Publicado em: 02/03/2012 às 13:50hs
Com um aumento de 40% na quantidade de animais por hectare de pastagem, a pecuária brasileira conseguiria liberar uma área equivalente àquela hoje ocupada pelas plantações de grãos no País. As contas foram apresentadas pela Scot Consultoria nesta quarta-feira (29) em um evento da Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável (APPS), e podem parecer um patamar distante e difícil de atingir.
No entanto, as tecnologias já disponíveis são capazes de promover esse aumento de produtividade, garante o zootecnista e consultor Gustavo Aguiar, da Scot. Segundo ele, o Brasil tem hoje uma média de 0,97 unidade animal (ua) por hectare de pasto – uma ua equivale a 450 quilos de peso de animais. “Se essa média subisse para 1,4 ua, o que não é impossível, a pecuária liberaria 51,3 milhões de hectares”, calcula ele. Essa enorme área poderia ser usada para a expansão da agricultura, ou da própria pecuária.
O fato de a produtividade da pecuária ainda ter muito a crescer é vista como uma oportunidade, e não um problema, pelo sócio diretor da Scot, Alcides Torres. Além de isso indicar grande potencial de crescimento, também representa potencial de tornar a pecuária mais sustentável. “Quando a pecuária produz mais no mesmo espaço, diminui a necessidade de abertura de novas áreas para produção”, ressalta Torres.
Além disso, a quantidade de animais por hectare não é o único indicador de produtividade da pecuária. Explica-se: com a mesma terra, pode-se produzir não apenas um número maior de bois, mas também pode-se engordá-los mais rapidamente e abatê-los com mais peso.
O Brasil avançou nesses três fatores, segundo números levantados pela Scot com base em fontes oficiais. Nos últimos 50 anos, o rebanho bovino brasileiro cresceu em média 5,72% ao ano, enquanto o número de abates subiu em média 9,5% anuais e a produção de carne bovina avançou a 11,5% ao ano. “Cresceu o peso do animal no abate e a taxa de desfrute, que é o percentual do rebanho abatido todos os anos, por isso a carne deixou de ser um prato de luxo”, diz Torres.
Escolha sustentável
Apesar de o desfrute ter crescido 48,8% nos últimos 50 anos, ele ainda é considerado baixo. No ano passado, apenas 19,2% do rebanho foi abatido. Enquanto isso, Estados Unidos e Austrália, que competem com o Brasil no mercado internacional, abateram 38% e 31% de seus rebanhos, respectivamente. “O Brasil deve se perguntar se quer e precisa chegar a esses índices, que só são possíveis confinando os animais desde bezerros; eu acho que não”, defende Torres.
A pecuária extensiva, praticada no Brasil, é feita com concentrações de animais por hectares e taxa de desfrute mais baixas. Por outro lado, esse modelo traz a vantagem de respeitar mais o bem-estar do animal e não consumir grandes volumes de grãos para ração, deixando mais disponibilidade para a alimentação humana. “No Brasil temos luz solar e chuvas suficientes para nos permitir criar bois a pasto, coisas que os outros países não possuem”, afirma o consultor.
Revoluções silenciosas
A grande evolução na produtividade da pecuária brasileira nos últimos 50 anos está totalmente ligada à adoção de tecnologia. Torres afirma que foram três grandes revoluções silenciosas que levaram a esse desempenho: primeiro, a substituição do gado europeu pelo gado zebu, original da Índia e muito mais adaptado aos trópicos; segundo, a adoção de variedades africanas de capim, que aproveitam mais a luz solar na fotossíntese e, assim, elevam o teor de proteína da carne; por fim, a adoção de suplementos e rações, em maior quantidade e qualidade, para complementar o processo de engorda.
“Agora estamos passando pela quarta revolução silenciosa, da genética”, diz Torres, referindo-se tanto à genética animal quanto vegetal. No primeiro caso, novas tecnologias permitem gerar melhores cruzamentos e a um custo mais baixo, elevando a qualidade do rebanho. Do lado vegetal, a biotecnologia é e será ainda mais importante, segundo Torres, para gerar ração para a pecuária.
São basicamente nessas quatro linhas tecnológicas que se encontram as chaves para elevar a lotação da pecuária em 40% e liberar um espaço equivalente a tudo que o Brasil planta com grãos a cada safra. “Muitas tecnologias já existentes, simples e baratas, apenas precisam ser popularizadas e adotadas corretamente para que isso aconteça”, acredita o zootecnista Aguiar.
Torres indica um dado que mostra que essa nova realidade pode ser alcançada no médio prazo. Nos últimos 20 anos, o rebanho bovino brasileiro cresceu 43%, enquanto a área de pastagens ficou praticamente estável.
Fonte: SouAgro
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