Pastagens

Dia de Campo aborda recuperação de pastagens pelo Sistema Integração Lavoura Pecuária Floresta

O evento é voltado para produtores pecuaristas, técnicos, agências de fomento e demais interessados em tecnologias sustentáveis para o setor primário


Publicado em: 22/06/2012 às 14:20hs

Dia de Campo aborda recuperação de pastagens pelo Sistema Integração Lavoura Pecuária Floresta

A Embrapa Amazônia Ocidental, em parceria com a Prefeitura de Autazes, no Amazonas, realiza Dia de Campo, na sexta-feira (22), sobre Recuperação de Pastagens pelo Sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF). O evento é voltado para produtores pecuaristas, técnicos, agências de fomento e demais interessados em tecnologias sustentáveis para o setor primário.

O ILPF é recomendado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como uma das mais importantes estratégias para uma produção agropecuária mais sustentável, pois possibilita que as atividades agrícolas, pecuárias e florestais sejam integradas na mesma área. Os benefícios dessa tecnologia são a redução da pressão por desmatamento, a diversificação na renda do produtor rural e a diminuição das emissões de gases de efeito estufa. O sistema de ILPF gera também melhorias no solo, equilibra a utilização dos recursos naturais e mantém a qualidade da água.

O Dia de Campo acontecerá em propriedade de agricultor familiar, localizada no km 5 da estrada do Sampaio, no município de Autazes, onde foi implantada uma unidade demonstrativa do sistema ILPF para facilitar que outros produtores vejam na prática e participem de ações de capacitação em boas práticas e tecnologias recomendadas pela Embrapa. A proposta é apresentar o sistema ILPF como estratégia para recuperar pastagens degradadas e contribuir para revitalizar a pecuária leiteira no município de Autazes, que é um dos principais municípios produtores de leite no Amazonas.

Autazes conta um rebanho estimado em 70 mil reses (sendo 20 mil bubalinos e 50 mil bovinos) com um média de 0,5 animal por hectare, segundo o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam). De acordo com dados do Idam , nesse município existem aproximadamente 1.200 produtores com atividade pecuária e 97% das propriedades são consideradas de produção familiar.

No Amazonas, grande parte das áreas de pastagem em terra firme encontra-se em estado de degradação com escassa alimentação para o gado. Na falta de alimentação para os animais, geralmente pecuaristas da região adotam a alternativa de mudar o gado para as pastagens naturais na várzea, que ficam disponíveis por 4 a 5 meses, quando baixa o nível dos rios. Porém, com a enchente as várzeas ficam submersas, os animais precisam voltar para a terra firme, onde em o pasto encontra-se degradado e o problema se repete. Nesse município existem cerca de 25 mil hectares de pastagem em terra firme e a maior parte está degradada. Outros 36 mil hectares de pastagens estão em várzea, que são usadas apenas no período da descida das águas. “Por isso a importância de recuperar as pastagens de terra firme, para que possam ser usadas o ano todo”, afirma o gerente do Idam em Autazes, Maurício Borges .

O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Rogério Perin, esclarece que se o produtor fosse recuperar a fertilidade do solo apenas para a pastagem seria um investimento alto. Já no sistema ILPF, a colheita das lavouras, como o milho, pagaria esse investimento inicial e viabilizaria a recuperação da pastagem, de acordo com os estudos já realizados. Os estudos da Embrapa também mostram que apenas com a recuperação de pastagens degradadas, é possível aumentar a produção de grãos, de produtos florestais e de produção pecuária, sem precisar abrir novas áreas.

No Amazonas, os experimentos de recuperação das pastagens pelo sistema de ILPF, permitem que a propriedade saia da relação de 0,5 animal por hectare/ano para 2,5 animal por hectare/ano, segundo informa o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Jasiel Nunes. “Assim se diminui a quantidade necessária de área para manter o rebanho”, afirma Jasiel. O pesquisador acrescenta que para esse ganho, o primeiro passo é melhorar a qualidade da pastagem e depois melhorar geneticamente o rebanho, com a seleção de animais e substituição de animais de menor produção por animais de maior capacidade produtiva de leite.

Para recuperação da área com pastagem degradada na unidade demonstrativa em Autazes foi feita a preparação da área com correção do solo, adubação e plantio de milho simultaneamente com a pastagem. Para o pasto foram escolhidas duas gramíneas (capim mombaça e capim xaraés) e a leguminosa forrageira estilosantes campo grande, que é indicada para melhoria do solo uma vez que atua na fixação de nitrogênio da atmosfera no solo e serve também como fonte de proteína para o gado. Foram preservadas árvores de babaçu e castanheira, que já estavam na área, e servirão para dar sombreamento e conforto aos animais.

A implantação da lavoura dentro do sistema ILPF é uma forma de amenizar os custos do investimento na recuperação da fertilidade do solo e obter rápido retorno econômico, explica o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Inocêncio Junior de Oliveira . O pesquisador cita que outra vantagem da lavoura no sistema ILPF é o controle de plantas invasoras que competiam anteriormente com o pasto e o deixavam degradado.

Inocêncio explica que nessa unidade demonstrativa se fez o plantio simultâneo de pasto e lavoura, mas há também a possibilidade de ILPF com a sucessão de culturas, em que se planta o milho ou feijão e depois o pasto, aproveitando a fertilidade. “Quanto ao solo, o principal já fez, se reduziu a acidez e eliminou a compactação, haverá melhor aproveitamento de nutrientes pela planta, depois é só dar manutenção”, acrescenta.

Após 70 dias do plantio se pode ter renda com a venda do milho verde, ou com 120 dias com a venda do grão seco. Se optar por colher verde, há maior valor na venda. Na unidade demonstrativa estima-se a produção de 50 mil espigas por hectare. Se o produtor optar por vender o grão, a produção estimada é de 4 toneladas ( 60 a 70 sacas) de milho por hectare e ainda pode se usar resto vegetal para silagem (alimento para o gado).

Na programação do Dia de Campo, dia 22 de junho, as informações serão apresentadas em três estações. Na primeira estação, o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Gilvan Coimbra Martins, explica sobre as Características físicas e químicas dos solos e suas implicações para o manejo, e os pesquisadores Rogério Perin e Jasiel Nunes Sousa explicam sobre e recuperação e manejo de pastagens no sistema ILPF. Na segunda estação, os pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental Felipe Tonato Inocêncio Júnior de Oliveira explicam sobre o cultivo de milho em sistemas de integração lavoura-pecuária. Na terceira estação, o engenheiro agrônomo da Prefeitura, Francisco Braga apresenta as informações sobre recuperação de área integrada à reserva florestal.

Braga informou que foi realizado o planejamento de uso das áreas já alteradas para torná-las mais produtivas, sem desmatar outras áreas, definindo os locais de pastagem, plantios de roça e capineira, e plantio de espécies florestais para criação de reserva ligando com a floresta primária. Nesse caso, em uma parte da capoeira estão sendo plantados seis hectares com castanheira, andirobeira e outras espécies florestais. “A pecuária é tida como vilã do meio ambiente, mas com a ILPF vamos conseguir aumentar a reserva florestal e isso vai dar oportunidade para preservar também as várzeas”, explica Braga. A Unidade Demonstrativa ocupa uma área de cinco hectares da propriedade. “Sabemos que é possível e queremos mostrar nessa unidade que com a pastagem recuperada e enriquecida com ILPF, é possível ter um rebanho produtivo e aumentar em pelo cinco vezes o faturamento da propriedade”, afirmou o engenheiro agrônomo.

O produtor Valdir Fontenelle, selecionado para que sua propriedade recebesse a unidade demonstrativa, disse que está esperançoso. Com 59 de idade, o produtor está há 17 anos na propriedade e conta que assiste a cada ano ficar mais difícil manter o rebanho com o pasto degradado. Sua renda atual é de R$ 600 mensais e provém exclusivamente da atividade agrícola (produção de cupuaçu) e pecuária (produção de leite). De acordo com a Prefeitura, o produtor foi selecionado a partir de critérios técnicos, considerando as características do terreno, o fato de residir na propriedade, depender da atividade rural para sustento da família e possuir no máximo 50 cabeças de gado. O produtor se comprometeu formalmente a trabalhar de forma associativa, seguir as orientações técnicas, destinar parte da sua área impactada para preservação permanente, e atuar como agente multiplicador das informações que receber, através do projeto.

A Unidade Demonstrativa de ILPF em Autazes, a cerca de 160 km da capital, foi viabilizada por meio da parceria. A Embrapa Amazônia Ocidental disponibilizou pesquisadores, técnicos e maquinário; a Prefeitura de Autazes viabilizou a logística; a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (Faea) patrocinou os insumos; e o produtor Valdir Fontenele disponibilizou o terreno e colaboração na mão de obra.

Este é segundo dia de campo realizado na Unidade Demonstrativa. O primeiro foi em 31 de março, durante a semeadura do milho, e contou com 118 participantes, entre técnicos, produtores, dirigentes e representantes de instituições do setor primário, como Faea, Secretaria de Produção Rural (Sepror), Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam), Organização das Cooperativas do Estado do Amazonas (OCB-AM), Sebrae, entre outros. Atualmente o plantio está na fase de colheita do milho.

Dentre as ações da revitalização da pecuária leiteira em Autazes também estão sendo adotadas outras tecnologias, além do ILPF. O diretor presidente da Faea, Muni Lourenço, informou que 42 propriedades em Autazes adotaram o projeto Balde Cheio, que está sendo implementado pelo Sebrae e Faea, com base em tecnologias recomendadas pela Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP) para desenvolvimento da pecuária leiteira em propriedades familiares. “Nessas propriedades estão sendo implementadas técnicas como recuperação de pastagens, novas gramíneas no pasto propícias para a produção de leite, pastejo rotacionado e cerca elétrica, inseminação artificial e irrigação de pastagem”, afirmou.

O prefeito de Autazes Vanderlan Sampaio informou que o projeto de Revitalização da Pecuária Leiteira de Autazes foi concebido em 2011 com a participação de instituições do setor primário e produtores. “No planejamento fomos em busca de parceiros e alternativas, então a Embrapa nos apresentou o sistema ILPF”, disse o prefeito. “Queremos produzir mais e não precisamos desmatar novas áreas para isso e vamos contar com o conhecimento da Embrapa para tornar mais produtivas as áreas já alteradas e recuperar as áreas de floresta”, afirmou. “Queremos também que essa unidade demonstrativa seja um referencial, para apresentar ao Governo do Estado e estimular a implantação em outras propriedades de Autazes”, disse o prefeito.

O diretor presidente do Idam Edmar Vizolli disse que a adoção de tecnologias é necessária para que municípios, como Autazes e Boca do Acre, que são os maiores produtores de leite no Amazonas, possam avançar na atividade com maior sustentabilidade. Vizolli lembrou que foi implantada uma unidade demonstrativa em Lábrea e estão previstas unidades de ILPF também nos municípios de Apuí e Humaitá (AM).

Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental

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