Publicado em: 09/01/2012 às 17:30hs
A iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) empregou, de janeiro a novembro do ano passado, R$ 16,4 milhões em ações para fortalecer a reforma agrária e a agricultura familiar em 77 municípios de seis estados da região Nordeste. “Com os investimentos, foi possível desenvolver técnicas avançadas de cultivo, auxiliar na alfabetização de jovens e adultos e incentivar a sustentabilidade, contribuindo para o aumento da renda dos agricultores”, afirmou o diretor do Projeto Dom Helder na Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do MDA, Espedito Rufino de Araújo.
Criado há dez anos, o Projeto Dom Helder é uma parceria do governo brasileiro e da Organização das Nações Unidas (ONU), representada pelo Fundo Nacional para o Desenvolvimento Agrário (FIDA). Os investimentos somam R$ 157,2 milhões nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Pernambuco e Sergipe. O diretor explicou que, na prática, as famílias se apropriam dos processos de gestão do que produzem, reconhecendo e incorporando a relação dos aspectos ambientais à geração de renda.
Rufino também ressaltou que 2.177 famílias integrantes do Projeto Dom Helder atendem aos requisitos para participar do Plano Brasil Sem Miséria do governo federal. O programa visa tirar da pobreza extrema os brasileiros que têm renda familiar de até R$ 70 por pessoa. Dentro das ações do Plano está a de fomento, que disponibiliza para as famílias R$ 2,4 mil ao longo de dois anos. A ideia é apoiar a produção e a comercialização excedente dos alimentos. “Desse total de 2.177 famílias, 430 já apresentaram Projetos de fomento. A previsão é de que até o final de janeiro, 197 famílias inseridas no Projeto Dom Helder Camara obtenham a liberação da primeira parcela de recursos”, destacou.
Inovação e qualidade de vida
A vida do agricultor Ulisses Dantas, 28 anos, ganhou nova perspectiva com o Projeto Dom Helder Câmara. O morador da comunidade São Geraldo, situada no Rio Grande do Norte, segue a tradição familiar de cultivar hortaliças. O trabalho era efetuado da mesma maneira pelos seus pais e avós há mais de 25 anos. Desde 2006, com a chegada do projeto à comunidade, a família começou a apostar em atividades diferentes. Incentivados pelos técnicos da iniciativa, passaram a adotar aos poucos a prática do método Bioágua, que reutiliza a água da lavagem de roupas, banho e louça. Depois de uma filtração natural, ela é usada na irrigação de verduras e frutas.
“Foi um grande estímulo. Aprendemos a aplicar o modelo com os técnicos do projeto, que fizeram estudo de solo e nos auxiliaram a ficar dentro dos padrões da Anvisa. Em 2009, abandonamos totalmente o uso de produtos químicos e agrotóxicos. Hoje, trabalhamos apenas com orgânicos e somos modelo na prática da Bioágua. Pessoas de diversas partes do Brasil vêm conhecer o nosso trabalho”, comemora Ulisses.
Segundo o agricultor da comunidade de São Geraldo, a técnica é ideal para quem dispõe de pouca água e muita vontade de empreender. Ulisses explicou que dos 55 hectares da propriedade, uma área aproximada de 40 metros é reservada à plantação. “Parece pequena, mas é proporcional à quantidade de água que demandamos diariamente, além de ser suficiente para incrementar nossa alimentação e renda. Não precisamos mais comprar alguns produtos e sabemos a procedência do que comemos”, conta o agricultor.
Ulisses Dantas acrescenta ainda que não foi apenas a família de oito pessoas que saiu ganhando. “Preservamos os recursos naturais e evitamos a contaminação do solo. Os animais que vivem nos arredores também são beneficiados”, explica.
Incentivo gera renda
Outra comunidade que trabalha com o Projeto Dom Helder é o assentamento Moacir Lucena, situada na Chapada do Apodi, na qual vivem 20 famílias, em 700 hectares. De acordo com Irapuan Ângelo Gurgel Gomes, 36 anos, presidente da Associação dos Moradores do Assentamento, a região está há cerca de dez anos em processo de transição agroecológica. “Como tantas outras famílias assentadas, os moradores de Moacir Lucena estão diante da necessidade de intensificar a produção vegetal e animal. Com a ajuda do Projeto Dom Helder e da Coopervida, construímos uma pequena fábrica que transforma as frutas em polpa, sendo culturas nativas e de época”, conta.
A fábrica é coordenada por um grupo de mulheres, e além de gerar receita, pela venda do excedente para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal, sua produção é consumida na própria comunidade, propiciando melhor aproveitamento dos produtos agrícolas no cardápio das famílias. Irapuan também destaca o plantio de uma horta comunitária, que produz verduras e legumes. “A produção é dividida primeiro entre as famílias. O que sobra é comercializado na feira agroecológica da agricultura familiar em Apodi e em Mossoró”, disse.
Com o desafio de produzir e preservar a Caatinga, os agricultores optaram pelo sistema agrosilvopastoril, desenvolvido pela Embrapa, que combina agricultura, pecuária e usa madeira como energia. “Nessa técnica, toda a adubação vem do esterco dos animais e de plantas leguminosas. O cultivo é feito em faixas, deixando entre elas uma linha de plantas nativas”, explica o líder comunitário.
A renda do assentamento também aumentou com a produção de mel. Foi instalada no assentamento Moacir a Casa de Mel, construída dentro dos padrões da vigilância sanitária, para beneficiar o produto. “O Projeto Dom Helder possibilitou uma parceria entre os técnicos e as famílias do assentamento no desenvolvimento de novos sistemas produtivos mais sustentáveis. Além de favorecer a difusão da apicultura, a melhoria do rebanho, entre outros”, observa Irapuan Ângelo.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social MDA/Incra
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