Publicado em: 14/06/2021 às 08:00hs
Esse ano, em vários locais, as chuvas do período das águas já foram menos intensas e pararam antes da hora. A situação, então, não é de folga em termos de pastagens, com uma “seca” inteira pela frente. E não se tem bola de cristal para saber quando as chuvas efetivamente voltarão. Nesse cenário, é aconselhável ter cautela, em geral sendo melhor agir para aumentar a chance de sobrar pasto do que arriscar faltar.
Ao contrário do texto que citamos acima, portanto, esse aqui lida com ações que podem ser tomadas agora para minorar o problema de falta de pasto e, também, para alertar o que devemos evitar fazer.
Listamos algumas opções para dar folga ao pasto até que as chuvas voltem:
Essa é a saída mais simples e lógica e, ao mesmo tempo, a mais impopular. Ninguém gosta de se desfazer de ativos, os bois, que são os ganhos futuros na atividade. A questão é que, se a manutenção de todos os animais significar superpastejo, o prejuízo é duplo: os animais terão baixo desempenho e contribuirão para a degradação do pasto.
A suplementação de pastagens na seca é uma obrigação no Brasil Pecuário-Central. A questão é que as opções que têm melhor relação benefício/custo dependem de alta disponibilidade de forragem, mesmo que de baixa qualidade. Assim, as pastagens diferidas na seca serão os locais onde essas estratégias podem ser usadas, mas a realidade de muitas regiões é que as chuvas encurtadas desse verão não permitiram o usual acúmulo de pastagem. É por isso que uma das soluções é usar uma lotação ainda mais baixa do que os cerca de uma unidade animal por hectare que temos como referência (e apenas referência!) nesses casos.
Se o pasto tem baixo volume de massa, o uso do proteinado, cuja modo de ação é exatamente aumentar a ingestão dos animais, terá pouco a ajudar se o animal não tiver o que comer. Quantidades um pouco maiores, como nos proteicos-energéticos, também acabam ajudando pouco. Por fim, nos preços atuais dos concentrados, não precisa uma proporção muito grande para deixar a prática anti-econômica, algo que cada um deve fazer os próprios cálculos.
Ocorre que, mesmo que a conta de uma suplementação proteico-energético mais intensa, com 5 ou 7 g/kg de peso vivo, se revele econômica, nessa situação a forragem ainda representa entre 75-65% da matéria seca da dieta e, nessa situação indefinida entre ser uma dieta francamente fibrosa ou outra, bem definida como concentrada, a eficiência biológica é pior, algo que costuma ficar fora da conta financeira.
Para fugir disso, uma alternativa a ser considerada é o confinamento em pasto, ou semiconfinamento. Nele, usa-se 17 a 20 g de concentrado/kg de peso vivo e o consumo do pasto pelo animal serve apenas para ele se recuperar do excesso de concentrado, com a fibra de baixa qualidade do pasto ajudando-o a recuperar, minimamente, a função de ruminar. Um alerta é que essa técnica, apesar de ter a vantagem de poder ser feita a qualquer momento e por quase todo mundo, não deve ser feita sem o aconselhamento de um técnico, pois há risco real de morte de animais por doenças metabólicas, como a acidose e o timpanismo. Mesmo que não morra nenhum animal, os resultados podem ser piores do que seriam com a supervisão recomendada, que vai da formulação da ração e informações fundamentais de manejo com relação, por exemplo, à adaptação dos animais à dieta, um dos pontos-chave para o sucesso dessa opção.
Uma vantagem do confinamento em pasto é que as taxas mais elevadas de ganho ajudam o animal a depositar gordura, sendo, portanto, particularmente recomendado para animais que podemos terminar e vender, ou seja, exatamente os que mais vão liberar espaço para os animais que ficam na fazenda, afinal são os mais pesados.
Em relação à suplementação concentrada, o uso de volumosos é uma opção bem mais tranquila em termos de segurança de uso, pois, no ambiente de forragem (alimento fibroso), estamos dando mais volumosos (alimento fibroso). O operacional é um pouco mais complicado, exatamente porque, como o próprio nome diz, temos que lidar com volumes maiores para fornecê-los.
Aqui, é bom lembrar que o menor custo dos volumosos não necessariamente farão seu uso tão mais barato, pois devemos olhar o custo deles em matéria seca (MS). Uma silagem de milho que custe, por exemplo, R$200,00/t de matéria natural, com 67% de umidade, custa R$600,00 por tonelada de matéria seca (R$200,00/t dividido por 0,33, sendo esse último o teor de MS de 33% da silagem).
Para categorias que apenas se deseje manter o peso na seca, como vacas em bom estado corporal, a suplementação com algum volumoso pode ser vantajosa, especialmente quando se considera o custo diário de suplementação, pois fornecemos apenas a quantidade necessária para manter o peso (menos volume), sem conflito entre pasto e concentrado e sem risco de algum animal comer mais concentrado do que deveria.
A pergunta natural depois de considerar a suplementação com concentrados e, em seguida, com volumosos: não seria vantagem usar os dois juntos? A resposta é que é perfeitamente possível. Nesse caso, então, por que já não fazer uma dieta completa, incluindo minerais e aditivos? E, se fizer, por que já não confinar os animais?
Tentar um confinamento é especialmente interessante no contexto de reduzir a lotação das pastagens. Um pequeno confinamento de 100 cabeças pode liberar 100 hectares de pasto diferido em bom estado, considerando o valor de referência citado.
Um confinamento pequeno pode ser feito de forma simples e, até, meio improvisada, no que diz respeito à sua estrutura física. Onde não se deve economizar, contudo, é no seu planejamento, pois é exatamente em saber quanto ele deve custar e quanto deve produzir por animal que reside uma de suas principais vantagens. Nesse caso, recomenda-se que o produtor tenha supervisão de técnicos para planejar e realizar o confinamento. Mesmo que, por ser com poucos animais, o custo do técnico por cabeça seja muito alto, pode ser mais barato que os prejuízos pela falta de orientação. Deve-se permitir alguma pressão desse estreitamento de margem (ou até pequeno prejuízo), considerando essa despesa como parte do custo do aprendizado que permitirá ganhos maiores no futuro.
Essa opção de terceirizar a engorda elimina a necessidade de investimento. Mesmo que seja para só ganhar a arroba estocada (as que entram no confinamento com o animal), quando todo o ganho do confinamento fica para o proprietário do boitel, ainda assim, pode ser vantajoso. Tem-se a mesma vantagem de reduzir a lotação da fazenda ao vender os animais no início da seca, mas com a chance de conseguir um preço melhor nas arrobas que entraram, apostando em uma valorização das arrobas no período do confinamento. Nesse ano, em que o preço da arroba está já bastante elevado, parece haver menos espaço para que isso ocorra, mas continua sendo uma alternativa a ser considerada.
Uma última alternativa seria pensar em irrigar as pastagens. Sem dúvida, essa é a opção mais complicada. O primeiro alerta é que a água é apenas um dos fatores de produção de forragem. A irrigação tem tanto mais chance de alterar a curva de produção de forragens quanto mais próximo da linha do Equador for a pastagem. Isso porque, nessas latitudes, a duração do tempo de luz diário (fotoperíodo) é longa o ano todo, bem como as médias de temperatura são sempre mais elevadas. No Brasil, quanto mais ao sul, menos diferença faz irrigação na produção da forragem. Ainda assim, mesmo no estado de São Paulo, podemos ter bons resultados nas épocas em que as chuvas rareiam, mas ainda os dias são quentes, como no início e final da seca.
Especialmente para essa temporada, um projeto de irrigação pode ajudar no caso da seca se prolongar e, quando as temperaturas mais altas do final do inverno permitirem, conseguir ir adiantado a recuperação das áreas irrigadas.
Ao contrário do confinamento, começar com uma área muito pequena e ir aumentando é mais complicado. Parece mais lógico, nesse caso, pensar em uma estrutura cujo tamanho faça o custo por hectare irrigado ser bem diluído, o que pode implicar em pensar em áreas da ordem de uma centena de hectares como mínimo. Esse valor mínimo para iniciar já deve fazer parte da orientação técnica que é fundamental nesse caso.
A opção de irrigar, portanto, é daquelas que precisa estar no contexto de pensar mais em médio e longo prazo, colocando outros objetivos no horizonte futuro como, por exemplo, um pastejo mais intensificado ou até a adoção da produção integrada.
Todas as alternativas acima são apenas sugestões e podem ser consideradas paliativas. Elas não são excludentes e podem ser combinadas entre si para minorar a falta de pastagem. Elas apenas apontam direções. As decisões mesmo têm que ser feitas por cada um em função das características e circunstâncias locais.
Além disso, como boa parte delas têm que ser feitas baseadas em expectativa futura incerta, fica ainda mais difícil separar o certo e o errado. Há, todavia, uma chance do arrependimento maior ao se ignorar os riscos e amargar perdas, do que se lamentar por ter podido ganhar mais ao ser prudente. E, se há mais riscos em uma das opções, é porque ganhar com ela é menos provável. Informação, técnica, experiência e instinto: é o que contamos nessa hora e que, em longo prazo, deve garantir o melhor conjunto de escolhas.
por Sergio Raposo de Medeiros - Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz, da Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado pela mesma universidade. É pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e especialista em nutrição animal com enfoque nos seguintes temas: exigência e eficiência na produção animal, qualidade de produtos animais e soluções tecnológicas para produção sustentável.
Fonte: Scot Consultoria
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