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Senepol amplia seu espaço

Com 12 anos no Brasil raça se adapta bem às fronteiras pecuárias, tem mercado garantido e ganha cada vez mais adeptos


Publicado em: 26/03/2012 às 10:20hs

Senepol amplia seu espaço

Alta adaptabilidade ao clima tropical, dupla aptidão, precocidade e longevidade sexual, resistência a parasitas, temperamento extremamente dócil, bons resultados em criação a pasto ou confinamento e mercado garantido.  Estas são algumas características que vêm fazendo do gado Senepol uma das novas sensações da moderna pecuária brasileira. Mesmo ainda pequena em representatividade no contexto nacional (primeiros animais chegaram ao Brasil em 2000), a raça se expande em uma velocidade invejável.

A Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol) estima que seu crescimento chegue perto ou mesmo supere a casa dos 100% ao ano levando-se em conta não só o rebanho, mas também a sua genética, novos criadores e desenvolvimento zootécnico.

O número de criadores sócios da entidade, que em dezembro de 2010 era de 64, pulou para 83 na primeira quinzena de outubro do ano passado. De acordo com o coordenador de marketing da Associação, Carlos Magno Júnior, em 2010 a raça era criada em 11 estados brasileiros. As previsões para os primeiros meses de 2012 era já marcar presença em 15.

Outros números atestam esta ascensão. “Em 2010 foram comercializadas 93 mil doses de sêmen, volume 25% superior a 2009”; conta Júnior. A demanda em leilões também é crescente. A entidade contabilizou R$ 28 mil em remate de fêmeas jovens em 2010. Em 2011, até meados de outubro, o valor já superava R$ 36 mil.

O coordenador de marketing da Associação, que tem sede em Uberlândia, MG, calcula que o rebanho Senepol PO brasileiro atingiu em 2011 um total de 11 mil cabeças, chegando a 30 mil animais computando os resultados de cruzamentos com absorção. “São números controlados por nós com base em informações dos associados”, lembra.

Na sua avaliação, dois fatores estão sendo fundamentais para que a raça atraia cada vez mais criadores: “primeiro é o fato da procura ser maior que a demanda o que é um sinal verde para investimentos; o segundo é a excelente adaptação desta raça pura taurina à fronteira centro-norte da pecuária brasileira”.

Como meta de trabalho, a diretoria da associação tenta viabilizar a instalação da raça em todos os estados brasileiros ou pelo menos em todas as principais fronteiras de criação. Além disso, está focada na estabilidade do rebanho nacional como referência no mundo, potencializando a produção de touros nacionais.

Um exemplo de potencial do Senepol e de sua adequação às condições brasileiras é o sistema de desenvolvimento genético do pecuarista Jair Santos, em Itiquira, no sul do Mato Grosso. Considerado pela ABCB Senepol como o maior criador individual da raça no mundo ele mantém um rebanho POI de aproximadamente mil cabeças na Fazenda Água Limpa, de 700 hectares, distante aproximadamente 50 km da divisa com o Mato Grosso do Sul.

Santos tem raiz familiar na agricultura e é proprietário de três unidades de fertilizantes em Rondonópolis, MT, mas foi a pecuária que lhe encantou. Também possui uma propriedade (Fazenda Cachoeira) em Paranatinga, centro-leste do Mato Grosso com animais meio sangue e produção de Senepol por absorção. Já na Fazenda Pimenteira, em Santo Antônio do Leverger, no Pantanal do Mato Grosso, trabalha com animais meio sangue, PO e 3/4 Senepol.

Banco genético


Seu rebanho individual Senepol, portanto, reúne perto de 1.500 animais POI e mais 1.500 cabeças entre 3/4 e 7/8. A Fazenda Água Limpa, em Itiquira, é onde Jair Santos concentra o que há de melhor na genética da raça, trabalhando com cria e recria (até touro), transferência de embriões (FIV), inseminação e cobertura a pasto.

Em termos de comercialização vende tourinhos jovens, doadoras, novilhas, prenhezes, sêmens e embriões congelados.

É na propriedade que ele detém o maior banco genético Senepol do Brasil devidamente acondicionado em botijões de nitrogênio líquido. “Se fosse roubado perderia perto de R$ 1,3 milhão em sêmens e embriões”, calcula. Ele estima que seu trabalho responda por algo em torno de 10% a 15% do mercado genético brasileiro de Senepol.

Em 2009 ele deu início à comercialização de seu material genético puro para o exterior. Em 2010 foram vendidos três mil doses de sêmen e 500 embriões para Angola, Quênia, Botswana e África do Sul. Para o mercado interno foram 200 embriões e seis mil doses de sêmen destinados, sobretudo, para o Centro-Oeste.

Para exportação, o embrião chega a ser comercializado na faixa de US$ 500 a US$ 1 mil, dependendo da genética. A média de preço para o mercado brasileiro é de US$ 400. Enquanto isso, a dose de sêmen segue para o exterior a valores entre US$10 e US$ 15 e para o mercado interno entre R$ 15 e R$ 20.

No visual

Percorrendo a fazenda é possível atestar as características que estão provocando a ascensão da raça no Brasil. O “boi vermelho”, como é conhecido pela sua coloração externa, é criado a pasto com eventual suplementação (silagem de milho e ração). “Estruturei uma pequena área para confinamento, mas até hoje não precisei usar", garante.

A tolerância ao calor, uma das qualidades deste animal, é percebida visualmente. Em todos os pouco mais de 500 hectares de pasto da fazenda só é possível encontrar algumas poucas árvores próximas ao Rio Cachoeira que margeia parte da propriedade, desembocando no Rio Itiquira.

O rebanho passa o dia na pastagem aberta sob o forte sol mato-grossense e se desenvolve naturalmente, sem qualquer estresse. Pesquisadores da USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) já comprovaram que o Senepol mantém uma temperatura corporal mais baixa em relação a outros animais como o Angus e o Hereford, por exemplo.

Animal estressado, inclusive, é coisa rara de ser ver em sua fazenda. O rebanho recebe pouca incidência de parasitas como moscas e carrapatos em comparação a outras raças, além de sua impressionante docilidade permitir um manejo eficiente e sem atropelos.

A qualidade da carne é outro atrativo de mercado para o Senepol. “A raça apresentou um dos melhores índices de maciez medidos pelo laboratório Genestar, na Austrália”, conta Santos. “Possui sua devida capa de gordura, mas pouco índice de marmoreio sem comprometer a sua qualidade; portanto, a carne do Senepol é magra, saborosa, macia e saudável”, completa.

Precocidade e longevidade são outras características da raça que Jair dos Santos faz questão de salientar. “tenho novilhas com 14 meses de idade férteis e já aspiradas para fazer embriões. Por outro lado, tenho doadoras com 15 anos de vida e ainda produzindo”, conta.

Uma dessas veteranas doadoras é a “Rob Brow” animal que Santos importou dos Estados Unidos no início da formação de seu rebanho. Pelos seus cálculos, ela é responsável pela produção de mais de 100 bezerros.

Outra atração de seu rebanho é a doadora 2264, nascida em embrião importado dos Estados Unidos. Nas suas duas primeiras aspirações foliculares (OPU) produziu 333 oócitos viáveis e transferiu 116 embriões. “Ela detém um aparelho reprodutivo incomparável”, comenta o pecuarista.

O rendimento de carcaça da raça é, segundo o criador, altamente satisfatório, com índices em torno de 54% a 56% com capa de gordura variando entre 3 a 6 mm. Em sua fazenda, o ganho de peso médio diário fica em torno de 900 gramas a pasto e em 1,4 quilo com tratamento. A sua taxa de lotação é de duas ua/ha com suplementação na seca.

Jair dos Santos faz questão de salientar a qualidade no desenvolvimento do animal a partir do primeiro dia de vida: “nascem com uma média de 32 quilos e chegam a desmama, aos oito meses de idade com 232 quilos de peso".

Indagado sobre os eventuais gargalos na criação de Senepol no Brasil, Jair Santos generaliza: “como em todas as raças, nosso problema é o período de seca no Centro-Oeste quando devemos redobrar nossa preocupação com a alimentação do rebanho”. No que diz respeito ao mercado, ele garante que não existem gargalos. “A demanda é muito maior do que a oferta e todos os que investirem em Senepol vão ganhar dinheiro”, afirma.

Fonte: Ariosto Mesquita

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