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Uma caminhada ao conhecimento

Dia de campo com 250 agricultores familiares divulga oito tecnologias da Embrapa


Publicado em: 10/12/2012 às 13:10hs

Uma caminhada ao conhecimento

Com oito estações demonstrativas, a Estação Experimental Cascata (EEC) da Embrapa Clima Temperado, proporcionou que pesquisadores e agricultores familiares trocassem experiências durante o dia de campo Alternativas para Diversificação da Agricultura Familiar. O foco das estações foram tecnologias para beneficiar o segmento, desde dicas de manejo para conservação do solo até o desenvolvimento de culturas e cultivares como as batatas, oliveiras e citros.

A caminhada em direção às estações levou os agricultores a conhecer a Vitrine Tecnológica composta por equipamentos, com baixos custos de elaboração e exploração, que facilitam a vida no campo. O pesquisador Carlos Reisser Jr. apresentou o Coletor Solar, o Carbonizador de Casca de Arroz e o Injetor de Biofertilizantes. O primeiro tem a função de desinfetar substratos utilizados na produção de mudas. O equipamento controla as doenças causadas por microrganismos sem utilizar produtos químicos, que contaminam o ambiente e colocam os agricultores em risco. Segundo o pesquisador, a única desvantagem do equipamento é que em dias nublados sua eficiência não é tão grande, já que utiliza a luz solar. Como vantagens ele destaca a fácil manutenção e construção, o fato de não consumir energia paga e não eliminar microrganismos benéficos.

O segundo equipamento, o carbonizador de casca de arroz, apresenta um alto aproveitamento do material queimado, sem perdas. A casca de arroz destaca-se na elaboração de substratos pelo baixo custo e grande disponibilidade na região Sul. E por fim, o Injetor de Biofertilizantes é utilizado para fazer a fertilização na irrigação, injetando adubo orgânico na rede de irrigação. O não consumo de energia elétrica é uma das vantagens de sua utilização.

Ainda na mesma estação, o analista Rafael Porto apresentou a Fossa Séptica Biodigestora, tecnologia desenvolvida pela Embrapa Instrumentação (São Carlos/SP) e divulgada na região Sul pela Unidade Clima Temperado (Pelotas/RS), que procura minimizar o problema de falta de tratamento no esgoto sanitário. Rafael explicou a forma de construção, funcionamento e manutenção da fossa. Em seguida, apresentou o Clorador Embrapa, tecnologia que visa diminuir os problemas relacionados às doenças causadas por água contaminada. O sistema, simples e barato, viabiliza a inserção de cloro na caixa d’água da residência utilizando a própria energia hidráulica. O resultado é a desinfecção da água para consumo humano.

A segunda estação focou o Cultivo da Oliveira: Coleção de cultivares, com o pesquisador Enilton Fick Coutinho, que mostrou também o manejo orgânico para a cultura. No espaço foram apresentadas 13 cultivares mais promissoras para região. Segundo ele, os olivais começam a produzir a partir do terceiro ano, mas é no sétimo, que o agricultor tem um retorno econômico. “Há um ganho de 30 mil reais/ha/ano, o que deve resultar entre 22 a 23 mil reais líquidos”, disse. Outra vantagem dos olivais é a conservação do solo, o aproveitamento dos resíduos para compostagem, as folhas para elaboração de chás e os galhos para artesanato, como a confecção de crucifixos. “É uma cultura muito especial, em termos de sustentabilidade, se aproveita tudo”, analisa. Enilton explica que as oliveiras se adaptaram bem a nossa região, em função do clima seco, e se comportaram resistentes as geadas. O município de Bagé e região da Fronteira do Estado tem apresentado bons resultados com a cultura.

A terceira estação tratou da apresentação de adubos verdes.  O pesquisador Flávio Carvalho e o extensionista da Emater/RS, Roberto Leaes Simch mostraram como podem ser utilizadas as gramíneas capim sudão, milheto e sorgo forrageiro  e as leguminosas, feijão  de porco, mucuna cinza, guandu anão entre outras como forma de recuperar as características, químicas, físicas e biológicas e também melhorar a capacidade produtiva do solo. Os especialistas falaram que existe a possibilidade de consorciar as duas, porque cada uma age de uma forma na recuperação do solo, as gramíneas possibilitam a massa a ser incorporada no solo, enquanto as leguminosas realizam a fixação do nitrogênio no solo. De acordo com o pesquisador Flávio Carvalho a intenção é resgatar uma prática que já vinha sendo usada. “Colocar novamente a prática da adubação verde como uma fonte importante no sistema de produção de base ecológica", disse.

Como a batata-doce é uma cultura com multiplicidade de uso,  serviu como tema da quarta estação do dia de campo. O pesquisador Luís Antonio Suita de Castro explicou que a cultura serve para o uso da família, na merenda escolar, na alimentação de aves (galinhas), na  produção de álcool gel e também na geração de renda para Agricultura Familiar. A supervisora de Transferência de Tecnologia da Unidade, Andrea Noronha, divulgou formas de manejo das cultivares recentemente lançadas pela Embrapa, a BRS Rubissol, BRS Cuia e BRS Amélia. Segundo ela,  existe três fases na produção dessas cultivares, a primeira fase fica por um período, após são colocadas em copos plásticos, e na última fase, vão diretamente para os canteiro no campo. "Esse evento é uma forma de mostrarmos aos agricultores a forma que a gente vem trabalhando para cada vez mais ajudá-los",  comentou.

Foi realizado, na quinta estação, o lançamento oficial, no Sul do País, da cultivar de batata– BRSIPR Bel, que apresenta alto teor de matéria seca, conferindo qualidade excepcional na fritura. O analista da Embrapa Produtos e Mercado - Escritório de Canoinhas/SC Antônio César Bortoletto, explica que a cultivar apresenta taxa de multiplicação superior as outras, tem material seco e produtividade elevados as suas similares, vantagens essas, que proporcionam um maior retorno financeiro ao agricultor familiar. Antônio destacou também que, a partir de fevereiro de 2013 será disponibilizada para a venda sementes da cultivar. Interessados podem entrar em contato com o Escritório do Capão do Leão/RS pelo telefone (53) 3275-9199.

Na ocasião, os participantes degustaram batatas no formato palha, produzidas em parceria pela Embrapa e pela agroindústria Prolazer. Segundo o proprietário da empresa, José Luiz Fernandes Itorbide, a cultivar é mais fácil de trabalhar e consome pouca gordura, se comparada a cultivar Asterix, batata que ele utiliza atualmente. “A princípio fizemos um teste para avaliação do produto, e já foi possível, percebermos a sua qualidade. Em breve, esperamos que os produtores da região ofereçam a nova batata para analisarmos a possibilidade de trabalharmos com ela também”, complementou.

Uma coleção de cultivares de amendoim e de mandioca na sexta estação foi preparada pelo pesquisador José Ernani Schwengber  aos participantes. Segundo ele, motivar os agricultores a dar importânica à caracterização e coleta dos materiais crioulos para Agricutura Familiar foi o objetivo principal. “Eles não sabem muitas vezes o que estão produzindo, então ao ajudá-los no manejo da coleta, poderemos caracterizar melhor e desenvolvermos um produto certificado, vamos dar maior qualidade  aos seus materiais”, analisou.

A cultura da mandioca foi indicada tanto para alimentação humana como animal, e a cultura do amendoim para grãos. O Estado possui cerca de 82 mil hectares de plantio de mandioca, sendo que a cultura está presente em 94% dos municípios gaúchos.

Quanto a cultura do amendoim, considerada mais rara, o pesquisador falou  “temos 15 variedades de amendoins plantados, já estão sendo testados em três assentamentos da reforma agrária os materiais que se adaptam bem à região, os resultados demonstram cerca de 3 a 3,500 kilos/ha”.

O analista José Faustini de Oliveira apresentou na sétima estação o Sistema Intensivo de Cultivo de Arroz (SICA), através de uma unidade de observação instalada na Estação. O sistema é indicado para a agricultura familiar por causa da baixa utilização de insumos, além de não necessitar de muita água. Segundo ele, este é o terceiro ano que acompanham o desenvolvimento da lavoura nesse sistema, que se manejada da forma correta, favorece a produção orgânica de arroz. “Esperamos que a pesquisa desperte para a produção orgânica de arroz, e essa unidade de observação pode nos ajudar nisso”, destacou ele.

A última estação foi dedicada a Compostagem Laminar, um processo dirigido de decomposição de resíduos orgânicos, realizado na superfície do solo. O pesquisador Gustavo Schiedeck  preocupou-se em mostrar a diferença de se ter, ou não ter, este processo, já que é um facilitador na conservação da umidade do solo. “Em época de seca, qualquer palha que se jogar por cima, lá dentro, não evapora”, destacou.

Os 250 agricultores participantes do evento vieram de Rio Grande, Vera Cruz, Santa Maria, Turuçu e outras localidades do Estado. Ao encerrar as atividades, cada um levou para sua propriedade um conjunto de mudas de batata-doce, sementes de milho crioulo, de abóbora e uma garrafa de húmus para elaboração de verme composto. Uma forma de não esquecer o dia que se passou na Embrapa.

Fonte: Embrapa Clima Temperado

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