Pesquisas

As limitações do ácido bórico na agricultura

O ácido bórico é um fertilizante usado como fonte de um micronutriente muito importante e requerido nas fases de crescimento e desenvolvimento vegetativo, florescimento e maturação da planta


Publicado em: 26/07/2021 às 08:25hs

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O ácido bórico é um fertilizante usado como fonte de um micronutriente muito importante e requerido nas fases de crescimento e desenvolvimento vegetativo, florescimento e maturação da planta: o boro. Entretanto, mesmo sendo uma das fontes mais concentradas desse nutriente, ele apresenta algumas limitações que reduzem a rentabilidade e potencial produtivo das lavouras. 

A disponibilidade de boro no solo 

O boro é um micronutriente aniônico, absorvido pelas raízes das plantas na forma de ácido bórico neutro (B[OH]3) e como borato (B[OH]4-). No ciclo de desenvolvimento vegetal, ele tem um papel essencial, estando presente: 

  • Na síntese e estrutura da parece celular; 
  • Nos complexos estáveis da membrana plasmática; 
  • Na germinação de pólen e alongamento de tubo polínico. 

De forma natural, o boro é encontrado na matéria orgânica e na própria água usada para a irrigação das culturas, sendo seus limites estabelecidos na tabela a seguir: 

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Tolerância das plantas às concentrações de boro na água de irrigação (Fonte: MAAS, 1990) 

Além da matéria orgânica, fatores como a escassez de água, pH e altos teores de ferro e alumínio influenciam diretamente a presença e disponibilidade de boro no solo. Além disso, em solos muito alcalinos ou muito ácidos, por exemplo, esse micronutriente apresenta uma menor disponibilidade. 

Porém, somente a aplicação de fontes de boro não garante o suprimento adequado da demanda nutricional da planta. Isso acontece porque esse micronutriente apresenta certas especificidades para garantir o seu bom desempenho. 

Uma das principais razões que dificulta um bom desempenho da adubação de boro no sistema solo-planta é a reduzida faixa entre dosagens que levam a deficiência ou a toxicidade.  

É o que afirmam Renato de Melo, PradoWilliam Natale e Danilo Eduardo Rozane  no artigo Níveis críticos de boro no solo e na planta para cultivo de mudas de maracujazeiro-amarelo. 

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Na cultura do eucalipto, a deficiência de boro gera a perda da dominância apical e consequentemente leva ao superbrotamento. (Fonte: SILVEIRA et al., 2001) 

O boro ainda apresenta uma relação de antagonismo com alguns nutrientes essenciais. Isso significa que o aumento da concentração de boro nas plantas pode diminuir a concentração de outros nutrientes, como: 

  • Fósforo; 
  • Cálcio; 
  • Ferro. 

Uma das formas de nutrir o solo com boro é a utilização do ácido bórico. Mas, quais são as limitações do ácido bórico no solo? 

As limitações do ácido bórico 

O ácido bórico é um fertilizante solúvel, encontrado na forma de cristais incolores ou como um pó branco.  Com cerca de 17% de boro na sua composição, ele é considerado uma das fontes mais concentradas e solúveis desse nutriente. 

Por ter um alto grau de solubilidade, de cerca de 49 g/L (gramas por litro) a 20º C, o ácido bórico consegue disponibilizar o boro mais rapidamente para as plantas. Porém, isso traz um problema: a lixiviação e a fitoxicidade. 

A lixiviação acontece quando os nutrientes se perdem para as camadas mais profundas do solo, em decorrência do excesso de chuvas ou da irrigação mal planejada. Esse processo, além de reduzir o custo-benefício do ácido bórico a longo prazo, pode inclusive tornar a adubação com fertilizantes altamente solúveis ineficiente. 

No artigo Solubilidade e mobilidade de fertilizantes boratados em condições controladas, a pesquisadora Cleide Aparecida de Abreu do Instituto Agronômico de Campinas, destaca que quando ocorre a lixiviação, o solo acaba ficando deficiente em boro, mesmo que o fertilizante tenha sido aplicado. 

Já a fitotoxicidade está relacionada com a presença excessiva de nutrientes nas plantas, o que causa efeitos indesejados que comprometem a qualidade e produtividade das culturas. Como o boro é muito pouco móvel na planta, os sintomas se concentram nas folhas mais velhas da planta e em regiões em que ocorre uma maior transpiração. 

Segundo a Embrapa, os casos de fitoxicidade por boro revelam sintomas visuais, como: 

  • Manchas pardas nas margens das folhas, que podem progredir para eventuais necroses; 
  • Pontuações internervais; 
  • Encarquilhamento das folhas mais velhas; 
  • Encurtamento dos internódios; 
  • Morte da gema apical. 

A elevada solubilidade associada à alta concentração do ácido bórico, tornam a definição da dosagem adequada uma tarefa difícil, uma vez que existe uma faixa muito estreita entre dosagens que levam à deficiência ou à toxicidade por boro. 

Além disso, a alta disponibilidade inicial pode provocar sintomas de toxidez em culturas susceptíveis e em estágios iniciais de desenvolvimento, conforme relatado na dissertação de mestrado Adubação boratada em pomar de laranja pêra rio afetado pela clorose variegada dos citros, da pesquisadora Isabela Rodrigues Bologna. 

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Sintomas de toxicidade de boro em plantas que receberam 170 mg (esquerda) e 88 mg (direita) de boro. Na maioria das culturas, os sintomas de toxicidade de boro aparecem quando a concentração supera 250 a 300 mg.kg-1 de matéria seca (Fonte: SESTREN. J. A. e KROPLIN, R. - 2009) 

Então, é possível mitigar essas limitações do ácido bórico? 

Como superar os desafios da adubação bórica 

A fim de garantir um bom desempenho da adubação bórica, é preciso controlar os diversos fatores que afetam a dinâmica do boro no sistema solo-planta. Para isso, garantir níveis adequados de todos os nutrientes no solo, realizar a correção do pH e neutralização do alumínio, com práticas como a calagem, são essenciais para garantir uma boa eficiência da adubação. 

Além disso, é preciso considerar outras possíveis fontes de boro, uma vez que o ácido bórico é facilmente afetado pelo processo de lixiviação e com potencial para causar efeitos de fitoxicidade. 

Dentre elas, destaca-se os fertilizantes que tem a ulexita como matéria-prima. Ela permite que o agricultor tenha uma fonte de boro com liberação gradual de nutrientes que reduz lixiviação e fitotoxidez, favorecendo a produtividade e rentabilidade do agronegócio.