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2008, Um ano para ser lembrado

Além da Rodada de Doha que fracassou como um todo, a Venezuela mandou e desmandou enquanto pode, o Paraguai botou banca e a Argentina também quebrou contratos conosco


Publicado em: 26/12/2008 às 11:12hs

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Com o hábito de fatiar o tempo em pequenos pedaços temos a possibilidade de analisar partes de um grande todo que não sabemos onde termina. Particularmente, os últimos 365 dias é uma daquelas oportunidades para aprender muito com o que aconteceu de bom e de ruim.
 
A começar pela pecuária que iniciou o ano dando mostras de incompetência sistêmica. Com todos os concorrentes tentando nos derrubar conseguimos dar munição a eles e passamos janeiro e fevereiro com aquele vexame da rastreabilidade. Garantimos lista de 2.600 propriedades, para depois reduzir a 600, em seguida 300, aceitar 200 e por fim concluir que na prática sejam apenas 106.
 
Sem falar que ainda reconhecemos a exportação de carne não rastreada, embora não tivéssemos capacidade para apresentar os infratores e tão pouco puni-los. Demorou muito para que conseguíssemos recuperar parte da credibilidade perdida.
 
A crise econômica (que está longe de acabar e de ser o que os alarmistas gostariam que fosse) e a bolha financeira patrocinada em parte pelas bolsas nos ensinaram que tudo precisa de ordenamento e um bocado de controle.
 
Ficou claro que dinheiro não dá em árvore, ou pelo menos não nas nossas, e que o mercado é como adolescente: precisa de liberdade para criar e crescer, mas deve ser controlado e repreendido quando ultrapassar os limites, os quais devem ser estabelecidos antes.
 
A agricultura e a crise constante pela qual vem passando (não incólume) nos dá mostras da importância da cautela nos negócios. A relevância em não avançar demasiado quando não conhecemos bem ou não temos controle sobre o caminho que precisamos percorrer.
 
Este foi um ano onde boa parte dos preços agrícolas se comportou como uma verdadeira gangorra. Um momento no céu, outro no inferno. Os custos no limite superior sem parar de subir e quando em queda, descompassados com as possibilidades de receita.
 
Em relação à falta de crédito, usando um ditado popular, contar com o ovo antecipadamente foi um desastre para o setor já descapitalizado. Por outro lado, aprendemos ao longo dos anos que nos capitalizar antes de investir pode revelar oportunidades ótimas no futuro.
 
Foi a ocasião para distinguir a importância da humildade para reconhecer erros e retomar o caminho do acerto, perdendo batalhas, mas sem perder a guerra. E por fim, de que empreendedorismo não deve ser confundido com aventura.
 
O vendaval político das últimas eleições municipais brasileiras e a credibilidade crescente do governo Lula nos deram mostras que em 2008 novamente a população elegeu o marketing como mais importante se comparado com a ação ou a prática.
 
Promover tem sido mais importante que fazer. Ou mesmo, a esperança mais importante que a prática. Tenho acompanhado com tristeza que o marketing tem se revelado o mais importante das áreas administrativas.
 
A eleição de Obama nos EUA foi um fato importante e positivo, mas não decisivo, para a política externa americana, e, por conseguinte, acena com um melhor relacionamento com os países de grande dependência externa, como é o caso do nosso.
 
Embora nos tornemos mais técnicos, a fanfarronice de sempre foi utilizada em profusão. 2008 entra para a história como o ano em que pouco se avançou e em muitos casos retrocedemos na diplomacia brasileira.
 
Além da Rodada de Doha que fracassou como um todo, a Venezuela mandou e desmandou enquanto pode, o Paraguai botou banca e a Argentina também quebrou contratos conosco.
 
A lembrar que neste ano a convergência dos meios de comunicação se consolidou, o desmatamento continua sendo uma pedra pontuda no nosso sapato e os empresários felizmente têm adotado mais a meritocracia que o paternalismo.
 
A mídia por outro lado, continuou muito sensacionalista (com seqüestros e enchentes, este foi um ano extremamente oportuno para isso), a Argentina nos mostrou como não fazer ajustes econômicos e nos lembrou que voltar a práticas defasadas é desastroso.
 
Vamos esperar 2009 com o motor ligado, a fronte erguida e as mãos no leme, sempre em frente.
 

Um feliz Natal e um ótimo Ano Novo.

Eleri Hamer - Mestre em Agronegócios, Diretor de Relações com o Mercado do IBG – Instituto Business Group

Fonte: Eleri Hamer

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