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UE cobra firmeza do Brasil em reação a barreira argentina

Um dos principais negociadores comerciais da União Europeia criticou ontem a passividade do Brasil com o protecionismo da Argentina e desafiou o Mercosul a entregar logo uma proposta que permita avanços nas negociações de um acordo de livre comércio entre os dois blocos, sob risco de perder mercado para outros parceiros


Publicado em: 25/01/2013 às 18:40hs

UE cobra firmeza do Brasil em reação a barreira argentina

Em tom de cobrança, as advertências foram dadas pelo diretor-geral-adjunto de Comércio da Comissão Europeia, João Aguiar Machado.

"Estamos muito preocupados com a situação da Argentina", comentou o funcionário europeu, durante o 6º Encontro Empresarial UE-Brasil, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele fez menções à desapropriação de empresas, como a petrolífera espanhola YPF Repsol, e à adoção sistemática de licenças não automáticas de importação pela Argentina.

Machado deixou claro que, na avaliação europeia, o governo e os empresários brasileiros têm sido passivos demais diante das barreiras argentinas. "Como líderes regionais e globais, tanto a UE quanto o Brasil têm responsabilidade sobre essa questão. Mas enquanto o Brasil tem sido fortemente afetado pelo protecionismo da Argentina, não tem assumido uma posição pública contra essa questão", afirmou o funcionário, diante de representantes da indústria. "Entendemos que é preciso tratar com cuidado as relações com a vizinhança, mas a UE tem a expectativa de que a comunidade empresarial brasileira faça ouvir mais fortemente a sua voz", acrescentou.

Ontem, a Argentina aumentou, um ano e um mês depois de autorizada pela penúltima reunião de cúpula do Mercosul, a alíquota para importações de cem produtos, caso as compras sejam feitas fora do bloco econômico. De acordo com o jornal "Clarín", a Argentina começará a cobrar 35% pelas importações de produtos de bens de consumo final, como motocicletas de até 800 cilindradas, brinquedos, cerâmicas, calçados, bijuterias, cafeteiras, isqueiros e cosméticos.

O diretor-geral-adjunto de Comércio da Comissão Europeia, de forma menos enfática, também disparou críticas a benefícios dados pelo governo brasileiro para o setor industrial, como a exigência de conteúdo local em licitações. "Não acreditamos que políticas de substituição de importações são uma receita para aumentar a competitividade da indústria doméstica", provocou.

Machado fez uma exposição do estado das negociações em curso pela UE e enumerou acordos de livre comércio concluídos recentemente: com Coreia do Sul, Cingapura, Canadá, Colômbia, Peru e América Central. O bloco se prepara ainda, nos próximos meses, para lançar negociações com Japão, Vietnã e Tailândia. E deve obter, antes do verão no Hemisfério Norte (julho), mandato do Parlamento Europeu para discutir um tratado com os Estados Unidos.

"Esse panorama mostra que, para a UE, a saída da crise passa pela abertura comercial", afirmou Machado, complementando que o comércio internacional e o investimento têm papéis cruciais na estratégia europeia de enfrentamento dos efeitos da crise financeira global.

Diante disso, foi categórico em lembrar que o Mercosul está ficando para trás e cobrou a apresentação de uma oferta de acesso a mercados pelo bloco, que daria início ao processo de barganha para a redução das tarifas de importação. De acordo com Machado, não há mais o que negociar a respeito das regras gerais do acordo. "As discussões dos aspectos normativos já se esgotou e agora temos que passar à troca de ofertas. Se não, não vamos avançar mais."

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse que o governo vai defender "que um acordo comercial seja feito com a maior brevidade". O assunto será tratado hoje pela presidente Dilma Rousseff, durante a reunião de cúpula UE-Brasil, em Brasília. Logo em seguida, haverá consultas aos demais parceiros do Mercosul, em um encontro de cúpula da UE com o bloco, em Santiago.

A dificuldade em avançar nas negociações com a UE faz com que empresários brasileiros percam a paciência com o Mercosul e defendam a obtenção de um acordo sem a presença dos demais países do bloco. "Se eles não vierem a aderir já, que possamos avançar nós, para que seja um acordo progressivo entre o Mercosul e a UE", disse o presidente da União Brasileira de Avicultura, Francisco Turra, que representa produtores de carne de frango.

Turra chamou esse modelo de "early hearvest" (colheita antecipada).

Trata-se de um acordo progressivo, no qual os benefícios de redução de tarifas vão sendo implementados gradualmente, à medida que houver acordos setoriais ou entre países. Para ele, não há perspectivas de conclusão da Rodada Doha e existe uma corrida por acordos bilaterais de comércio - da qual o Brasil não tem participado. Turra mencionou o Chile como um caso de sucesso na abertura de mercados. O país andino tem um acordo de livre comércio com a UE desde 2002.

Fonte: Avisite

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