Agricultura Familiar

Bananeira é matéria prima para artesanato rural

No MS, bananeira é matéria prima para artesanato rural - Fibra do vegetal é transformada em bolsas, cestos e mandalas. Comercialização ainda é gargalo


Publicado em: 03/04/2012 às 08:50hs

Bananeira é matéria prima para artesanato rural

Utilizar recursos abundantes da natureza como matéria prima para atividades que ajudem a complementar a renda é alternativa cada vez mais utilizada por pequenos agricultores brasileiros. Esta necessidade acontece por vários fatores, como a sazonalidade da produção – com altos e baixos em função de clima, mercado, etc. - e a dificuldade de acesso a tecnologias mais modernas e eficientes.

Diante dos gargalos produtivos, a complementação da renda na agricultura familiar vem sendo estimulada por organismos ligados ao setor produtivo rural brasileiro. No Mato Grosso do Sul, mais precisamente em municípios peripantaneiros, grupos de mulheres, a maioria ligados a núcleos de assentamentos, utilizam de recursos vegetais fartos para produzir artesanato diferenciado.

Em áreas rurais de cidades como Nioaque, Dois Irmãos do Buriti, Anastácio e Aquidauana, vem sendo comum a produção de objetos tendo como matéria prima a bananeira, planta muito cultivada na maioria das glebas em assentamentos. Parte desta produção, quando organizada, segue para comercialização nas cidades da região e até na capital, Campo Grande. As principais peças são mandalas, tapeçarias, quadros e cestos.

Por outro lado, muitas artesãs ainda têm dificuldades em comercializar os produtos originários da fibra da bananeira. Não pela ausência de demanda, mas pela dificuldade em levar o resultado do seu trabalho até o consumidor final.

Elecir Santos da Silva é uma das artesãs da região que se dedica à arte de transformar a fibra da bananeira em objetos uteis. São bolsas, chapéu, chaveiros para automóveis, porta-pães e cestas. O trabalho é minucioso, mas na hora de vender vem a dificuldade.

Ela mora em seu sítio no Assentamento Palmeira em Nioaque, MS, que fica distante 50 km da cidade. “Aqui a gente depende de um conhecido, de um amigo ou de um vizinho pra vender alguma coisa; tem mês que a gente comercializa três, quatro ou até mais objetos; mas em compensação tem outros períodos que não entregamos  nada”, conta.

As coisas podem mudar quando ela e suas amigas terminarem de formalizar uma associação das artesãs que, segundo ela, começa a ganhar corpo. “É uma associação que a gente tá formando, ainda não sei o nome, mas dizem que a partir daí vamos vender melhor”, ressalta.

Ela conta que a ideia do grupo é levar a produção para locais de concentração turística. “Estamos pensando em conseguir um espaço em Bonito, que fica distante 70 quilômetros daqui do assentamento”, revela. A cidade é hoje o maior polo de ecoturismo do Mato Grosso do Sul recebendo uma média de 85 mil turistas/ano.

Mas, ao que tudo indica, ainda há muito a percorrer. Um dos caminhos a ser trilhado diz respeito ao cálculo do custo de produção e o estabelecimento do preço final. Elecir, por exemplo, sente muita dificuldade nesta hora.

“Quando fizemos o curso de artesanato, nos disseram que cada bolsa poderia ser vendida a R$ 30,00 e um porta-pães a R$ 35,00, mas por aqui não há muito preço definido”, revela a assentada, cuja principal renda vem da produção de leite e hortifrutigranjeiros.

Cursos

A formação das artesãs é feita através de cursos ministrados por organizações rurais pela região. Um dos principais incentivadores do artesanato com recursos naturais das glebas é o Senar/ MS – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul.

Gilberto Luis Dias é funcionário do Sindicato Rural de Anastácio (130 km de Campo Grande) e foi encaminhado para ser um “mobilizador” dos cursos do Senar junto aos assentamentos rurais. “Além de visitar as propriedades para a divulgação, faço a abertura e o encerramento dos conjunto de módulos de aulas”, diz.

Segundo ele, o curso que utiliza a bananeira como matéria prima fecha turmas com 15 alunos e é dividido em dois módulos. “No primeiro, em cinco dias é dada toda a orientação e prática para o recolhimento do material nas próprias chácaras além da preparação e de sua transformação. No segundo módulo, são 10 dias para a confecção das peças”, explica.

Dias conta que são aproveitadas as fibras retiradas dos caules e troncos das bananeiras. “Procuramos sempre aquelas que já deram cachos”, ressalta. Mesmo sendo um mobilizador, Dias tem dificuldades em dimensionar o quanto a atividade pode agregar na complementação de renda do agricultor familiar. “Sabemos que é uma ferramenta para ajudar no orçamento”, frisa.

Apenas entre os dias 15 de fevereiro e 03 de março deste ano, o Senar/MS ofereceu 78 cursos  - todos gratuitos – para pequenos produtores rurais em 33 municípios do Mato Grosso do Sul. O objetivo sempre é a qualificação e a assimilação de novas atividades para geração de renda.

Os cursos oferecidos focaram a capacitação em áreas de prestação de serviço, artesanato, pecuária, alimentação, nutrição, organização comunitária, aquicultura, extrativismo e silvicultura, dentre vários outros.

As aulas foram ministradas em áreas rurais de municípios como Campo Grande, Bela Vista, Amambai, Rochedo, Costa Rica, Itaporã, Ponta Porã, Sidrolândia, Nioaque e Nova Alvorada do Sul.

Fonte: Ariosto Mesquita

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