Agricultura Familiar

Planta Nativa da Mata Atlântica Transforma a Vida de Agricultores na Bahia

Projeto pioneiro converte planta invasora em oportunidade econômica para comunidade rural


Publicado em: 06/09/2024 às 08:30hs

Planta Nativa da Mata Atlântica Transforma a Vida de Agricultores na Bahia

Na Bahia, uma planta nativa da Mata Atlântica, conhecida como "erva-baleeira" ou "maria-preta" (Varronia curassavica), está gerando novas oportunidades econômicas para agricultores familiares. Graças a uma pesquisa da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) em parceria com a Veracel Celulose, a planta, anteriormente considerada uma praga agrícola, está sendo cultivada de forma sustentável para a produção de óleos essenciais.

O projeto, parte do Desenvolvimento Socioambiental para a Agricultura Familiar (DSAF) coordenado pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia Pau-Brasil (NEA Pau-Brasil), visa transformar a erva-baleeira em uma fonte de renda significativa para a comunidade de Miramar, no município de Eunápolis, Sul da Bahia. Com o preço do óleo variando entre R$ 1.600 e R$ 3.000 por quilo, a planta oferece um potencial promissor para expansão de mercado.

O processo começou com a identificação da planta na região pela UFSB, seguida por análises químicas do óleo realizadas em parceria com a Universidade Federal do Paraná. A partir dessas análises, os pesquisadores orientaram os agricultores sobre o cultivo e o processamento da planta. A Dra. Carolina Kffuri, responsável pelo estudo, destacou a importância da bioprospecção, que levou à descoberta do potencial da Varronia curassavica, contribuindo para a produção do primeiro fitoterápico integralmente brasileiro.

O projeto DSAF, coordenado pela Prof. Dra. Gabriela Narezi e em colaboração com o Instituto Fotossíntese, capacitou os agricultores em técnicas de colheita, armazenamento e extração do óleo. A primeira colheita experimental resultou na venda inicial de 15 quilos de óleo essencial. Claudio Batista, um dos agricultores de Miramar, expressou otimismo quanto ao futuro da planta, ressaltando o desejo de ver o óleo comercializado amplamente, tanto no Brasil quanto internacionalmente.

A erva-baleeira possui propriedades anti-inflamatórias reconhecidas, devido ao princípio ativo alfa-humuleno. O óleo essencial extraído é utilizado em pomadas e sprays para contusões e artrite. O beneficiamento é realizado com uma dorna, equipamento doado pela Veracel, que pode futuramente ajudar na certificação do óleo para a indústria farmacêutica.

A longo prazo, a comunidade planeja adquirir equipamentos próprios para processamento, embora enfrente desafios como a potência da rede elétrica e acesso a água de qualidade. A Dra. Kffuri destaca que a produção de óleo essencial em Miramar valoriza tanto os aspectos sociais quanto ambientais, devido ao envolvimento dos agricultores familiares e à preservação da biodiversidade.

O projeto foi premiado no 14º Prêmio Indústria Baiana Sustentável e está gerando interesse acadêmico, com um trabalho de mestrado em andamento para comparar os princípios ativos da "maria-preta" cultivada em diferentes condições. Além disso, a UFSB e a Veracel estão explorando o cultivo de outras plantas, como a Melaleuca alternifolia (Tea Tree), e estudando mais dez espécies para gerar renda para as comunidades.

Em agosto, a Veracel, em colaboração com o Instituto Fotossíntese, o Instituto de Pesquisas Ecológicas e a UFSB, ofereceu capacitações sobre a produção sustentável de óleos essenciais e planos de negócios. O sucesso dos treinamentos, que teve alta demanda, reflete o compromisso com o desenvolvimento sustentável da região, reforçado pelo apoio contínuo da Veracel e suas parcerias estratégicas.

Fonte: Portal do Agronegócio

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