Publicado em: 17/02/2015 às 01:00hs
No Brasil, os carrapatos estão amplamente distribuídos em todas as regiões, são obrigatoriamente hematófagos e exercem diversos efeitos prejudiciais no organismo do hospedeiro, que vão desde lesão cutânea, anemia, inoculação de toxinas e, eventualmente, indução à morte. Obviamente, tais efeitos variam conforme a espécie de carrapato e a área geográfica.
Esses ectoparasitas são potencialmente transmissores de agentes patogênicos e têm despertado o interesse na saúde pública por causa da participação na transmissão de doenças aos humanos, tidas como emergenciais e reemergenciais, muitas vezes letais. Os carrapatos, quando infectados por esses agentes, possuem a capacidade de transmissão de uma fase de vida para outra levando seus descendentes a serem reservatórios potenciais de patógenos.
Neste texto, daremos ênfase a espécies de carrapatos que acometem equinos, que normalmente são parasitados por duas espécies de carrapatos: Dermacentor nitens, que possui preferência de se fixar principalmente nas oelhas, narinas, crina e cauda, e Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato-estrela, rodoleiro, micuim vermelhinho, que se distribui por todo o corpo do animal, e está associado a doenças como babesioses em equinos (Babesia. caballi e Theileria equi).
O carrapato A. Cajennense, mesmo preferindo os equinos, parasita outras espécies de animais, inclusive os humanos. Pode sobreviver vários meses na fase de vida livre e necessita de três hospedeiros para realizar seu ciclo de vida. Dessa forma, possui capacidade de disseminar agentes causadores de doenças como a Febre Maculosa Brasileira (FMB), que tem sido uma das zoonoses mais estudadas no Brasil.
A FMB apresenta-se como doença infecciosa aguda, de gravidade variável, determinada por Rickettsia rickettsii e, pelo que se conhece até o momento, transmitida por carrapatos do gênero Ambyomma spp. A ecologia e a distribuição do carrapato vetor determinam os principais aspectos epidemiológicos dessa enfermidade.
Pelo quadro clínico da Febre Maculosa Brasileira, podemos considerá-la uma doença que acomete vários órgãos do corpo humano, que apresenta uma evolução dos sintomas de forma variável, desde situações com sintomas brandos sem manchas avermelhadas até situações que pode levar à morte. Inicia-se geralmente de forma abrupta, com manifestações inespecíficas tais como febre, mal-estar generalizado, cefaléia, dor muscular e regiões avermelhadas. Os sinais e sintomas clínicos podem variar dependendo do tipo de comprometimento: gastrintestinal com náusea, vômito, dor abdominal, diarréia e, eventualmente, comprometimento hepático com icterícia; manifestações renais causando impacto no sistema de excreção; pulmonar com tosse e edema pulmonar. O exantema é o sinal mais importante da febre maculosa, aparece geralmente entre o terceiro e o quinto dia de doença, podendo estar ausente em 15% a 20% dos pacientes, o que dificulta e retarda o diagnóstico.
Todas as espécies de riquétsias do grupo da febre maculosa conhecidas até o momento mantêm seu ciclo de vida na natureza entre o carrapato vetor e algumas espécies de mamíferos silvestres, chamados de hospedeiros amplificadores. Desta forma, o efeito amplificador que alguns hospedeiros silvestres desempenham deve existir para assegurar a manutenção da bactéria na natureza.
No Brasil, existem casos registrados de febre maculosa em vários estados, em especial na região Sudeste. Na região Centro-Oeste, embora existam as condições ideais para circurculação do agente, somente em Mato Grosso do Sul foram identificadas bactérias do grupo da Febre Maculosa Brasileira infectando carrapatos das espécies A. Calcaratum e A. nodosum. Em ambos os casos identificou-se Rickettsia parkeri-like, que é patogênica para seres humanos e determina sinais clínicos mais moderados.
Medidas de controle
O controle do carrapato somente nos equinos não resolve o problema, pois outras espécies podem manter a população desta espécie. As larvas e as ninfas aparecem nos meses mais frios. Neste período, uma série de tratamentos carrapaticidas, com base nas especificações do fabricante, a intervalos semanais deve ser realizada nos animais (equinos e bovinos, conforme o caso) com o direcionamento para a espécie de carrapato A. cajennense. Deve-se avaliar as pastagens, com relação à infestação, até considerar-se com baixa infestação. Os animais devem retornar ao mesmo pasto infestado para se reinfestarem, reduzindo a população de carrapatos nas pastagens e promovendo o tratamento carrapaticida para desinfestar os animais novamente. Nos meses mais quentes ocorre a predominância dos adultos, quando o controle pode ser realizado por catação manual ou rasqueamento nos equinos e realizando a queima ou tratamento com carrapaticida dos carrapatos retirados.
É importante separar bovinos de equinos e os mesmos de capivaras ou outros animais silvestres quando possível. Cães e cavalos podem com maior facilidade levar adultos para as instalações e, neste caso, deve ser realizada a pulverização das instalações semanalmente para o seu controle. Os cães devem ser tratados com orientação específica para a espécie. Deve-se roçar os pastos bem próximo ao solo, para que o sol possa aumentar a temperatura e diminuir a humidade no ambiente do carrapato reduzindo o seu tempo de vida, além de controlar o carrapato nos animais que forem introduzidos na propriedade.
Cuidados pessoais
Para evitar possibilidade de contaminação pela FMB alguns cuidados devem ser tomados visando reduzir a possibilidade de picada e fixação dos carrapatos nos humanos:
Se dias após o contato com carrapatos aparecerem sintomas como gripe forte (febre, desânimo, dores no corpo), falta de apetite e/ou manchas na pele, deve-se procurar um médico imediatamente e informar sobre o contato com carrapato. É importante lembrar que as larvas e ninfas são os principais responsáveis pela transmissão da FMB.
Renato Andreotti - pesquisador da Embrapa Gado de Corte
Marcos Valério Garcia - bolsista de pós-doutorado do CNPq
Fonte: Embrapa Gado de Corte
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