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Melhoramento genético da mandioca leva Prêmio Péter Murányi

Autora do trabalho, que possibilitou desenvolver uma variedade de mandioca rica em nutrientes, receberá R$ 150 mil


Publicado em: 01/03/2012 às 09:00hs

Melhoramento genético da mandioca leva Prêmio Péter Murányi

A pesquisadora Teresa Losada Valle, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), foi a vencedora do Prêmio Péter Murányi 2012 - Alimentação, concedido pela Fundação Péter Murányi. Ela receberá R$ 150 mil em uma cerimônia a ser realizada em abril de 2012, em São Paulo. Seu trabalho resultou no melhoramento genético da mandioca de mesa 576-70, variedade desenvolvida pelo IAC que contém mais nutriente (carotenóides e vitamina A) e tem maior produtividade e resistência à doenças em comparação a outras variedades. Essa variedade foi amplamente disseminada no Estado de São Paulo.

“Esse projeto é consequência de um trabalho contínuo do IAC em melhoramento genético e disseminação do uso das variedades aqui desenvolvidas junto aos pequenos produtores e a população de baixa renda”, destaca a pesquisadora. Para chegar à IAC 576-70, os pesquisadores utilizaram o método de melhoramento genético clássico, em que selecionam as plantas com as características buscadas e as cruzam para obter a variedade de interesse. Os pesquisadores demoram de 10 a 15 anos para chegar a uma nova variedade.

A mandioca IAC 576-70 é resultado de pesquisas iniciadas na década de 1970 pelo IAC na busca por variedades de mandioca que tivessem mais nutrientes e, ao mesmo tempo, fossem mais resistentes a doenças e tivessem maior produtividade. “Com isso, queríamos atender os produtores rurais familiares e melhorar a dieta das famílias que praticam agricultura de subsistência”, afirma. Atualmente, a IAC 576-70 domina o mercado em São Paulo. Seu cultivo está sendo expandido para outros locais, como Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

A variedade IAC 576-70 é amarela e, em comparação com a mandioca branca, tem aproximadamente dez vezes mais vitamina A, cerca de 230 Unidades Internacionais (sistema de medida mundial para quantificar vitaminas) em 100 g de raízes frescas e 400 miligramas de betacaroteno. A vitamina A é uma das mais importantes para o ser humano. Sua ausência compromete seriamente a visão, além de afetar o olfato e paladar, entre outros problemas. O betacaroteno é uma das formas de se obter indiretamente a vitamina A. Também atua na imunidade, fortalece unhas e melhora a pele e os cabelos.

O trabalho foi considerado inovador por incluir também as questões de acesso da população a essa variedade da mandioca. Segundo Teresa Valle, dois públicos foram focados: O primeiro foram os pequenos agricultores e o segundo os migrantes das zonas rurais que se instalaram nas zonas periféricas das cidades médias do interior de São Paulo e que continuam praticando a agricultura no fundo do quintal de suas residências.

Para o trabalho de difusão da variedade IAC 576-70, o IAC contou com o apoio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), que atuou junto aos produtores. Depois de certo tempo, os próprios agricultores passaram a transferir a variedade entre eles, ampliando seu uso. Já para atuar junto à população da periferia urbana, as equipes da CATI e do IAC trabalharam em parceria com assistentes sociais, profissionais da saúde e organizações assistenciais. “Com essa estratégia, conseguimos melhorar a segurança alimentar dessas pessoas, ampliando a quantidade e a qualidade da sua alimentação. Eles ainda podem vender o excedente, gerando uma fonte de recursos extra para as famílias”, comenta.

Finalistas – Além deste trabalho, a edição 2012 do Prêmio Péter Murányi teve outros dois finalistas. Seus autores receberão diploma de menção honrosa: Marília Regini Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, coordenadora do trabalho “Biofortificação de Produtos Agrícolas para Nutrição Humana – HarvestPlus”; e Eder Dutra de Resende, Eliana Monteiro Soares de Oliveira e Suelen Alvarenga Regis, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, do trabalho “Inovações Tecnológicas para o Desenvolvimento de Coprodutos Derivados dos Resíduos das Agroindústrias Processadoras de Maracujá”.

Eles também serão convidados a participar da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorrerá em julho de 2012 na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Na ocasião, terão a oportunidade de apresentar os resultados de seus trabalhos em uma sessão especial.

Sobre o Prêmio: O Prêmio Péter Murányi visa reconhecer os trabalhos que contribuem para a melhoria da qualidade de vida das populações situadas abaixo do paralelo 20 de latitude norte do globo, especialmente a brasileira. O foco da edição de 2012 foram os trabalhos voltados para a área de alimentação.

No total, participaram 126 instituições de pesquisa, sendo 14 de outros países da América Latina. Os trabalhos foram avaliados por uma comissão, composta por especialistas na área, que escolheu os três finalistas. Estes foram submetidos a um júri que indicou, por voto secreto, o vencedor. Mais informações no site www.fundacaopetermuranyi.org.br.

Fonte: Acadêmica Agência de Comunicação

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