A produção crescente de bovinos e bubalinos na Índia, incentivada pela forte demanda por produtos lácteos, tem assustado os produtores brasileiros. O temor é perder espaço nas exportações internacionais, principalmente para mercados pouco exigentes. O Brasil conseguiu aumentar 1,6% a produção de bovinos em 2011 comparando com o ano anterior, chegando a 212,8 milhões de cabeças. No mesmo caminho segue a Índia que pode ter em 2013 um rebanho de 327 milhões de animais, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que considera bovinos e bubalinos na mesma categoria. Na Índia, as leis federais e estaduais proíbem o abate de bovinos por questões religiosas. O abate de búfalos é permitido somente para touros e novilhas não produtivas.

Com a oferta maior nos dois países, haverá necessidade de encontrar novos mercados compradores. A indicação de um duelo pode ser amenizada se o interesse em ganhar mercados esbarrar na qualidade do produto oferecido. "Mesmo com a diferença entre bovinos e búfalos há mercados que querem saber apenas da proteína animal. Neste caso, a concorrência com o Brasil seria inevitável, já que a Índia tem um maior rebanho", explica o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari. Segundo ele, os produtores brasileiros são muito dependentes dos compradores. "O produto da Índia chega mais barato no mercado. Precisamos rever o posicionamento do Brasil no mercado externo".

O representante da Fazenda Conforto, em Goiás, Flávio Abdo, lembra que a Índia exporta principalmente para China e Egito. "É preocupante porque a Índia está pegando parte do nosso mercado". Para ele, o Brasil poderia focar em mercados que pagam mais pela carne e não em mercados que não fazem distinção entre carne de búfalos e de bovinos. O gerente de pesquisa de mercado do Frigorífico Minerva, Fabiano Tito Rosa, analisa que no segundo semestre deste ano os números de exportação do Brasil estão sendo bons. "O Brasil vem recuperando o espaço. Primeiro, porque a carne voltou a ser competitiva. Segundo, porque estamos produzindo mais".

Ele pontua ainda que o Brasil deverá exportar mais que os Estados Unidos e a Austrália. "A Índia, que é o maior exportador, se levado em conta a exportação de búfalos, incomoda no mercado de carnes menos nobres, produzindo carne barata, mas com pouca qualidade". De acordo com ele, para que o Brasil consiga manter e até ampliar o seu espaço no mercado externo seria necessária a exportação de, pelo menos, 90 mil toneladas por mês.

O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), Sérgio De Zen, explica que a baixa qualidade da carne indiana não deve meter medo no produtor brasileiro. Entretanto, acredita que a África do Sul é o concorrente direto do Brasil porque possui caracaterísticas semelhantes de qualidade do rebanho bovino". Eles possuem tecnologia e uma boa indústria, cenário este também explorado pela produção brasileira".