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Exportação de soja e milho pode ser taxada por governo

O governo estuda taxar a exportação de soja e milho, afirma o diretor da consultoria Global Advisory Network, Miguel Daoud. A medida teria efeito sobre os custos de produção de alimentos, que lideram a alta da inflação


Publicado em: 25/01/2013 às 16:20hs

Exportação de soja e milho pode ser taxada por governo

Cotados a patamares recordes no mercado global, os grãos provocaram crise, ao encarecer a ração animal, no mercado de aves e suínos. Esse aumento foi repassado ao varejo, onde a carne de frango ficou até 45% mais cara.

Já o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - indicador oficial da inflação - registrou elevação de 5,6% em 2012. "O governo estuda como tributar as exportações de soja e milho para forçar a queda de preços no mercado interno", afirmou Daoud ao DCI.

Segundo o consultor, o mercado financeiro projeta inflação de até 7,5% na negociação de contratos futuros. O Banco Central já confirmou tendência de alta para 2013. "O que está ruim no País é a expectativa de inflação. Por isso, a medida [taxa sobre grãos] poderá ser aplicada", reforçou Daoud.

A cobrança de impostos sobre embarques de soja e milho ao exterior vem sendo cogitada desde o ano passado, ao mesmo tempo em que os grãos batiam sucessivos recordes de preço na Bolsa de Chicago, segundo fontes do mercado pecuarista.

O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, diz que houve pressão da indústria de aves para que a entidade se posicionasse a favor da tributação do milho. Em função do cereal, os custos de produção do segmento subiram 48% em 2012, calcula o representante.

"Fomos assediados para pedir a taxação ao governo. Mas essa é uma via protecionista. Embora o País tenha de exportar produtos com maior valor agregado, o discurso oficial sempre foi contra o protecionismo", disse Turra.

À moda paraguaia

O embarque de grãos ao exterior tem garantido alta remuneração ao produtor brasileiro. No auge da escalada de preços, em agosto, o valor da soja superou US$ 635 por tonelada. O Brasil deve liderar as exportações da commodity na safra 2012/2013, destinando a outros países a maior parte de sua produção, prevista em mais de 80 milhões de toneladas.

"Taxar o agricultor para atacar a inflação, neste momento favorável, é uma grande sacanagem", critica o coordenador do núcleo de Agronegócios da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo, José Luiz Tejon, que acha "possível" que isso venha mesmo a ser feito.

"É exatamente o que a Argentina vem fazendo", lembra Tejon. "As consequências dessas ações costumam ser improdutivas, nefastas. Onera-se o agricultor sem que se resolva o problema da inflação", acrescenta.

Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani, a disponibilidade de grãos no mercado doméstico pode ser resolvida com investimentos em infraestrutura. "O problema não é de quantidade, mas de distribuição", observa.

Em encontros com o então secretário de Política Agrícola, Caio Rocha, no ano passado, Zani conversou sobre a medida que agora estaria na mesa do governo. "Favoreceria um elo produtivo, em troca de resultados negativos para outro", opinou.

No Paraguai também se estuda impor tributos à exportação de grãos. O sojicultor João Paulo Gelain, da região de Santa Rosa del Monday, relata que a proposta de tributação é na ordem de 10% sobre o valor exportado. "Mais um problema para os produtores", ele prevê. Em 2011, as terras da região teriam sido disputadas pelo movimento sem-terra local.

A respeito da medida que estaria em análise no Brasil, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues enfatiza: "detesto a ideia!"- sem confirmar a informação.

Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria

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