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Al Gore defende etanol e critica "subsídio" brasileiro à gasolina

No Brasil, Nobel da Paz ressaltou as energias renováveis e o plantio direto contra o aquecimento


Publicado em: 01/10/2012 às 10:00hs

Al Gore defende etanol e critica "subsídio" brasileiro à gasolina

O ex-vice-presidente americano e ganhador do prêmio Nobel da Paz, Al Gore, afirmou em palestra no Brasil que exemplos do agro nacional como o etanol e o plantio direto são caminhos para reduzir o aquecimento global. Ao falar para o público do Global Agribusiness Forum na quarta-feira (26), em São Paulo, Gore fez uma crítica indireta ao governo brasileiro, que estaria “subsidiando a queima de petróleo” ao manter o preço interno da gasolina abaixo do valor internacional.

Considerado até alarmista por alguns, Gore é um dos líderes da sensibilização da sociedade mundial para os riscos do aquecimento global. O documentário Uma Verdade Incoveniente (2006), que acompanhou sua saga de palestras sobre o tema, venceu dois Oscars – Melhor documentário e melhor canção original.

Além de apresentar dados e imagens que comprovariam as manifestações e danos atuais do aquecimento global, Gore ressaltou que a agricultura tem um grande papel na redução do fenômeno. “Três quartos do estoque de carbono do mundo está na faixa superficial do solo, por isso o plantio direto pode ajudar muito [a reduzir as emissões de carbono]”, afirmou ele, reconhecendo que a prática é bastante difundida no Brasil. O País é o líder no uso do plantio direto no mundo, prática que dispensa a aragem do solo e deixa os resíduos da colheita no solo, evitando a emissão do carbono e a perda de água da terra.

“Nós sabemos que precisamos mudar e temos as soluções ao alcance das mãos, como as novas práticas agrícolas e a energia renovável”, completou Gore. Ele lembrou que o Brasil “liderou o ganho de escala de um combustível alternativo ao petróleo” e disse que o clima também tem um papel nas dificuldades que estão ocorrendo no setor de cana-de-açúcar brasileiro. “Tivemos a seca quebrando a safra e a chuva dificultando a colheita nos últimos anos”, disse. Segundo ele, uma das características do aquecimento global é o maior espaçamento entre os períodos chuvosos, gerando grandes secas e grandes inundações alternadamente.

Apesar disso, Gore reconheceu que a estagnação da produção brasileira de etanol não se deve apenas à questão climática, e destacou que o rendimento da cana brasileira é até três vezes maior do que nos Estados Unidos. Questionado pelo ex-ministro do Meio Ambiente e professor da Universidade de São Paulo José Goldemberg sobre a política de preços da gasolina no Brasil, Gore classificou a manutenção artificial do combustível a preços abaixo do mercado internacional como um “subsídio à queima de petróleo”.

Em palestra no mesmo evento, o ex-ministro da Agricultura e da Fazenda Antonio Delfim Netto afirmou que não há outra forma de tornar a taxa de retorno do etanol atrativa para novos investimentos que não o aumento do preço da gasolina. O governo reluta em reajustar o combustível ao preço de importação como estratégia para evitar uma pressão inflacionária, o que foi questionado por Delfim. “Estou convencido de que é muito mais mito do que fato que o aumento geraria inflação, porque a alta se dissiparia pela cadeia de forma muito mais amena do que no passado”, avaliou o ex-ministro e ex-deputado federal.

Adaptação da agricultura

Além de citar a necessidade de o agro adotar as práticas que emitem menos gases do efeito estufa, Gore alertou que o setor está extremamente vulnerável aos efeitos do aquecimento, um evento sem precedentes na história da humanidade. “Desde o início da agricultura e das primeiras cidades, nunca conhecemos um padrão climático diferente, mas agora ele está mudando porque estamos tirando da terra uma energia enviada pelo Sol eras atrás”, disse ele, em referência à exploração e queima de petróleo e derivados.

Goldemberg considera que “estamos fazendo a primeira experiência científica planetária e em tempo real de que se tem notícia”, em referência à emissão de energia (carbono) na atmosfera. “Todos os dias, é jogada na atmosfera uma energia extra tirada do fundo da terra que equivale a 400 mil bombas atômicas”, citou Gore.

Como indicadores das mudanças climáticas, o político americano comentou que os 10 anos mais quentes desde que os registros começaram a ser feitos, na década de 1880, foram registrados nos últimos 14 anos. “Estamos há 330 meses com temperaturas superiores à média do século 20, e as chances de ocorrer temperaturas acima da média hoje são o dobro das chances de termos temperaturas na média ou abaixo dela”.

Essas mudanças afetam a agropecuária e também pressionam os preços dos alimentos, como está ocorrendo agora, por conta da seca nos Estados Unidos. Nesse sentido, Gore ressaltou a importância específica de seu país e do Brasil. “O que Brasil e Estados Unidos fazem em agricultura têm grande impacto no resto da humanidade. Basicamente, são as Américas do Norte e do Sul que produzem superávit de alimentos para o resto do mundo.”

Por serem as principais potências agrícolas do mundo, a vulnerabilidade desses dois países às mudanças climáticas é especialmente preocupante para todo o mundo. “No ritmo atual, 35% do sul das Grandes Planícies nos Estados Unidos não terão água para irrigação em 30 anos”, alerta.

Fonte: Sou Agro

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