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Pesquisadores da Embrapa viajam à Bolívia para avaliar pesquisas de recursos genéticos vegetais e animais

Viagem faz parte de um acordo de cooperação com o governo brasileiro para fortalecer o sistema de recursos genéticos daquele país


Publicado em: 25/01/2013 às 09:50hs

Pesquisadores da Embrapa viajam à Bolívia para avaliar pesquisas de recursos genéticos vegetais e animais

Os pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 47 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, Arthur Mariante e Marcos Gimenes, estiveram na Bolívia entre os dias 13 e 19 de janeiro, onde visitaram instituições voltadas às pesquisas de recursos genéticos vegetais e animais que vêm sendo desenvolvidas pelo INIAF e instituições parceiras nos departamentos de Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba, Oruro e La Paz. A iniciativa faz parte de um projeto do governo brasileiro, coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação – ABC, do Ministério das Relações Exteriores – MRE, que tem como objetivo oferecer cooperação técnica para fortalecer o sistema de recursos genéticos da Bolívia.

O enfraquecimento deste sistema se deu, principalmente, pela extinção do IBTA – Instituto Boliviano de Tecnologia, que resultou na dispersão do material genético por várias instituições do país, como: fundações, universidades e ONGs, entre outras. Em 2010, foi criado o INIAF – Instituto Nacional de Inovação Agropecuária e Florestal com a missão de reunir novamente os recursos genéticos da Bolívia e organizar o seu manejo com vistas à conservação e uso sustentável. Para isso, o presidente do Instituto, Lucio Tito, solicitou ajuda ao governo brasileiro, o que resultou na assinatura de um convênio bilateral entre Brasil e Bolívia, em 2010.

O Brasil tem hoje um sistema muito sólido e organizado para conservação de recursos genéticos vegetais, animais e de micro-organismos, que é gerido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia a partir da Plataforma Nacional de Recursos Genéticos. Durante a viagem, os pesquisadores apresentaram o funcionamento da Plataforma, que congrega quatro projetos em rede, sendo três voltados à conservação de recursos genéticos – vegetal, animal e micro-organismos – e um quarto transversal, que abrange: curadoria, documentação, marco regulatório de acesso ao patrimônio genético, além de intercâmbio e quarentena de material genético. A gestão em rede permite integrar as ações de recursos genéticos em nível nacional, envolvendo: unidades da Embrapa, instituições de pesquisa estaduais, universidades públicas e privadas, associações de criadores e produtores e empresas privadas

Segundo Mariante, a visita aos centros de pesquisa bolivianos fechou a primeira etapa do projeto, na qual foi realizado um diagnóstico da atual situação do sistema de recursos genéticos do país e sugeridas melhorias para que fique mais homogêneo e eficiente. A segunda parte será dedicada à vinda de pesquisadores bolivianos ao Brasil com objetivos mais específicos, a partir das necessidades levantadas pelo diagnóstico.

Criação de coleção de base e sistema de curadorias são necessidades prementes

Durante a visita à Bolívia, os pesquisadores visitaram universidades e centros de pesquisa bolivianos, onde são mantidos os principais bancos de recursos genéticos do país, como: milho, mandioca, batata, cana de açúcar, curcubitáceas e pimentas, além dos bancos voltados aos cultivos andinos, como quinoa, amaranto e espécies florestais, entre outros. Atualmente, o sistema boliviano de recursos genéticos inclui mantém conservadas: 1555 amostras de batata; 1490 de milho; 1054 de amendoim; 483 de cucurbitáceas; 387 de pimentas; 3178 de quinoa e 216 de amaranto, entre outras espécies alimentares e florestais, em bancos ativos e em coleções in vitro.

Mas, não há no país nenhuma coleção de base, na qual as espécies sejam conservadas em longo prazo em câmaras frias a 20ºC abaixo de zero. A implantação de uma coleção de base, a exemplo da que existe na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que hoje é a maior da América Latina e conta com mais de 120 mil amostras de sementes, é uma necessidade premente, especialmente porque a Bolívia é uma país megadiverso. “A coleção de base é uma cópia de segurança de espécies vegetais cultivadas no país, que são mantidas também em diferentes locais, e é uma garantia de segurança alimentar para as gerações atuais e futuras, já que conserva as sementes a longo prazo”, ressaltou Mariante.

A criação de uma coleção de base centralizada no INIAF, que envolva tanto recursos genéticos vegetais quanto animais foi uma das sugestões apresentadas pelos pesquisadores brasileiros ao diretor do Instituto e ao Embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Biato, ao fim da visita, como um resultado preliminar do diagnóstico realizado.

Além disso, sugeriram também a criação de um sistema de curadorias, o que permitiria, não só organizar e gerir as informações relacionadas a recursos genéticos de forma integrada, bem como integrar os pesquisadores das diversas instituições que vêm se dedicando à conservação de recursos genéticos naquele país.

Vale destacar que o INIAF mantém um banco de hortaliças bem diversificado, com ênfase em: tomate, cenoura, cebola, brócolis, alface e couve-flor. Os pesquisadores bolivianos demonstraram grande interesse no cultivo da cenourete, uma minicenoura desenvolvida pela Embrapa Hortaliças similar à "baby carrot" americana. A cenourete foi desenvolvida a partir de uma tecnologia de processamento mínimo - uma torneadora desenvolvida a partir de um descascador comercial de batatas – e, por isso, simples e acessível a qualquer agroindústria familiar.

Em termos de recursos genéticos animais, os trabalhos de conservação in situ desenvolvido na Bolívia, priorizam as espécies de camélidos sul americanas (alpacas e lhamas), que são espécies de importância econômica para aquele país, e que não encontram similar no Brasil. Em visita aos trabalhos que aquele instituto realiza no Parque Nacional de Sajama, a 4.650 m de altitude, os pesquisadores sugeriram a implantação de um banco de sêmen e de embriões (conservação ex situ) a fim de assegurar a manutenção da variabilidade genética dos rebanhos, uma vez que a indústria está buscando apenas os animais de pelagem branca, o que permite o tingimento da lã nas mais diversas cores. Além da lã naturalmente colorida (preta, bege e cinza) ser de grande importância para o artesanato, que é responsável por um enorme retorno econômico para as comunidades, os animais com diferentes pelagens poderão apresentar características de adaptação e tolerância a enfermidades ainda não identificadas, e que poderão ser fundamentais para futuros trabalhos de melhoramento genético dessas espécies. 

Muitas possibilidades de intercâmbio

A visita à Bolívia deixou clara também a possibilidade de aumentar o intercâmbio de material genético entre Brasil e Bolívia, especialmente de cereais, fruteiras, hortaliças, florestais, raízes e tubérculos e forrageiras. Um dos grandes interesses para o Brasil são os cultivos andinos, como quinoa, amaranto e chia. Essas espécies vêm sendo cada vez mais valorizadas pela população brasileira como alimentos funcionais e a Bolívia possui enorme variabilidade genética. Portanto, a troca de material genético pode ser muito positiva para ambos os países.

Outras expectativas dos pesquisadores bolivianos em relação à parceria com a Embrapa são as pesquisas de controle biológico de pragas agrícolas, nas quais a Embrapa já está bastante avançada, e o sistema “Alelo”, desenvolvido pela Empresa para a documentação de recursos genéticos, que já está em fase final de desenvolvimento. As ações de cooperação técnica nessas áreas, incluindo o processamento da cenourete, serão discutidas durante a segunda etapa do projeto de fortalecimento do sistema de recursos genéticos da Bolívia, com a vinda dos pesquisadores ao Brasil.

Fonte: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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