Publicado em: 31/08/2012 às 08:55hs
A valorização da lima ácida ‘Tahiti’ no mercado interno e a expansão do mercado internacional da fruta, observado nos últimos 15 anos, promoveu condições favoráveis para o desenvolvimento de uma cadeia produtiva composta por pequenos e médios citricultores e indústrias de beneficiamento nas regiões Sudeste e Nordeste do Estado de São Paulo. Porém, a cultura apresenta desafios relacionados à rentabilidade, fato que tem levado produtores a abandonar a atividade, provocando impactos sociais e econômicos importantes para as regiões produtoras.
Pesquisa realizada por Horst Bremer Neto, aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação (PPG) em Fitotecnia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), intitulada “Desempenho horticultural de clones de lima ácida ‘Tahiti’ enxertados em citrumelo ‘Swingle’ cultivados com e sem irrigação”, aponta que, entre as variáveis horticulturais que influenciam a viabilidade econômica da cultura, destacam-se a produtividade, a precocidade de início de produção e a qualidade dos frutos. “A maximização desses fatores pode ser alcançada pela seleção criteriosa da combinação copa/porta-enxerto e com a aplicação de tecnologias de produção, como a irrigação, que tem gerado resultados favoráveis quanto ao aumento da produção de frutos na safra e na entressafra”, explica o pesquisador.
O projeto é resultado de parceria ESALQ e Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro. Foi realizado sob orientação do professor Francisco de Assis Alves Mourão Filho, do Departamento de Produção Vegetal (LPV) da ESALQ e contou com a participação de Eduardo Sanches Stuchi, da EMBRAPA Mandioca e Fruticultura. Stuchi foi responsável pelo planejamento inicial e instalação do experimento. Assim, o estudo relata que as pesquisas realizadas nos últimos anos tem se dirigido à avalição de porta-enxertos e irrigação para lima ácida ‘Tahiti’. “São poucas aquelas que envolvem a avaliação de clones de lima ácida ‘Tahiti’ devido à constituição genética triplóide da espécie que impõe limitações à aplicação de técnicas de melhoramento convencional. A diversidade genética da espécie é pequena e os cultivos comerciais são baseados, predominantemente, nos clones “IAC 5” e “Quebra-galho”. No entanto, esses clones apresentam limitações relacionadas ao porte elevado e à contaminação com viróides dos citros”, explica Horst.
O pesquisador lembra, ainda, que além da baixa diversificação de copas, grande parte dos pomares utilizam o limão “Cravo” (Citrus limonia Osbeck) como porta-enxerto, por induzir maior produtividade e tolerância à deficiência hídrica. Por outro lado, a combinação dos clones “IAC 5” e “Quebra-galho” com o limoeiro ‘Cravo’ tem levado à produção de plantas de porte elevado e baixa longevidade devido às elevadas taxas de mortalidade causadas por gomose Phytophthora (Phytophthora spp.) e a presença de estirpes severas do vírus da tristeza dos citros e do viróide da exocorte.
O trabalho, conduzido em Bebedouro (SP), avaliou o desempenho horticultural de clones de limeira ácida ‘Tahiti’ enxertados em citrumelo ‘Swingle”. Levando-se em conta as restrições do uso comercial do citrumelo ‘Swingle’ em ambientes que apresentam deficiência hídrica prolongada, os clones foram avaliados em duas áreas distintas, diferenciadas pelo uso da irrigação. Foram avaliados os clones “IAC5”, “IAC 5-1”, CNPMF/EECB”, “CNPMF 2000” e “CNPMF 2001”.
Bremer Neto assegura que, por meio desse estudo, foi possível fixar um clone altamente produtivo sob condição irrigada e não irrigada (“CNPMF/EECB”), previamente selecionado por Sanches (EMBRAPA Mandioca e Fruticultura), o qual apresenta potencial para futura disponibilização aos citricultores. “Além disso, a irrigação mostrou-se técnica adequada para o cultivo da lima ácida ‘Tahiti’ por induzir aumento significativo de produção, inclusive na entressafra, quando os preços praticados no mercado interno são elevados. E, ainda, os clones estudados apresentam desempenho distinto sob deficiência hídrica, resultado inédito na citricultura mundial, que concentra relatos envolvendo a influência do porta-enxerto sobre a tolerância da planta à deficiência hídrica”, complementa.
Finalmente, o pesquisador destaca que estudos envolvendo tolerância de citros à deficiência hídrica são fundamentais e que, por essa razão, a obtenção de plantas tolerantes sempre esteve no escopo das pesquisas envolvendo melhoramento genético e fitotecnia. “Esse resultado poderá ser incorporado no planejamento de sistemas produtivos e viabilizar a produção de lima ácida sem irrigação em regiões que apresentam déficit acentuado. Por outro lado, por meio da combinação de clones e porta-enxertos que apresentam menor tolerância à deficiência hídrica, possivelmente a obtenção de frutos na entressafra será favorecida em pomares irrigados”, conclui.
Fonte: Assessoria de Comunicação USP ESALQ
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