Mais de 30 pessoas de seis unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa (Soja, Agrobiologia, Uva e Vinho, Meio Ambiente e Gado de Leite) estão reunidas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, nos dias 28 e 29 de agosto, para discutir normas de qualidade relacionadas à gestão de Centros de Recursos Biológicos (CRBs). O curso é uma das ações do projeto “Modelo Corporativo de Gestão para as Coleções de Micro-organismos da Embrapa– GESTCOL”, que tem como objetivo garantir a qualidade das coleções microbianas mantidas pela Empresa e adequá-las às exigências do mercado nacional e internacional.

Os CRBs constituem um dos grupos de coleções de micro-organismos (fungos, bactérias e vírus) contemplados pelo Projeto GESTCOL, que abrange ainda as coleções institucionais e de trabalho. A função principal desses Centros é preservar e fornecer recursos biológicos (com qualidade assegurada) para a pesquisa científica e também para aplicações nos setores industriais, de agronegócios, ambiente e saúde.

Mas, para se tornar um CRB, a coleção tem que atender às normas de acreditação do INMETRO e dos demais órgãos reguladores. Por isso, o treinamento foi a primeira ação de capacitação do projeto GESTCOL, iniciado em 2012, como explica a líder do projeto e pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Clarissa Silva Pires de Castro. Ao longo dos seus três anos de execução, serão realizados treinamentos também para as equipes responsáveis pelas coleções institucionais e de trabalho.

Treinamento é fundamental para garantir a qualidade das pesquisas

Para os pesquisadores Maria Aparecida Brito e Gildo Almeida, responsáveis pelas coleções microbianas da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG) e Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), respectivamente, o curso é fundamental para garantir a adequação das coleções às normas de qualidade nacionais e internacionais: ABNT ISO GUIA 34, ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 e OECD Best Practice Guidelines for Biological Resource Centres.             O cumprimento dessas normas é fundamental para que as coleções alcancem níveis de excelência e atendam a normas nacionais e internacionais, regulamentações de biossegurança, acessibilidade e harmonização dos procedimentos e processos.

Segundo eles, apesar de trabalharem há muito tempo com coleções microbianas (a Embrapa investe na sua formação desde a década de 70), elas cresceram muito e hoje abrangem uma gama variada de micro-organismos, incluindo espécies relacionadas ao controle biológico de pragas, fertilidade do solo, de interesse industrial e causadores de doenças em animais e vegetais, entre outras.

“Por isso, é preciso se adequar a esse crescimento e desenvolver um sistema de gestão que se aplique às normas exigidas pela legislação brasileira e internacional”, ressaltam os pesquisadores, lembrando que a organização e a estruturação das coleções microbianas sem um padrão de gestão pode levar a perda de muitos micro-organismos, tornando-os inviáveis para utilização em prol da agricultura e da indústria. Além disso, o atendimento às normas de qualidade nacionais e internacionais é fundamental para que a Embrapa possa realizar intercâmbio com instituições públicas e privadas.

Brito e Almeida afirmam ainda que os treinamentos são muito importantes para padronizar os procedimentos de qualidade entre as diversas unidades da Embrapa que possuem coleções de micro-organismos.

Benchmarking: interação e comparação para garantir o bom desempenho

O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho diz que o curso está sendo determinante para ajudá-lo na preparação para a visita que vai realizar a instituições de pesquisa da Holanda e Alemanha no fim deste ano.

A visita faz parte da metodologia de Benchmarking, utilizada no projeto GESTCOL, que tem como base a comparação contínua de desempenhos entre instituições para garantir um alto nível de resultados.

Almeida vai visitar as coleções do Instituto DSMZ de Leibniz, na Alemanha e do CBS (Centraalbureau voor Schimmelcultures Baar), em Delft, Holanda. No mesmo período, a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Rose Monnerat, vai ao Instituto Pasteur, na França, e ao BCCM (Belgian Co-ordinated Collections of Micro-organism), Bélgica.

Serão visitadas também as coleções de micro-organismos mantidas por instituições brasileiras, como a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), que são consideradas modelos nas áreas de saúde e meio ambiente, respectivamente.

Centros de recursos biológicos: material genético à disposição da ciência e da sociedade

Para Moisés de Aquino, gerente do Núcleo de Gestão da Qualidade da Embrapa Soja (Londrina, PR), que também está participando do curso, eventos como esse são fundamentais, pois além de divulgarem as normas exigidas para a manutenção das pesquisas, possibilitam também a troca de experiência entre as equipes da Embrapa em procedimentos de pesquisa, como a validação de métodos, por exemplo.

A Embrapa Soja e a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia são candidatas a CRBs, além das unidades de Agrobiologia e Meio Ambiente.

Metas do GESTCOL: diagnosticar e estruturar as coleções microbianas da Embrapa

Além de capacitar os recursos humanos envolvidos com as coleções nas normas de gestão de coleções e no sistema de informação de micro-organismos, o Projeto GESTCOL vai resultar também na produção de: um manual de organização para as coleções de micro-organismos da Embrapa; um banco de competências no tema de gestão de coleções de micro-organismos; 80 procedimentos harmonizados (técnicos, de equipamentos e gerenciais); 80 registros harmonizados (equipamentos, pessoal, condições ambientais, experimentos, de qualidade) e quatro planos de negócios para CRBs.

O Projeto GESTCOL é liderado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e conta com a participação de outras 16 Unidades da Embrapa –Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG); Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS); Suínos e Aves (Concórdia, SC); Soja (Londrina, PR); Gado de Leite (Juiz de Fora, MG); Hortaliças (Brasília, DF); Cerrados (Brasília, DF); Meio Ambiente (Jaguariúna, SP); Agroenergia (Brasília, DF); Arroz e Feijão (Goiânia, GO); Agropecuária Oeste (Dourados, MS); Agrobiologia (Seropédica, RJ); Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ); Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE); Caprinos (Sobral, CE) e Clima Temperado (Pelotas, RS).

Como parceiros externos à Embrapa, estão o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) e o Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR).