Publicado em: 06/01/2012 às 17:00hs
O ano que passou teve queda de safra de cana e de produção do combustível, ao mesmo tempo em que a frota de carros flex aumentou.
Na reportagem desta quarta-feira (4), Rodrigo Alvarez foi às ruas mostrar a complicada relação do consumidor brasileiro com um programa que não tem nenhuma regulação.
Será ainda ‘E’ de econômico? Ou a letrinha que anunciava o preço baixo do etanol agora está mais para ‘E’ de esquecido?
O brasileiro deu um tempo no etanol, e não foi por falta de amor. “O amor continua, mas precisa valer também a parte financeira”, brinca uma mulher.
O combustível, bonito por natureza, nosso por excelência, já foi uma pechincha. Mas agora, até quem não faz a conta porque tem um velho modelo que só roda com álcool percebe a diferença: “Pensava que seria melhor, mas hoje o álcool dá quase o mesmo valor da gasolina”, diz o pedreiro Clodoaldo.
Não precisa nem voltar ao tempo em que o carrinho do pedreiro Clodoaldo era um zero quilômetro. Em junho de 2009, na média nacional, um litro valia 56% do litro da gasolina.
É tão simples, que muito motorista faz as contas na calculadora do celular, por uma questão de diferença na eficiência dos combustíveis, se o álcool custar mais do que 70% do preço da gasolina, não vale a pena.
“É uma crise. É um problema típico de produto agropecuário, que pode passar por restrição de oferta em função de clima”, explica a economista Amaryllis Romano.
E como em toda crise, existe uma enxurrada de motivos: duas quebras de safra, menos cana, menos álcool. Ainda mais com usineiros aumentando a produção de açúcar para exportar.
Com tudo isso, nem a redução na quantidade de álcool que é misturada à gasolina ajudou nos preços. Tremenda calça curta.
“Não se planejou o crescimento da frota como deveria ter sido planejado. E não se planejando o crescimento da frota, não se planejou o crescimento das usinas e da área plantada”, avalia José Alberto Gouveia, do Sindicato dos Postos de SP.
É mais um momento de incertezas em uma história com alguns sobressaltos, que começa no tempo em que 80% do combustível que abastecia nossos carros vinha de fora do Brasil. Isso foi nos anos 70. Uma crise na oferta internacional de petróleo pegou o Brasil de surpresa e surgiu o chamado Pró-Álcool, e chegou às ruas um carro para entrar na briga com o motor a gasolina.
Nos anos 80, veio a conquista do espaço. O movido a álcool ultrapassou a concorrência e em 86 chegou a quase 700 mil unidades vendidas. Depois de boas voltas na liderança, começou a faltar álcool nos postos e o brasileiro deixou o carrinho para trás. Até que, em 2003, aparece um novo modelo na pista: um carro, com dois combustíveis.
O flex já chega acelerado, assume a ponta em 2006, passa de 2,6 milhões de unidades vendidas em 2010 e, apesar de ainda ter mais de 80% das vendas, perde um pouco de velocidade pela primeira vez no ano passado. E agora?
“A população ficou um pouco apavorada porque tem gente que tem a memória do período em que, de fato, faltou álcool. O que não é a realidade hoje em dia”, afirma a economista Amaryllis Romano
A realidade hoje é uma quantidade cada vez maior de carros flex nas ruas brasileiras. Enquanto a produção do etanol hidratado, aquele que vai direto para a bomba, cresceu muito, mas perdeu fôlego em 2010 e tomou um tombo de 30% no ano passado.
Fim da linha? Longe disso: “Não tem uma frota capaz de usar um bicombustível em tão larga escala como está aqui. E a gente não deve abrir mão disso, não. Isso é um destaque, é um privilégio do consumidor brasileiro”, avisa a economista.
Fonte: Gazeta Web
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