Saúde Animal

Resistência anti-helmíntica em ruminantes

Entre as doenças que acometem os ruminantes nas regiões tropicais, as helmintoses gastrintestinais e pulmonares representam uma importante fonte de prejuízo para os produtores


Publicado em: 05/12/2012 às 13:20hs

Resistência anti-helmíntica em ruminantes

As perdas econômicas ocorrem devido à baixa produtividade, ao retardo no desenvolvimento, custo dos tratamentos e, em casos de altas infestações, ao aumento das taxas de mortalidade. Esses prejuízos tendem a aumentar quando existem populações de helmintos resistentes aos vermífugos, visto que a principal forma de controle é através do uso de medicamentos.

Os principais efeitos das helmintoses, que levam ao baixo desenvolvimento ponderal dos animais, são a anorexia e/ou a redução da ingestão de alimentos, assim como a perda de sangue e proteínas plasmáticas no trato gastrointestinal, alteração no metabolismo protéico, o decréscimo nos níveis de minerais e enzimas, a diarréia e desidratação. Todos esses fatores contribuem para a diminuição da resistência para várias doenças, podendo causar, secundariamente, alta mortalidade de bezerros nos rebanhos acometidos por alta prevalência de helmintos gastrointestinais.

Grande parte dos helmintos parasitos apresenta duas fases distintas no seu desenvolvimento. Uma fase de vida livre, que ocorre na pastagem, onde os parasitos se desenvolvem até a fase de larva infectante. A segunda fase, denominada de fase parasitária, inicia-se com a ingestão das larvas infectantes presentes no ambiente e completa-se com a eliminação dos ovos do parasito nas fezes do hospedeiro que novamente irão contaminar o ambiente.

As condições para que o ciclo evolutivo dos helmintos se complete estão relacionadas à biologia da fase de vida livre sobre o solo, sendo que a temperatura, umidade, luminosidade, altura e densidade da vegetação são os principais fatores que influenciam o desenvolvimento desses parasitas. A elevada capacidade de se reproduzir, adaptabilidade e resistência a diversas condições climáticas fazem com que os endoparasitas tenham ampla distribuição geográfica e alta prevalência em todo país.

O tratamento com anti-helmínticos ainda é a principal forma de controle das helmintoses utilizada pelos produtores. Entretanto, o uso indiscriminado tem levado ao aparecimento da resistência genética dos endoparasitos aos princípios ativos mais comumente utilizados. A resistência anti-helmíntica é constatada quando um determinado princípio ativo, que apresentava redução da carga parasitária acima de 95%, diminui para níveis inferiores a este valor contra o mesmo organismo depois de transcorrido determinado período de uso.

Tal fato ocorre por que o uso contínuo de um determinado princípio ativo acaba por selecionar, na população alvo, indivíduos naturalmente resistentes que sobrevivem ao tratamento e, ao reproduzirem-se, geram descendentes naturalmente resistentes. Quando na população alvo esses indivíduos se tornam mais numerosos, o medicamento começa a perder a eficácia não atingindo a mortalidade esperada.

Em muitos casos, o produtor percebe que os tratamentos não estão apresentando o resultado esperado e aumentam a dosagem e/ ou o número de aplicações. Em outros, troca-se o produto levando em consideração somente o nome comercial, porém, o princípio ativo é o mesmo. Essas circunstâncias tendem a piorar a situação porque aumentam a pressão de seleção sobre os parasitos e, ao mesmo tempo, aumenta a infecção nos animais, assim como o número de casos clínicos e a taxa de mortalidade dos mesmos.

A resistência pode se apresentar de três formas: resistência paralela, quando ocorre resistência a um princípio ativo em decorrência da utilização de outro princípio com mecanismos de ação semelhantes; resistência cruzada, quando ocorre envolvimento de dois diferentes grupos de anti-helmínticos; e resistência múltipla quando ocorre resistência a dois ou mais grupos de princípios decorrentes do uso de cada grupo separadamente ou oriunda de uma resistência cruzada.

Casos

No Brasil, os primeiros relatos de resistência anti-helmíntica ocorreram na década de 60 em rebanhos ovinos. Entretanto, nos anos 80 e 90 muitos casos foram reportados em rebanhos ovinos e caprinos. O grande número de relatos de resistência para esses grupos de animais deve-se à maior importância que as helmintoses assumem na ovino e na caprinocultura, o que está diretamente relacionado ao maior número de vermifugações. Contudo, casos de resistência anti-helmíntica em bovinos estão sendo detectados em muitos estados brasileiros.

Infelizmente a resistência não é diagnosticada com facilidade pelos produtores, que podem e devem suspeitar da existência do problema quando notarem perda de eficácia após os tratamentos. Existem vários métodos para o diagnóstico da resistência anti-helmíntica, sendo o mais simples e fácil de ser executado é a redução do OPG, que consiste na contagem de ovos dos helmintos antes e após o tratamento verificando, portanto, a eficácia do vermífugo.

O aparecimento da resistência é algo inevitável quando se utiliza um princípio ativo para o controle de um determinado agente, porém, ela pode ser retardada quando os tratamentos são realizados de forma racional. Programas de controle estratégicos e integrados são fundamentais para a diminuição das vermifugações, sendo que nesses programas são levados em consideração informações sobre o comportamento da fase de vida livre e parasitária dos helmintos ao longo do ano, além de exames laboratoriais para uma estimativa do grau de infecção do rebanho.

Medidas

A adoção de medidas de manejo como limpeza periódica das instalações, uso de esterqueiras, rotação de pastagens, separação de animais por lotes (de acordo com a faixa etária), não introdução de animais no plantel sem exames coproparasitológicos e vermifugações, além de evitar-se superlotação nas pastagens, podem contribuir para a diminuição da contaminação do ambiente e consequentemente as infecções. Assim, pode-se esperar uma redução na frequência de tratamentos anti-helmínticos, minimizando o uso indiscriminado e obtendo-se produtos e subprodutos com melhor qualidade e mais seguros para o consumidor sob o ponto de vista alimentar.

Fonte: Embrapa Rondônia

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