanho e na produtividade, a importância de adquirir touros saudáveis, com exame andrológico válido e, se possível, com avaliação genética.
Mas, quando se trabalha com monta natural o impacto individual de cada fêmea na composição genética e produtividade do rebanho é pequeno. Com o advento das tecnologias de produção de embriões, esse quadro se modifica um pouco. A fêmea passa a produzir mais filhos em um período de tempo menor o que aumenta sua importância individual na composição genética do rebanho. Ao invés de produzir um bezerro por ano como na monta natural, a vaca passa a poder produzir um bezerro por semana pela produção in vitro de embriões, podendo causar um impacto bem maior na composição genética do rebanho. Além disso, a cada semana é possível fazer diferentes acasalamentos com cada fêmea doadora, gerando embriões com variação genética, permitindo a produção de mais indivíduos contemporâneos que poderão ser avaliados quanto ao desempenho, com maior pressão na seleção sobre esses animais. Tudo isso, permite maior velocidade à seleção e melhoramento genético, com incremento visível na qualidade do rebanho. E esse incremento na qualidade do rebanho é percebido no aumento de produtividade.
Mas essa melhora não fica restrita aos rebanhos elite. Pois esses rebanhos elite produzem e vendem genética. São desses rebanhos que saem os touros que vão para as centrais de inseminação, que serão usados como reprodutores em inúmeras fazendas que usam a inseminação artificial. E aqui, já falamos em rebanhos comerciais, que utilizam a inseminação artificial para produzir animais para terminação e comercialização. E muitas dessas fazendas comerciais também vendem reprodutores para as fazendas que utilizam apenas a monta natural. Então, o fluxo dessa genética melhorada naqueles rebanhos elite que usam mais tecnologia chega a todos os produtores, mesmo o pequeno produtor, que pode ter acesso a touros melhores para a monta natural. Então, por mais que a produção in vitro de embriões pareça algo muito distante da sua realidade, tenha certeza, que ela não está tão longe assim!
Alessandra Corallo Nicacio - Pesquisadora em Reprodução Animal da Embrapa Gado de Corte
Fonte: Embrapa Gado de Corte
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