Pastagens

Como otimizar a produção animal na época das águas com o ajuste do manejo de pastagens?

O período chuvoso é muito esperado por aqueles que praticam a atividade de produção animal baseado em pastagens


Publicado em: 17/02/2021 às 17:00hs

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É tempo de semear para aqueles que desejam realizar a reforma ou estabelecimento de suas pastagens, assim como é tempo de ajustar o manejo para fazer com que os animais realizem a colheita da forragem produzida e, desta forma, alavanque a produtividade da fazenda. Mas como fazer para aproveitar todo o potencial produtivo do pasto no período de maior crescimento das forrageiras?

Em grande parte da região central do Brasil, entre os meses de outubro a maio é possível explorar de forma mais significativa o crescimento da planta forrageira devido à maior abundância de recursos naturais, como luminosidade, temperatura e principalmente chuva. Diante de uma produção bovina baseada na utilização do pasto como um dos principais recursos alimentares, é preciso que esse recurso seja visto com mais cuidado e atenção. Assim, é preciso que técnicas de manejo sejam adotadas para otimizar a produção animal, a começar pelo manejo adequado das pastagens. Estas muitas vezes são exploradas de forma errada, sem nenhum ajuste de carga animal durante o ano, e tradicionalmente com baixos investimentos em insumos e aplicação de tecnologias. 

Colheita eficiente é o primeiro passo para intensificação da produção animal em pastagens

Quando se fala na intensificação da produção animal em pastagens, logo vem à cabeça de muitos produtores a utilização de adubação, irrigação, suplementação, etc. Porém, o primeiro passo a ser seguido antes de utilizar essas ferramentas é a colheita eficiente do pasto que já é produzido na propriedade. Para isso, a gestão e adequação dos recursos existentes, como por exemplo, a realização de divisões de extensas áreas e o ajuste de carga animal de acordo com a capacidade de suporte das pastagens, já são considerados grandes passos para alcançar níveis rentáveis de produtividade animal.

Apesar de ser uma técnica que não apresente custo para o produtor, apenas de conhecimento, o ajuste de carga animal, ou da taxa de lotação, ainda apresenta uma certa dificuldade em ser realizada. Esta, nada mais é do que encontrar o equilíbrio entre a disponibilidade de forragem e a demanda pelos animais. Na média brasileira, é comum encontrarmos que a taxa de lotação não respeita a capacidade de suporte das pastagens, resultando em problemas de sub-pastejo e super pastejo. Quando isso acontece, acaba restringindo o consumo e desempenho dos animais, seja pela baixa disponibilidade de forragem (superpastejo) ou pela alta oferta de um alimento que apresenta grande participação de hastes e de baixa qualidade nutricional (sub-pastejo). 

Dada sua importância, para promover esse ajuste é preciso conhecer a massa de forragem por hectare que estará disponível para os animais. Existem diferentes formas de encontrar esse valor, que vai desde o método de amostragem direta a estimativas por imagens por sensoriamento remoto (satélites). A última opção apontada, apesar de ser mais fácil do ponto de vista operacional, ainda apresenta um número limitado de informações, porém tem havido um grande empenho de empresas e pesquisadores nos últimos anos para obter essas informações com elevada precisão através dessa técnica. 

Como forma de auxiliar nesse levantamento, vamos detalhar como realizar o ajuste da taxa de lotação com base no método destrutivo, ou seja, por amostragem da forragem direta no campo. Para exemplificar, vamos utilizar um sistema de pastejo em lotação intermitente (ou rotacionado), onde preconiza alternar períodos de ocupação e de descanso, favorecendo com isso o crescimento e desenvolvimento daquela que é o componente principal quando falamos em sistemas de produção de bovinos em pastejo, a planta forrageira. Vejamos o passo a passo abaixo. 

Conheça o passo a passo para realizar o ajuste da sua taxa de lotação

1º passo: encontrar a altura média do pasto

Como primeiro passo devemos encontrar a altura média do pasto que se encontra no momento de inserir os animais na pastagem. Vale ressaltar que respeitar a altura recomendada para cada cultivar forrageiro em cada momento do pastejo, seja no momento de entrada ou no momento de saída dos animais, ainda se caracteriza como o principal critério a ser seguido. Para obter essa altura média é preciso que faça um levantamento por toda a área que será avaliada, andando em “zig-zag”, em intervalos regulares até que seja obtido entre 40 e 50 pontos para obtenção da média. Apesar de inicialmente ser trabalhoso, com o passar do tempo e à medida que se adquire experiência, será possível “calibrar o olho” para que se faça a escolha de locais representativos da média da altura do pasto.

2º passo: realizar a amostragem da forragem em uma área conhecida

Considerando que a média encontrada foi de 35 cm de altura para o cultivar Cayana (Brachiaria híbrida cv. Cayana), que apresenta uma recomendação de altura de entrada próxima de 32 cm, o segundo passo será realizar a amostragem da forragem em uma área conhecida. Para isso, será necessário utilizar de uma estrutura quadrada construída de cano PVC ou metálica, com dimensões de 1,0 x 1,0 m (1,0 m²), e realizar a amostragem em 4 pontos que apresentem a altura média, coletando toda a forragem contida dentro dessa área. Se o objetivo for estimar a massa de forragem total, esse corte será realizado rente ao solo; já se preferir estimar a massa de forragem disponível para os animais no extrato pastejável, terá que realizar o corte na altura de resíduo, que no caso para o cultivar Cayana será de 16 cm. Ainda no campo, faça a pesagem de todas as amostras e anote em uma planilha pré-elaborada.

3º passo: determinar a matéria seca (MS) da forragem

Após a coleta das amostras no campo, será necessário determinar a matéria seca (MS) da forragem. Os métodos mais utilizados para essa secagem são: estufa de ventilação forçada, koster, air fryer e micro-ondas. Para determinação na fazenda, os dois últimos são os mais comuns de serem utilizados, porém o método pelo micro-ondas parece ser o mais rápido e fácil, sendo o escolhido para detalhar. Será necessário uma sub-amostra de 100 gramas acondicionada em um recipiente apropriado para micro-ondas, que será levada ao aparelho configurado em potência máxima. Dentro do micro-ondas é importante sempre que tenha um copo com água para evitar que a forragem se queime. Após realizada as duas primeiras pesagens com intervalos de 3 e 2 minutos, respectivamente, faça as próximas pesagens em intervalos de 1 minuto, até atingir um peso constante, não esquecendo sempre de descontar o peso do recipiente. Como será utilizada uma amostra de 100 gramas inicialmente, o teor de matéria seca será o valor da última leitura, dado em porcentagem. Se, por exemplo, encontrar o valor de 20 g, o teor de MS então será de 20%.

4º passo: estimar a massa de forragem

Após ter seguido todos os passos anteriores, será possível estimar a massa de forragem, dada em kg de MS por hectare. Assumindo que no 2º passo o corte da forragem tenha sido acima da altura de resíduo, e que o valor obtido da média de todas as amostras foi de 0,750 kg de forragem, e no 3º passo o valor encontrado de MS tenha sido de 20%, então teremos como encontrar a massa de forragem (MF) disponível pela fórmula: 

OBS: Caso seja realizado o corte da forragem rente ao solo, considere uma eficiência de colheita de 50% da forragem encontrada, na medida que a altura de saída dos animais estará condicionada pela metade da altura de entrada.

5º passo: calcular a capacidade de suporte

Agora que já sabemos a quantidade de forragem disponível por hectare, podemos calcular a taxa de lotação (TL) que suportará a pastagem em um determinado período, ou ainda o período de permanência ou ocupação (PO) de um determinado lote de animais nessa área. Considerando que iremos trabalhar com animais de recria, com peso corporal de 300 kg e assumindo um consumo de MS de 2,2% do peso vivo, então o requerimento de cada animal será de 6,6 kg de MS/dia (300 x 2,2% PV). Porém, devido os bovinos serem animais seletivos durante o pastejo, recomenda-se que seja ofertado entre duas e três vezes a capacidade de consumo, sendo então necessários 19,8 kg de MS/dia (6,6 x 3), ou seja, uma oferta de forragem de 6,6%. Para encontrarmos a taxa de lotação, utilizaremos a fórmula:

Por se tratar de animais de 300 kg de PV, temos então uma taxa de lotação instantânea de 5,05 UA/ha. Se tivermos, por exemplo, uma área de 10 hectares, teremos que ter um lote de aproximadamente 76 animais pesando 300 kg em média para o consumo da forragem disponível durante os 10 dias. Reparem que utilizamos no exemplo um período de ocupação de 10 dias. Contudo, quando estamos trabalhando com um lote fixo de animais, com quantidade e peso conhecido, podemos também calcular o período de ocupação (PO) que a pastagem suportará esses animais. Suponhamos que o lote tenha 100 animais pesando 300 kg de PV, em uma área de 10 hectares:

Conclusão

Vale ser ressaltado que todo esse procedimento deverá ser executado em cada piquete do módulo do sistema rotacionado, que normalmente apresenta mais de três piquetes, sendo necessário para o planejamento e possíveis ajustes necessários, como utilizar um lote reserva para auxiliar no pastejo, área extra para compor o módulo de pastejo, ajustar o nível de suplementação dos animais, diferimento da forragem excedente, compra de animais, etc. 

Faça sempre o acompanhamento das pastagens e tenha sempre em mãos os números gerais da propriedade, pois assim será possível traçar metas e desafios.  A aplicação de novas tecnologias somente será viável quando os princípios básicos forem entendidos e mais bem aproveitados.

Planilha para cálculo da capacidade de suporte da pastagem

A equipe de Pesquisa e Desenvolvimento da Barenbrug do Brasil preparou uma planilha para ajudar o produtor a realizar cálculos da capacidade de suporte da pastagem. É mais um recurso para tornar a vida do cliente da Barenbrug ainda mais produtiva e rentável. Clique aqui para fazer o download

Joaquim de Paula é formado em Zootecnia (2010) pela Universidade Federal do Tocantins. Possui mestrado (2013) e doutorado (2016) em Ciência Animal Tropical. Atua desde 2016 como Desenvolvedor de Produtos pela Barenbrug do Brasil. Têm experiência em formação e avaliação de pastagens com forrageiras tropicais, adubação, morfofisiologia de plantas forrageiras e produção de bovinos de corte em pastejo.

Fonte: Barenbrug do Brasil

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