Publicado em: 20/02/2013 às 19:40hs
O Sul do Brasil possui poucas fazendas extensas de lavouras ou pastagens – predominam áreas de menos de 100 hectares. A intensidade das atividades no campo, porém, é praticamente insuperável. Isso porque, há chuvas no verão e no inverno (bem ou mal distribuídas), uma vantagem crucial sobre a maior parte das regiões agrícolas do planeta, que registram inverno muito seco ou muito frio para a agropecuária. Esse aproveitamento constante da terra prevalece mesmo em fazendas maiores. E não se trata simplesmente de integração lavoura-pecuária-floresta, sistema que vem se difundindo pelo país afora. No caso da Fazenda San Rafael, visitada pela Expedição Safra em Coronel Vivida, no Sudoeste do Paraná, com domínio da produção de sementes à engorda de gado de corte, o complexo sistema produtivo atende à filosofia de negócio de Reneu Colferai, ex-caminhoneiro que dedica-se há 35 anos ao meio rural.
Desde a época em que transportava madeira, sua tendência sempre foi dominar o campo em que atua. Logo comprou o próprio caminhão, e passou a planejar novos investimentos. Na agricultura, questões que rondam todo produtor lhe deram rumo. Por que vender a colheita à indústria ou à exportação se é possível receber bônus qualificando a safra para semente? Por que vender o milho in natura se é possível transformá-lo em silagem e agregar valor à produção? Por que vender a silagem se o produto vale mais depois de convertido em carne? E por que vender o gado para um frigorífico se é possível reunir pecuaristas e controlar o abate e a comercialização, como faz na cooperativa Novicarnes?
Além de controlar a produção de semente à destinação do gado, Kolferai montou uma agropecuária. Hoje em dia, ele dedica-se mais à empresa e à compra de insumos e venda da produção – ou seja, à entrada e à saída de dinheiro. A atividade agrícola fica sob responsabilidade de seu filho e agrônomo Rafael Colferai. A pecuária conta com a dedicação do genro e advogado Fernando Jacob. Com essa organização, o domínio de cada elo da cadeia produtiva ficou relativamente simples, e sobra inclusive tempo para a família estimular o gosto do neto de Reneu, Jamil Jacob, pelo cuidado com bois e cavalos.
A vantagem de dominar diversos elos da cadeia produtiva é a estabilidade do negócio. Numa safra como a atual, a irregularidade das chuvas aumentou a demanda por sementes de qualidade em toda a região. Ou seja, um porcentual maior da produção da San Rafael deve render adicional na hora da venda. A vantagem da soja, insuperável em rentabilidade neste ano, é complementada pela expectativa de expansão do mercado da carne rastreada. Justamente por controlar a origem da alimentação do gado, Reneu tem plenas condições de atender às exigências dos selos de qualidade.
Diversidade
Que venha a irregularidade climática
As lavouras controladas a partir da fazenda San Rafael abrangem 1.100 hectares em Coronel Vivida, 1.050 hectares em Candói e 480 hectares em Mangueirinha, três municípios entre o Sudoeste e o Centro do Paraná. Num ano de irregularidade, áreas com falta de chuva estão tendo a redução na produtividade amenizada pelas lavouras mais bem servidas de umidade.
A expectativa ainda é de produtividade próxima de 3,5 mil quilos de soja por hectare, conta Rafael Colferai. Não sem trabalho redobrado. Nos períodos mais secos, foi necessário pulverizar as lavouras durante a madrugada, pela disponibilidade maior de umidade. “Não é o ideal, mas foi a alternativa para controle da lagarta e do oídio”, disse o agrônomo.
A colheita começou pelo milho para silagem, que alimenta as 6 mil cabeças de gado engordadas anualmente. A alimentação suplementar do plantel, que ocupa 3,5 mil hectares de pasto no inverno, vem sendo processada e embalada em tanques abertos no chão. Com a arroba do boi abaixo de R$ 100, o rendimento é considerado razoável, avalia o responsável pelo setor, Fernando Jacob. “Como a essência do sistema produtivo é a integração, o importante é que as cadeias se complementem”, frisa o proprietário, Reneu Colferai.
Fonte: Gazeta do Povo
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