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Pesquisa da FEA-RP/USP mostra resultados da ecoeficiência na suinocultura e cafeicultura

Artigo publicado na revista Biomass & Bioenergy comprovou recuperação do capital investido em apenas 13 meses; empreendimento cria e processa suínos, produz biodiesel, biogás e biofertilizante


Publicado em: 18/09/2012 às 08:20hs

Pesquisa da FEA-RP/USP mostra resultados da ecoeficiência na suinocultura e cafeicultura

Um estudo realizado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP comprovou a viabilidade da aplicação do conceito de ecoeficiência em uma propriedade rural de 250 hectares destinada à produção e processamento de suínos e à cafeicultura, localizada no município de Caconde (SP).

Desenvolvida pelos mestrandos em Administração de Organizações Alexandre Leoneti e Glauco Caldo e pelos professores Marcio Mattos Borges de Oliveira e Sonia Valle Walter Borges de Oliveira, a pesquisa estudou a implementação de sistemas que reutilizam resíduos da cria e do processamento de porcos na geração de energia e na produção de biofertilizantes para lavouras de milho e café. "O estudo mostrou a capacidade da propriedade em fechar ciclos produtivos dentro da própria planta industrial. O que era resíduo volta em forma de alimento, energia, combustível e adubo", afirma Sonia Oliveira, que coordenou a pesquisa.

Os autores do artigo, que já receberam convites para apresentar o estudo no Canadá, China, África do Sul e países da Europa, identificaram, na época da realização da pesquisa, que o custo do biodiesel produzido na propriedade, com gordura resultante do processamento dos suínos da propriedade, gordura de bovinos e óleo de cozinha usado é 46% menor que o preço de mercado.

O artigo mostra também que com o sistema de biodigestores e a miniusina de biodiesel, o produtor economiza, por mês, R$ 8 mil cortando 100% dos custos com diesel e GLP, 40% dos custos com fertilizantes e 50% do consumo de energia elétrica de toda a propriedade.

Ainda de acordo com o estudo, se todo o investimento inicial, estimado em R$ 100 mil, tivesse sido feito todo com capital próprio, a empresa teria obtido uma taxa de retorno de 7,38% ao mês ao longo de três anos. A partir do 13º mês, os investimentos estariam pagos e os ganhos com o sistema já poderiam ser considerados lucros. Calculados o desembolso do fluxo de caixa, correção monetária e o valor economizado mensalmente no período, os R$ 100 mil iniciais proporcionariam ganhos de R$ 243 mil.

Mesmo no caso de financiamento total do sistema a juros de 2% ao mês, o projeto de ecoeficiência daria um retorno mensal de 2,24% ao longo de três anos, mostrando a total viabilidade econômica do projeto. Neste caso, o retorno do capital investido seria obtido em 25 meses. "É importante destacar que essa filosofia da ecoeficiência é perfeitamente aplicável em outros negócios", completa Sonia Oliveira.

Flexibilização - Em 2012, mudanças no mercado mostraram mais uma vantagem do sistema de ecoeficiência implantando na propriedade: a flexibilidade. Com o aumento no preço do milho e da soja, base da alimentação animal, e o alto preço do etanol, matéria-prima para o biodiesel, a Pork-Terra paralisou temporariamente a produção de biodiesel.

Como o custo do etanol tornou o biodiesel mais caro que o diesel, a agroindústria passou a comprar combustível no posto e ampliou o uso da gordura para a alimentação animal, reduzindo custos com a compra de soja e milho. O excedente de gordura, que também está valorizada no mercado, passou a ser vendida e segue sendo utilizada também para produção de sabão para consumo interno.

O sistema - O empreendimento que serviu de base para a pesquisa é a Pork-Terra, uma agroindústria familiar que começou com a produção de café em 1920, de porcos em 1980 e no final dos anos 80 passou a realizar o processamento da carne. Na época em que o estudo foi realizado, a empresa processava 80 porcos por semana. Nos 250 hectares da propriedade, a quase centenária produção de café ocupa 75 hectares enquanto o milho, produzido exclusivamente para a alimentação dos suínos, ocupa 90 hectares.

Os resíduos da criação e do processamento dos porcos são levados para três biodigestores que geram biogás - ricoem metano - e biofertilizante. Embora uma análise do biofertilizante tenha mostrado que ele não é suficientemente rico para suprir as necessidades da produção de café, o produto contribui com 40% nas necessidades da propriedade, principalmente na lavoura de milho. Os outros 60% são complementados com fertilizantes industriais

Já o biogás, que possui em média 70% de metano e 30% de gás carbônico, alimenta um gerador de energia de 32 kW/h que abastece 50% das necessidades da propriedade, incluindo 17 casas e o refeitório dos funcionários, parte da câmara fria da indústria, processamento de suínos, secagem de café e o aquecimento do berçário para leitões.

Também faz parte da matriz energética da propriedade o biodiesel produzido com gordura animal e 20% de etanol. Certificado pela ANP, o combustível que abastece todos os veículos da propriedade é produzido em sua maior parte com gordura gerada no próprio empreendimento mas que também recebe gordura de bovinos e incentiva escolas da região a recolherem óleo de cozinha usado junto a seus alunos. O estudo apurou que cada litro de gordura fundida gera um litro de biodiesel e 150g de glicerina.

Com a glicerina, principal subproduto da produção de biodiesel, é produzido sabão, sabonete e detergente, também utilizados na limpeza e na higiene pessoal dentro da propriedade. Outra inovação observada na Pork-Terra é a utilização da glicerina em parte da alimentação da criação.

O estudo, entretanto, não se limita a mapear e quantificar as vantagens da aplicação dos conceitos de ecoeficiência na propriedade, mas também propõe melhorias como o tratamento do esgoto doméstico por meio da utilização de um sistema anaeróbio de tratamento de resíduos UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket/Reator Anaeróbio de Manta de Lodo). Outra proposta do estudo é a utilização de 6% da glicerina no biodigestor para aumentar a geração de biogás e biofertilizante.

Fonte: Outras Palavras Comunicação Empresarial

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