Biotecnologia

CRISPR: Biotecnologia muito além da agricultura

Você sabia que as bactérias também podem sofrer ataques de vírus?


Publicado em: 15/10/2020 às 15:00hs

CRISPR: Biotecnologia muito além da agricultura

E quando isso acontece, a bactéria guarda informações em seu DNA sobre esse vírus para que, num próximo ataque, ela saiba reconhecer o invasor. Estas informações ficam guardadas em um local chamado CRISPR (sigla para Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Espaçadas).

No momento do novo ataque, com acesso às informações previamente guardadas, uma proteína (Cas9) passa a ser produzida, entra em ação contra o vírus. A proteína Cas9 funciona como uma tesoura, eliminando a parte do DNA da bactéria que foi atacada pelo vírus. Com isso, o vírus não consegue se reproduzir.

Foi essa a descoberta feita, por acaso, por duas cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley, ao estudar como bactérias se defendem de vírus. E foi ela que originou uma das tecnologias mais promissoras de modificação genética, o CRISPR, que já foi tema de nosso blog.

A inovação da tecnologia do CRISPR está em justamente trocar essa informação sobre o vírus, guardada no CRISPR do DNA, e colocar uma sequência de qualquer gene, que se queira (ou não queira) expressar, dentro do genoma. É uma tecnologia mais precisa, mais rápida e de menor custo do que técnicas de DNA recombinantes convencionais.

No âmbito da saúde, essa ferramenta pode permitir, por exemplo, que o gene de certa doença genética seja "cortado" -- evitando a expressão da doença do indivíduo. Ou ainda ter uma edição no gene dos mosquitos Aedes aegypti para que eles fossem incapacitados de transmitir a dengue e outras doenças.

E para o setor agrícola, o potencial também é enorme. A tecnologia CRISPR, cujos primeiros testes na agricultura ocorreram em 2013, tem ajudado os cientistas a desenvolver plantas de três formas:

Aumentando o seu rendimento, como no caso de tomate, couve, milho, trigo e arroz;

Melhorando a qualidade das plantas, por exemplo, deixando-a mais nutritivas ou aumentando a sua durabilidade;

E deixando as plantas mais resistentes à falta d´água ou altas temperaturas, ajudando a agricultura a enfrentar o desafio das mudanças climáticas. Este é o caso de cacau, pepino, trigo e arroz.

Dos laboratórios à mesa: um longo caminho

No Brasil, o uso do CRISPR, que faz parte das TIMP (Técnicas Inovadoras de Melhoramento de Precisão), é analisado pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). A CTNBio é o órgão responsável pela liberação destes produtos. Ela avalia o produto e, como conta esta publicação da CropLife, o classifica, como sendo ou de melhoramento convencional (quando uma planta é cruzada com outra da mesma espécie), mutagênese (processo pelo qual a informação genética de um organismo é alterada, resultando numa mutação) ou se é OGM (organismo geneticamente modificados -- conhecidos popularmente como transgênicos) e procede com a liberação.

Nos Estados Unidos, já é possível degustar cogumelos paris e batatas que não escurecem após o corte. Aqui no Brasil, até o momento, existem dois produtos, um de origem vegetal e outro de origem animal (tilápia), provenientes desta biotecnologia. E a tilápia, apesar de não ser classificada como OGM na Argentina, por exemplo, foi aprovada no nosso país pela CTNBio, em 2019. Essa tilápia apresenta características como melhoria de 70% no rendimento do filé, aumento de 16% no índice de crescimento e melhoria de 14% no índice de conversão alimentar, em comparação com tilápias que não passaram pelo mesmo processo. A expectativa de novos lançamentos é grande! Nós mesmos temos planos para um futuro breve (aguardem!). ?

Fonte: Syntenta

◄ Leia outras notícias