Publicado em: 23/07/2013 às 14:00hs
Mas o tema em si é tão antigo quanto o Velho Testamento, que tem alguns trechos que abordam especificamente práticas de bem-estar animal. As discussões sobre o assunto tornaram-se importantes no século XIX e agora, no século XXI, com o aumento do poder aquisitivo da população em vários países consumidores, como o próprio Brasil, voltaram a ser uma preocupação de segurança alimentar.
Além dessa pressão do terceiro setor sobre o setor produtivo para saber a procedência do alimento, aspectos econômicos, trabalhistas e ambientais estão ligados a boas práticas agropecuárias. “Uma possibilidade de encarar isto seria assumir que uma "fazenda pobre" (com solo e pastagens degradadas, com águas poluídas ou assoreadas) tem um "proprietário pobre" (que não consegue gerar renda para sua própria manutenção), tem "funcionários pobres" (que não têm boa qualidade de vida) e tem animais pobres (subnutridos, doentes, com alto risco de morte)”, metaforiza o zootecnista Mateus Paranhos (foto abaixo), especialista em comportamento animal pela USP e pós-doutor pela Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Na pecuária de corte, por exemplo, há uma relação direta entre o bem-estar animal e a eficiência do negócio. As perdas de carne por hematomas variam entre 12 a 10 mil toneladas, sendo que as projeções dos especialistas no setor contabilizam 40% dessas lesões ainda dentro da fazenda, distribuindo os outros 60% entre transporte e abate. É por isso que muitos criadores já estão conscientes do que deve ser feito para melhorar condições de criação e manejo.
O professor Paranhos, que ministra aulas de Etologia e Bem-Estar Animal pela Unesp, lembra do depoimento de um vaqueiro de 60 anos que conheceu durante uma de suas pesquisas. O peão estava prestes a se aposentar e, na propriedade, havia pouca esperança de que ele pudesse entender e aplicar as boas práticas na criação dos animais. No entanto, após três meses de treinamento, o vaqueiro, que atende pelo nome de Joaquim, deu um depoimento em que afirmava que antes, ao final de cada dia de trabalho, costumava ir para casa muito cansado, mas que ganhou ânimo ao mudar sua rotina. “Eu tomava banho, jantava e ia direto para a cama, pensando que, na manhã seguinte, bem cedo, teria que começar tudo de novo. Hoje é diferente. Eu vou para casa no final do dia e, depois do banho e do jantar, ainda tenho disposição para assistir televisão e conversar com minha esposa ", alegra-se.
Exemplos práticos como esse, que apontam o caminho para a eficiência produtiva e mercadológica da criação de animais no Brasil, serão mostrados nos dias 30 e 31 de julho, durante a próxima etapa do Circuito Feicorte 2013, em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. O evento itinerante, que tem por objetivo difundir conteúdo de referência e levar ao pecuarista as tecnologias disponíveis para a garantia do negócio, terá percorrido em 2013 cinco cidades diferentes: Cuiabá/MT e Palmas/TO (etapas já realizadas) e, além da capital sul-mato-grossense, as cidades de Ji-Paraná/RO e Paragominas/PA.
A palestra do professor Mateus Paranhos será realizada no dia 30 de julho, o primeiro dia do circuito em MS, às 16h no horário local (17h BSB) e terá o título Bem-estar e ética na produção de bovinos de corte. “A mensagem final é a de que vale a pena tratar bem os animais porque tem reflexos positivos na produtividade dos rebanhos, além de ampliar as possibilidades de mercado. Os produtores estão conscientes de que é assim que deve ser feito”, resume Paranhos.
A palestra será dividida nos seguintes tópicos:
- Definição do bem-estar animal;
- Relações do bem-estar animal com a produtividade;
- Aplicação do conceito de bem-estar animal na produção de bovinos com exemploes de manejo pré-abate e de confinamento;
- Pensamentos éticos em relação ao tema bem-estar animal.
As inscrições para o Circuito Feicorte 2013, etapa de Campo Grande/MS, estão abertas e podem ser feitas pelo endereço www.agrocentro.com.br/circuitofeicorte.
Fonte: Rural Centro
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