Equídeos

Criações extensivas de cavalos na região do pantanal: mortalidade aguda por cólica

Os cavalos são muito sensíveis a dor por distensão abdominal, apresentando importantes distúrbios digestivos, mais comumente chamados de cólica


Publicado em: 23/06/2020 às 15:40hs

Criações extensivas de cavalos na região do pantanal: mortalidade aguda por cólica
Foto: Pastoreio em campo nativo do Pantanal de Mato Grosso.

Em geral, a síndrome cólica ocorre mais frequentemente em equinos estabulados, alimentados com ração e com pouca oferta de alimento volumoso (fenos ou pastagem verde). Em criações extensivas, a alimentação desses animais é baseada na ingestão de fibras vegetais e quadros de cólica embora ocorram, são incomuns. Entretanto, uma enfermidade que acomete equinos e muares tem chamado atenção pela manifestação de quadros agudos de cólica envolvendo animais a campo, com a ocorrência de casos fatais se não tratados de forma precoce. O quadro clínico caracteriza-se por dilatação gástrica, distensão intestinal e paralização dos movimentos intestinais. É mais comum em equídeos adultos, sendo que os muares são aparentemente menos sensíveis do que os equinos, com a maior concentração de mortes ocorrendo em cavalos.

A causa desse distúrbio permanece incerta, embora pesquisadores, técnicos e produtores estejam trabalhando para solucionar os surtos de mortalidade registrados a partir de 2007 em diferentes localidades nos Estados de Mato Grosso, Pará e Rondónia. As informações sobre a porcentagem de animais que adoecem nos rebanhos, entre 4 e 56%, são restritas a descrição de surtos ocorridos em 2009, no estado do Pará. Apesar disso, é importante que técnicos, cuidadores e criadores estejam atentos às características dessa enfermidade.

Os casos ocorrem quando os animais são colocados em pastagens de Panicum maximum (ou Megathyrsus maximus), cultivares Massai, Mombaça, Tanzânia ou Zuri, em solos férteis ou com histórico de adubação anterior, acontecendo com maior frequência na estação chuvosa ou após precipitações ocasionais.

Em alguns casos, após ingestão desses tipos de cultivares, ocorre excessiva produção de gás, timpanismo, compactação e os animais manifestam a síndrome cólica, caracterizada por acentuada distensão abdominal após 6 a 12 horas. Se não houver intervenção emergencial padrão (passagem de sonda, uso de surfactantes, hidratação, movimentação e soluções com cálcio injetável), para evitar a progressão da doença, os animais podem morrer num curto período, geralmente de 24-36 horas após início dos sinais. Entretanto, a taxa de sobrevivência, quando tratados precoce e adequadamente, supera 80%.

Apesar da região do Pantanal ser caracterizada pela produção extensiva de equídeos em pastagens nativas e diversificadas, ressalta-se que essas cultivares vêm sendo introduzidas em algumas regiões da Planície Pantaneira - muitas vezes, precedidas de adubação. Por isso, alertamos para a ocorrência dessa enfermidade, já relatada por pesquisadores, médico-veterinários e tratadores dessa região.

Fica a dica:

• Priorize o uso de outras pastagens para equinos durante o período chuvoso, evitando as variedades de Panicum maximum, que sabidamente podem provocar surtos de cólica aguda, ou maneje adequadamente de modo a evitar predominância de pastoreio nessas cultivares, estimulando e conservando áreas de pasto nativo nos campos pantaneiros.

• Vistorie equídeos ao menos duas vezes por dia em piquetes onde exista o predomínio dessas cultivares de Panicum maximum.

• Percebendo início de desconforto com distensão abdominal, inquietação, rolamento e sudorese, solicite imediatamente, com urgência, a assistência de um médico-veterinário.

Carlos Eduardo Pereira dos Santos (carlos.favet@gmail.com), médico-veterinário, professor da Universidade Federal de Mato Grosso; Raquel Soares Juliano (raquel.juliano@embrapa.br), médica-veterinária, pesquisadora da Embrapa Pantanal

Fonte: Embrapa Pantanal

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