Nutrição

Suplementação mineral nas águas: a hora de cuidar (e ganhar mais) é agora

A suplementação mineral nas águas é fundamental para a obtenção de bons resultados na pecuária de corte.


Publicado em: 14/02/2014 às 01:00hs

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É na época das chuvas que temos o maior desenvolvimento das nossas forrageiras, sendo comum que mais de ¾ da massa total de forragem produzida no ano se concentre nessa época. Consequentemente, o maior ganho de peso dos animais ocorre também nesse período.

Isso ocorre porque o animal é capaz de selecionar uma dieta com maior valor nutritivo, fazendo menos esforço no pastejo. A maior ingestão de nutrientes e o menor gasto de energia no pastejo resultam em melhor desempenho.

E qual o papel dos minerais no desempenho dos animais?

O primeiro aspecto a ser entendido é que os minerais, por si só, não fazem o animal ganhar peso. Todavia, eles são fundamentais para o correto funcionamento do animal e exigidos na deposição de tecidos. Assim, apesar de a presença deles não garantir o ganho, a deficiência de qualquer um deles limita o desempenho.

Uma ilustração para facilitar esse conceito seria uma fábrica que produz caixas de madeira feitas com dobradiças e uma fechadura. Digamos que você tenha mão-de-obra e madeira para fazer cem caixas, mas que de um dos parafusos para fixar a fechadura na tampa da caixa você tenha o suficiente apenas para 80 caixas. Nesse caso, apesar do seu potencial para fabricar cem caixas, só sairão prontas da linha de montagem 80% do seu potencial. Assim, por conta de um item que representa apenas uma ínfima parte do peso, bem como do custo do produto, há um grande prejuízo.

De maneira semelhante, mesmo que a pastagem tenha proteína e energia suficientes para o animal ganhar 900 g/cabeça.dia, se o teor de fósforo nesta dieta permitir apenas 600 g/cabeça.dia, o desempenho será limitado pela falta de fósforo. Se houver zinco suficiente apenas para ganho de peso de 500 g/cabeça.dia, ganhar-se-á apenas esse meio quilo e assim por diante. Enfim, o nutriente mais limitante é o que define o desempenho.

O mais importante de se notar neste conceito é que quanto maior a produção do animal, maior a sua exigência por nutrientes.  Assim, da mesma forma que quanto maior for minha produção de caixas, mais tenho que suprir minha fábrica de parafusos para as fechaduras, quanto maior o desempenho dos animais, mais tenho que me preocupar que a suplementação mineral seja eficiente e não limite o potencial de ganho nas pastagens. Esse é um dos motivos que faz crítico o adequado fornecimento de minerais aos animais.

Outro papel muito importante dos minerais para bovinos decorre da participação destes no correto funcionamento do sistema imunológico, que protege os animais contra doenças. Aqui, deve-se lembrar de que nem sempre problemas de saúde se expressam claramente e os animais podem ter pior desempenho sem demonstrar sintomas visíveis de alguma doença.

Além disso, por ser uma época de alta umidade e calor, o desafio sanitário é maior nas águas. Quando o sistema imune é desafiado, ele demanda mais nutrientes. O cobre é um dos minerais que tem exigências maiores em animais sob desafios imunológicos. Portanto, um animal melhor nutrido em cobre pode ter maior desempenho que outro mal nutrido.

O que fica claro é que em nenhuma outra época do ano é mais crítico o correto suprimento de minerais. É quando eles farão mais diferença. E fazem, visto que as forrageiras tropicais são reconhecidamente deficientes em elementos minerais. Em especial, deficientes em sódio, zinco, cobre, fósforo e cálcio, além de cobalto, iodo e selênio.

Felizmente, há boas opções de misturas minerais prontas no mercado com indicações para as diferentes categorias animais e situações de fertilidade do solo, facilitando a escolha das melhores opções para cada caso.

O grande desafio é conseguir um bom fornecimento do produto de maneira que o consumo seja efetivo e o mais homogêneo possível entre os animais do lote.

Abaixo, algumas dicas para aumentar a chance de sucesso na suplementação mineral:

1) Manter os cochos sempre abastecidos;

2) Disponibilizar suficiente área de cocho por animal. Recomenda-se 6 cm/UA de área linear de cocho, que é um valor mínimo e, na medida do possível deve ser aumentada. Uma UA equivale a um animal de 450 kg;

3) Se possível, colocar mais de um cocho de sal, para dar chance aos animais submissos lamberem o sal do cocho em que os animais que eles tenham medo não estejam usando. A dica é colocar os cochos de forma a ter pelo menos a distância equivalente a dois corpos entre os cochos, considerando que “um corpo” é a distância-de-fuga dos bovinos, ou seja, aquele que tem medo evita ficar a menos do que um corpo de distância do animal que ele teme;

4) Evitar a formação de poças d´água em frente e ao redor do cocho, o que dificulta o acesso dos animais ao mineral. Essa dica vale para qualquer outro imprevisto que afete o acesso dos animais ao sal mineralizado;

5) Evitar a formação de torrões ou placas endurecidas do sal mineralizado no cocho e  desfazê-los mecanicamente, pois eles reduzem o consumo do produto pelos animais;

6) Valorizar e treinar o salgador para que ele entenda a importância do seu trabalho e o porquê de ter que ser bem feito, incumbindo-o de monitorar o consumo de cada lote;

7) Usar o valor obtido do monitoramento de consumo para fazer correções no fornecimento, seja pelo aumento da oferta em locais onde o consumo esteja abaixo do recomendado pelo fabricante (ou seu técnico de confiança) ou pela redução, onde estiver ocorrendo consumo acima do previsto. Importante destacar aqui que o maior prejuízo é quando há consumo abaixo do previsto, pois há grande chance de estarmos perdendo desempenho potencial das pastagens;

8) Mesmo se o consumo estiver dentro do esperado, pode haver animais que não estejam consumindo. Uma atenta observação pelo salgador e os resultados de desempenho podem comprovar isso. Se isso ocorrer, deve-se aumentar a área de cocho, de preferência com a instalação de cochos adicionais.

Com atitudes simples como essas, é possível aproveitar a luz, o calor e a água que a natureza oferece em abundância nessa época e incrementar o ganho mais barato de produção de carne nesse nosso generoso pedaço de terra tropical.

Sergio Raposo de Medeiros - Pesquisador da Embrapa Gado de Corte - Nutrição Animal

Fonte: Embrapa Gado de Corte

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