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A Pesquisa em Agroecologia na Embrapa Tabuleiros Costeiros


Publicado em: 03/12/2010 às 01:38hs

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Considera-se Agroecologia como Ciência ou campo de conhecimentos de natureza multidisciplinar, cujos ensinamentos pretendem contribuir na construção de estilos de agricultura de base ecológica e na elaboração de estratégias de desenvolvimento rural, tendo-se como referência os ideais da sustentabilidade numa perspectiva multidimensional.

Não obstante, muitos ainda a confundem com sistemas de produção, chamados até um tempo atrás de alternativos, como a agricultura orgânica, agricultura ecológica, agricultura natural, agricultura biodinâmica, entre outros. Em alguns momentos, estes sistemas de produção distanciam-se da Agroecologia quando se limitam à simples troca de insumos químicos por aqueles biológicos e/ou ecológicos, preocupando-se apenas em atingir determinados nichos de mercado, mantendo-se em um modelo de dependência de insumos externos e mesmo de mercado. Além disso, observa-se em várias situações que a dimensão tecnológica sobrepõe outras dimensões importantes e que no campo da Agroecologia encontram lugar de destaque, como a social e a cultural.

Dentro dessa lógica conceitual, a seguir, será feito uma breve cronologia da Agroecologia na Embrapa Tabuleiros Costeiros.

A partir de 2005, pesquisadores da Embrapa de 12 unidades foram reunidos em um Grupo de Trabalho (GT Agroecologia) para estabelecer o patamar em que estava a Agroecologia na empresa, identificando as oportunidades de avanço, assim como os seus principais entraves. O primeiro passo deste GT foi reunir um número maior de pesquisadores e analistas da Embrapa com parceiros de outras entidades, governamentais ou não governamentais, para a formulação de um documento que é parte da concretização de uma estratégia de institucionalização da abordagem agroecológica na Embrapa.

Este documento é o Marco Referencial em Agroecologia (MRA), lançado em novembro de 2006 (durante o Congresso Brasileiro de Agroecologia, em Belo Horizonte-MG). Na confecção deste documento participaram 41 unidades da Embrapa mobilizando mais de 400 funcionários e parceiros em instituições governamentais e não governamentais. No MRA em uma primeira parte é abordada a parte conceitual em Agroecologia, passando por evoluções, estratégias e as formas de pesquisa, desenvolvimento e inovação em Agroecologia. Num segundo momento o MRA internaliza o movimento de Agroecologia na Embrapa, determinando o seu estado da arte os desafios futuros dentro da empresa.

Durante o lançamento do MRA, o grupo reunido resolveu estruturar um novo projeto em rede, cujo título é “Transição Agroecológica: Construção Participativa do Conhecimento para a Sustentabilidade”, conhecido simplesmente por “Transição Agroecológica”, cujo líder é o pesquisador Carlos Alberto Medeiros da Embrapa Clima Temperado. Este projeto conta com a participação de 27 unidades da Embrapa espalhadas em todos os biomas brasileiros, além de 29 instituições parceiras sendo elas associações atuantes em Agroecologia, Universidades, Ministérios, Cooperativas de Agricultores Familiares, órgãos de assistência técnica oficiais e privados e institutos de pesquisas e desenvolvimento.

A Embrapa Tabuleiros Costeiros tem papel importante neste projeto, sendo líder de um dos projetos componentes, o que diz respeito à gestão dos conhecimentos e sistematização de experiências e conhecimentos agroecológicos. Este projeto componente é liderado por Amaury Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros) e tem como objetivos promover a sistematização de métodos, conhecimentos e experiências agroecológicas, com diálogo de saberes, tendo por base a consolidação de parcerias.

Em 2009, em parceria com a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), foram promovidos seis Seminários Regionais de Construção do Conhecimento Agroecológico, no qual foram selecionadas e sistematizadas 72 experiências em todo o país, com a apresentação de 12 delas no último Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA).

Algumas das experiências sistematizadas foram de responsabilidade de integrantes do projeto, até então pouco familiarizados com metodologias participativas de sistematização de experiências. A Embrapa Tabuleiros Costeiros participou deste evento com duas experiências, lideradas pelas analistas Raquel Rodrigues e Gislene Diniz, sendo que a primeira foi selecionada para apresentação no CBA.

Ainda no projeto de Transição Agroecológica, existe um eixo que trata da geração de novas referências tecnológicas, a partir de ações estratégicas de pesquisa, desenvolvimento, inovação e validação. Embora este tipo de pesquisa seja aquela que a Embrapa está mais acostumada a realizar, ao mesmo tempo é um grande desafio, pois as demandas são enormes e as cobranças também. A Embrapa Tabuleiros Costeiros contribui neste projeto com várias atividades lideradas pelos pesquisadores Semíramis Ramalho, Edmar Siqueira, Amaury Santos, Fernando Curado, Edson Diogo Tavares, Sérgio Procópio, além de Raul Dantas, parceiro da EMDAGRO e a analista Raquel Rodrigues.

Além dos projetos de pesquisas no Macroprograma 1, a Embrapa conta com o Macroprograma 6 (MP6) que se dedica integralmente à agricultura familiar. Estimula a pesquisa participativa, onde as famílias agricultoras atuam como sujeito e objeto da pesquisa. O MP6 fomenta projetos voltados a fornecer suporte a iniciativas de desenvolvimento sustentável, nas vertentes técnicas, sociais e ambientais da agricultura familiar e de comunidades tradicionais, na perspectiva de agregação de valor e, prioritariamente, com abordagem territorial, promovendo a convergência de esforços multiinstitucionais e interdisciplinares. Nesta linha de pesquisa, o CPATC conta com dois projetos aprovados e mais um em fase de aprovação. Os trabalhos aprovados se dedicam ao desenvolvimento sustentável de uma comunidade de pescadores em Itaporanga D’Ajuda – SE e também à experimentação participativa em seis assentamentos rurais no Estado de Sergipe.

A política de desenvolvimento territorial tem sido bastante enfatizada pelo governo federal e também no Estado de Sergipe. Dentro dessa perspectiva, o CPATC tem se aproximado dessa política e participando ativamente no estabelecimento e fortalecimento de territórios, tendo a frente desse processo o pesquisador Edmar R. de Siqueira, sendo a Agroecologia um componente forte e norteador destes processos.

Enfim, a pesquisa agroecológica no âmbito da Embrapa Tabuleiros Costeiros tem caminhado, não na velocidade necessária, mas na que é possível. No entanto, com o estreitamento das parcerias dentro dos projetos existentes, além de promover novos projetos com a participação efetiva da sociedade civil e entidades das diversas esferas governamentais, a tendência é uma aceleração do processo, alavancando a Agroecologia no Brasil.

Amaury Santos e Fernando Curado são pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Sergipe-SE

Fonte: Embrapa Tabuleiros Costeiros

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