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A caracterização fenotípica dos bovinos Pé-Duro


Publicado em: 12/11/2010 às 01:53hs

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Graças a trabalhos de instituições públicas e iniciativas de produtores da região Nordeste, o bovino Pé-Duro está sendo resgatado com a estruturação de núcleos de conservação e em fazendas particulares.

Em 1983, a Embrapa Meio-Norte, com apoio do Ministério da Agricultura, CNPq, FUNDECI, Banco do Nordeste e da Fundação Banco do Brasil, fundou o Núcleo de Conservação e Preservação do Gado Pé-Duro na fazenda Octávio Domingues em de São João do Piauí, com mais de 400 cabeças de gado sobre os cuidados do Pesquisador José Herculano de Carvalho. Hoje esse é o principal núcleo de conservação “in situ” dessa raça no Brasil com um rebanho de 233 animais, entre jovens e adultos.

Em 2005, produtores empenhados em proteger e divulgar a raça no país fundaram a Associação Brasileira de Criadores de Gado Pé-Duro (ABPD), que hoje se encontra com mais de 32 associados nos estados do Piauí, Maranhão e Paraíba totalizando mais de 1.500 bovinos. Em grande parte dos rebanhos são encontrados animais, que descendem dos bovinos do Núcleo da Embrapa Meio-Norte, parceira da associação.

Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), elementos importantes nos programas nacionais de conservação incluem o inventário, a caracterização e a documentação dos dados obtidos. Em termos de pesquisa, as prioridades devem ser dadas a caracterização e avaliação das populações nativas e a mensuração das diferenças entre e dentro das populações.

Sabe-se que algumas raças nativas brasileiras, embora recebam denominações diferentes e habitem regiões distintas, apresentam fenótipos semelhantes, o que levanta dúvidas em relação às suas identidades como raças distintas. Um exemplo de conflito com relação a raças no Brasil é a denominação do bovino “Pé-Duro” do Semiárido Nordestino e “Curraleiro” dos Cerrados de Goiás e Minas Gerais, como se fossem uma mesma raça.

Porém, ao se levar em conta a pressão da seleção natural em biomas diferentes a qual se formaram e o isolamento geográfico, as populações podem ter adquirido características adaptativas e consequente distanciamento genético entre si, o que nos leva a diferenciar as raças Pé-Duro e Curraleiro. Isto já ocorre em relação às demais raças oriundas do mesmo tronco genético, tendo como exemplo a raça Pantaneira, de grande similaridade fenotípica com as duas anteriores, mas reconhecida como uma raça específica do bioma Pantanal.

Todos os caracteres morfofisiológicos observados no indivíduo, que podem ser listados para a identificação da espécie e que são modulados pelo ambiente, constituem o fenótipo. Existem dois tipos de características fenotípicas, as qualitativas, como cor de pelagem, tipo de pêlo, presença ou ausência de chifres, tipo de chifre, pigmentação da pele, classificados visualmente tendo-se como referência padrões previamente estabelecidos; e as quantitativas, como tamanho, peso, altura, comprimento, circunferência escrotal, que precisam ser mensurados com o uso de instrumentos de medição.

A mensuração de características fenotípicas morfométricas permite caracterizar ou classificar indivíduos e raças em uma determinada população. Tais características podem ser definidas como uma particularidade individual em destaque que, em maior ou menor grau de variação, determina o tipo de raça ou tipo étnico a qual pertence.

Pesquisas com relação à distância genética e variabilidade de algumas raças nativas do Brasil concluíram que em alguns rebanhos dessas raças houve a introdução de genes zebuínos. Portanto, o controle dessa miscigenação faz-se necessário para evitar a preservação de animais mestiços ao invés de animais das raças nativas ameaçadas de extinção.

O Pé-Duro, assim como outras raças nativas, pode ser considerado como uma entidade genética distinta, comprovando-se assim, a unicidade de sua população e a importância da conservação. Para programas de conservação, a caracterização fenotípica constitui uma das principais etapas, pois, além de servir de base para os processos de seleção, serve como estratégia para a preservação de raças que estão em constante perigo de extinção, como também para uso posterior em programas de melhoramento.

Geraldo Magela Cortês Carvalho - Pesquisador da Embrapa Meio-Norte

Fonte: Embrapa Meio-Norte

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