Publicado em: 22/02/2012 às 19:40hs
O setor do agronegócio brasileiro prepara-se para ser protagonista na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em junho. Para ganhar poder de influência no evento, entidades representativas têm-se antecipado nos debates, realizando encontros para discutir os exemplos nacionais de agropecuária sustentável.
Nos últimos anos, o setor conseguiu tornar a produção rural mais produtiva e menos predatória. O aumento da produtividade nos pastos e nas lavouras do Brasil, com o uso de novas técnicas agrícolas, coloca o País em posição central nos movimentos pela sustentabilidade.
Contudo, a agricultura empresarial ainda carrega a pecha de desmatadora, tendo sido responsável pela destruição de parte dos 55 milhões de hectares desmatados ilegalmente no Brasil ao longo das últimas décadas, segundo o especialista em sustentabilidade ambiental José Eli da Veiga. E o Código Florestal, em tramitação na Câmara dos Deputados, prevê anistia para os ruralistas que destruíram Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Por outro lado, em 20 anos, a agropecuária nacional também deixou de desmatar 57 milhões de hectares, em função do melhor aproveitamento da terra, de acordo com o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. E, nesta década, o cultivo de grãos (arroz, feijão, milho, soja e trigo) deve aumentar 23%, com expansão de apenas 9,5% na área plantada, de acordo com um estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
"Os números são claríssimos", disse Rodrigues ao DCI. "O Brasil já fez um trabalho bem-feito para o desenvolvimento sustentável". Rodrigues espera que da Rio+20 resulte uma carta de intenções e compromissos assumidos pelos países, em nome de um modelo econômico equilibrado dos pontos de vista social e ambiental.
"Que o Brasil coloque seus interesses e contribua para um projeto global de segurança alimentar e energética", frisou, dando foco aos principais temas do evento, com data de início marcada para o dia 20 de junho, no Rio.
Para ampliar discussão, que deve envolver 68 ministros da Agricultura do mundo, representantes brasileiros irão apresentar à conferência modelos de atividade rural que deram certo por aqui. Será o caso da técnica de integração desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a lavoura-pecuária-floresta.
Trata-se de um sistema produtivo adotado por agricultores de todo o País, para o melhor aproveitamento da terra, ao integrar as atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado.
A adoção da técnica é promovida pelo Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que também deve ser apresentado na Rio+20 como um exemplo de movimento sustentável. Criada em 2010, a iniciativa propõe uma série de adequações no campo, como o plantio sobre palha, o manejo correto de pastos, a fixação biológica de nitrogênio na fertilização e o uso de dejetos na fabricação de energia.
"Temos exemplos vivos para mostrar", disse o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, que citou o etanol brasileiro como mais um desses exemplos. O ministro Mendes Ribeiro Filho, por sua vez, pretende defender, na conferência, a importância do cooperativismo para o desenvolvimento sustentável. "O governo está apenas selecionando que pontos acrescentar à pauta do evento", afirmou
Mas as demonstrações de boa vontade do Brasil, no sentido de propor soluções para o desequilíbrio global, podem resultar em nada senão discursos. Segundo Carvalho, há uma preocupação geral de que isso de fato aconteça.
"O meu temor é que a politização da discussão não leve a documentos essenciais", disse o presidente da Abag, explicando que "o resultado concreto seriam compromissos - metas, políticas, o que for. E a retomada de compromissos antigos". Segundo Carvalho, a discussão deve se assentar no tripé socioeconômico-ambiental, e não orbitar apenas em torno do assunto "verde".
O êxito da conferência será avaliado em três dimensões: a da multilateralidade (se os países levarem adiante os compromissos assumidos), a dos efeitos sobre a sociedade civil mundial (se empresas, cientistas e população "comprarem" as ideias) e a dos desdobramentos no País.
"O Brasil propôs que haja quatro dias de debates sem governos nem ONU [na Rio+20]. Haverá sociedade civil do mundo inteiro: só os maiores especialistas, a nata do mundo", afirmou o chefe do Departamento de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, André Correa do Lago.
Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria
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