O combate à fome é uma condição essencial para o desenvolvimento sustentável e a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, será um momento importante para a discussão de propostas na área. A avaliação é do diretor-geral do Fundo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva.

“Nós não podemos chamar [o que ocorre] de desenvolvimento sustentável enquanto quase um em cada sete homens, mulheres e crianças é deixado para trás, vítima de desnutrição”, afirmou Graziano nesta quarta-feira (30).

Por ser essencial para a sustentabilidade, em qualquer prisma, a segurança alimentar pode ser um ponto de convergência entre os países com diferentes posições sobre os rumos que o desenvolvimento deve tomar. “A busca da segurança alimentar pode ser o fio condutor que liga os diferentes desafios que enfrentamos e ajuda a construir um futuro sustentável”, avaliou Graziano.

O tema da fome deve mesmo ter relevância na Rio+20, porque está ligado diretamente ao tema da conferência: “A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”. “A questão da segurança alimentar está na mesa de negociações e passa pelo pilar da erradicação da pobreza”, afirma o gerente geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), Rodrigo Lima.

Nesta semana, ocorre em Nova York a última rodada de negociações sobre o rascunho da declaração final da Rio+20 antes do início da conferência. Graziano espera que na Rio+20, que começa no dia 13, seja reiterado o empenho no comprometimento de reduzir a fome e a desnutrição no mundo, a partir de diretrizes sobre o direito à alimentação e à posse da terra para alcançar a segurança alimentar de forma equitativa e com base no desenvolvimento sustentável.

Agro em destaque

Para FAO, o ideal é investir também nos sistemas agrícolas, que servem como base para a alimentação no mundo. No relatório Rumo ao Futuro que Queremos: Acabar com a Fome e Fazer a Transição para Sistemas Sustentáveis ??de Agricultura e Alimentação, o órgão apela aos governos para que invistam nos sistemas agrícolas e em infraestrutura que sirva de base para a alimentação no mundo.

“O agro tem um envolvimento muito pesado com os temas da Rio+20, em vários temas, como erradicação da pobreza, economia de baixo carbono e boas práticas de produção”, explica Lima.

Há um grande foco dos líderes para a Rio+20 sobre a construção de novos padrões de produção, segundo o assessor especial para a Rio+20 do Ministério do Meio Ambiente, Fernando Lyrio. “Padrões de produção e consumo são o tema que mais simboliza a polarização do debate entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento”, disse ele nesta terça-feira, ao participar de um seminário promovido pelo Centro de Estudos de Energia e Sustentabilidade da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “Há grande foco na produção, mas como assegurar o acesso ao consumo para quem ainda não tem?”

O aumento da população e da renda mundiais fará a demanda por alimentos crescer 60% até 2050, segundo dados da ONU. “Acredito mais na mudança dos padrões de produção no que nos de consumo, porque é mais fácil produzir carne de forma mais sustentável do que convencer uma pessoa a abrir mão do bife no prato”, defende Lima, do Icone.