Publicado em: 29/05/2013 às 10:31hs
Fala-se muito que o Brasil tem progredido pouco na área de ciência, tecnologia e inovação. Realmente, o progresso é pequeno na maioria dos setores da economia e não existe uma cultura de investimento em pesquisa nas indústrias. Empresas inovam pouco, fazendo com que percamos competitividade perante nossos concorrentes. Mas será que isso ocorre também com a locomotiva da economia brasileira? Será que a agropecuária inova pouco no país?
O Brasil do “Jeca Tatu” vai aos poucos ficando no imaginário dos nostálgicos, enquanto os números positivos da agropecuária invadem o noticiário constantemente: recordes de produções; e um setor pujante desfila orgulhosamente na Marquês de Sapucaí. Cidades inteiras brotam nos sertões do Brasil Central com IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) europeus. A agropecuária mantém positiva a balança comercial, os alimentos baratos e a segurança energética do país, e é a principal responsável pela estabilidade da economia e a financiadora das políticas sociais.
Evidentemente, há condições extremamente favoráveis para a produção, como a abundância de água e luz. Mas de nada valeriam esses recursos se não houvesse um forte caráter inovador na agricultura brasileira. Foi o empreendedorismo do produtor, apoiado pela rede de geração de tecnologias tropicais capitaneada pela Embrapa, que colocou a agricultura do nosso país nos patamares que hoje experimentamos. Solos ácidos corrigidos, materiais genéticos adaptados e grande aparato tecnológico em máquinas, equipamentos e produtos tornaram áreas consideradas de baixo potencial em verdadeiros oásis de produção. Avançou-se na biotecnologia e incorporaram-se tecnologias de gestão e de informação, enquanto o plantio direto eliminou a erosão e abriu caminho para sistemas produtivos integrados.
Inovadores modelos de agricultura de precisão racionalizam o uso dos recursos. O entendimento sobre os processos biológicos incorpora aos sistemas de produção estratégias de controle biológico de pragas, fixação biológica de nitrogênio, bioativadores, fertilizantes organominerais. Enfim, crescimento em produtividade, com sustentabilidade e qualidade nos alimentos produzidos.
O agricultor brasileiro é um inovador. Aprendeu que a incorporação constante de tecnologias ao seu negócio é uma questão de sobrevivência. Em um ambiente altamente competitivo, a empresa rural sabe que somente inovando terá sucesso em remunerar seu capital imobilizado e condições de manter custos baixos e boa rentabilidade.
Mesmo com tantos avanços, ainda há muito espaço para evoluir. A adoção de tecnologias e a cultura da inovação não estão distribuídas uniformemente entre os produtores. Trazer essa discussão à tona e criar um canal de debate e troca de experiências constituem importantes estratégias para uma agropecuária cada vez mais inovadora, competitiva e sustentável.
Renato Roscoe é pesquisador na Fundação MS, em Mato Grosso do Sul, onde desenvolve trabalhos em agroenergia, fertilidade do solo e gestão de pesquisa e desenvolvimento. Mestre em Agronomia com ênfase em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Lavras e doutor em Ciências Ambientais pela Universidade de Wageningen, na Holanda, Roscoe atuou como pesquisador da Embrapa de 2001 a 2007.
Fonte: Monsanto em Campo
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