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Uma reunião para trocar experiências com Plantas Bioativas

Agricultura e Medicina buscam mais conhecimento para motivar políticas públicas com plantas medicinais e fitoterápicos


Publicado em: 16/11/2012 às 10:50hs

Uma reunião para trocar experiências com Plantas Bioativas

Já se passaram sete anos e experiências ainda precisam ser partilhadas por detentores do conhecimento popular e por pesquisadores interessados em plantas bioativas. É preciso saber mais sobre este tema, ter mais pesquisas. Esta foi uma das necessidades levantadas durante o primeiro dia de realização da Reunião Técnica Estadual de Plantas Bioativas, promovido pela Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS e Emater/RS. O evento que vai até esta quarta-feira, dia 14, detém-se em promover esta troca de conhecimentos entre profissionais da agricultura e da saúde.

Segundo o coordenador do evento, pesquisador Gustavo Schiedeck, a Reunião está acontecendo pela segunda vez no município e há poucos trabalhos em pesquisa nesta área, embora a temática venha ganhando espaço em alguns setores da ciência. “Não temos nenhum produtor rural que viva somente do cultivo de plantas bioativas”, comentou. Para ele, a produção de plantas bioativas é considerada mais uma atividade dentro da propriedade. “A nossa intenção com este evento é avançar em conhecimento popular e científico, com resultados através de práticas de outros estados, por exemplo, de Santa Catarina e Pernambuco”, destacou. Gustavo pondera que é preciso ver e adaptar as experiências de outras regiões a nossa realidade, “mas não serve copiar”.

Para o pesquisador Gilberto Bevilácqua, o que há de pesquisa nesta área de plantas medicinais é muito novo. “A nossa experiência na Embrapa é identificando o comportamento das plantas, a sua produção e sua utilização (para que serve)”, explicou. Gilberto disse que a nossa região é muito rica em diversidade. “A pessoas sempre se referem a complexidade da Amazônia, mas o nosso bioma é tão vasto quanto àquele”, lembrou. Ele vem ao longo do tempo trabalhando na Empresa com algumas plantas como erva de bugre, chapéu de couro, chinchilla, guaco, espinheira-santa  e muitas outras. Na sua opinião o mais interessante também é saber manipular este material. “É preciso saber o momento adequado da coleta da planta, local onde ela está cultivada, qual a dose recomendada e período em que vai ser ingerida”. Segundo ele, existe uma indicação básica de 20 gr de uma erva para um litro de água.

O médico Celerino Carriconde e assessor da Secretaria de Vigilância Sanitária de Pernambuco veio contar sua experiência em medicina popular aplicada ao Nordeste. “O mais importante, quando não há contra indicações no uso de determinadas plantas é observar a duração em que há ingestão das ervas, é preciso usá-las por períodos mais curtos, até sete dias”, recomendou.  Outro ponto observado por ele, é a administração de uma erva associada ao princípio de outra, ou até, de uma medicação. “Não sabemos ainda os efeitos colaterais, o estudo das plantas é muito vasto, explicando que há as que são registradas (pela Anvisa) e àquelas que ainda não estão apropriadas ( fazem parte do conhecimento popular). “O mais importante é saber tratar a causa da doença para se atacar o problema”, disse. Como indicação para uma saúde de qualidade, Celerino disse que a alimentação segura é  ainda a grande alternativa à disposição da população. Como exemplo, ele brincou com o repórter fotográfico ao comentar que para controlar as taxas de colesterol: “ troque a padaria pela verduraria”.

O caso de São Lourenço do Sul

Entre tantas experiências intercambiadas pelos participantes da Reunião, a apresentação das ações implementadas no município de São Lourenço do Sul/RS chamaram a atenção da platéia. Rodrigo Hoff, fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento(Mapa) está somando-se a outras representações do município (cerca de 80 pessoas) para a criação de uma Política Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterapia. Segundo ele, após o projeto Farmácias Vivas – um projeto inicial com fitoterapia - ter sido estagnado por conta das burocracias, na próxima segunda-feira, 19/11, será apresentada esta Política para votação junto a Câmara Municipal de Vereadores.

Se aprovada a proposta, o município gaúcho passará a fazer parte de um dos primeiros a disponibilizar no Sistema Único de Saúde (SUS) medicamentos elaborados com princípios ativos de plantas medicinais para tratamentos médicos. “A nossa intenção é fortalecer o saber local, através da etnia presente no município. Além disso, fomentar o plantio dessas plantas pelos agricultores e o beneficiamento dentro da cadeia produtiva”, falou. Entre os objetivos da nova Política estão o resgate tradicional, a construção de um arranjo produtivo local e a garantia de acesso pela população às plantas bioativas. “Com isto, também será possível o surgimento de indústrias de fitocosméticos e outras ações de inclusão social e econômica”, destacou.

Associada a esta experiência também foi relatada pela secretária Adriana Ansolim, do município de Severiano de Almeida/RS, que também possui ações junto a Secretaria Municipal de Sáude ao indicar o uso de plantas medicinais no tratamento da saúde humana. “Este é um dos objetivos da nossa Reunião, dividir com os participantes modelos possíveis de serem implantados em seus municípios de origem. Isto, vai beneficiar uma saúde segura e mais barata”, analisou o pesquisador Gustavo Schiedeck.

Solenidade de Abertura

A 7ª.Reunião Técnica Anual de Plantas Bioativas contou na sua cerimônia de abertura com a presença dos representantes das instituições promotoras. O chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon ao destacar o esforço em organizar um evento com tema que merece importância e que conta com a interdisciplinariedade de competências, identificou desafios para a própria pesquisa em trabalhar tecnologias para dar o uso eficiente e seguro às plantas bioativas, seja na utilização humana, animal ou vegetal. Pillon lembrou dos avanços existentes na formulação de políticas públicas nacionais como a própria de Plantas Medicinais e recentemente a de Agroecologia, que vem a dar suporte a produção agrícola. Da mesma forma, o diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, também apontou desafios como a utilização das plantas para práticas agrícolas sustentáveis, ao promover igualmente a inclusão social e produtiva no meio rural.

Estiveram também presentes, o Secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Rodrigo Rodrigues e o coordenador do evento, pesquisador Gustavo Schiedeck. Cerca de 130 pessoas estão discutindo sobre a temática no auditório da Embrapa, em Pelotas/RS.

Fonte: Embrapa Clima Temperado

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