Caprinos e Ovinos

Entrave na ovinocultura gaúcha: falta de continuidade no fornecimento

Região de Passo Fundo é tradicional no cultivo de grãos e assim, a ovinocultura que exige mais mão-de-obra acaba ficando de lado


Publicado em: 05/06/2012 às 11:00hs

Entrave na ovinocultura gaúcha: falta de continuidade no fornecimento

Depois de alguns anos trabalhando na forma tradicional, agora o produtor rural Evandro Noiran Ramos Martins, está colocando em prática a criação de ovinos nos níveis de avicultura e assim, tem obtidos resultados positivos. A criação tradicional de regiões quentes está se adaptando ao Sul do Brasil com alguns aprimoramentos na técnica de criação. E assim, espera-se conseguir obter uma continuidade no fornecimento e conseguir suprir a demanda consumida na região de Passo Fundo.

“Hoje não temos essa continuidade no fornecimento da carne, mas estamos buscando, pois se outros produtores acabarem introduzindo as mesmas práticas que inseri na minha propriedade vamos conseguir abastecer o mercado consumidor”, explica o produtor rural Martins.

Segundo ele, entre as adaptações feitas para a criação de ovinos está na ambiência com cortinas que limitam a entrada do vento, luminosidade, porque a raça Texil é altamente dependente de horas luz/dia para ovular e para entrar em cobertura. A questão do ripamento também é importante, porque os animais, há alguns anos, estavam no chão batido, o que ocasionava, conforme Martins, problema de urina, além de contaminar os animais era uma condição complicada. “Adotamos esse sistema de criação de ovinos ao moldes da avicultura, controle de ambiência, controle de alimentação, manejo dos animais e bem estar animal. E desta forma estamos obtendo resultados positivos”, diz.

As limitações são a criação de ovinos no Sul do Brasil, que tem um inverno rigoroso e úmido. A origem da ovelha é de clima seco, da Arábia e não toleram umidade. “Por isso, temos que fazer um sistema em que os animais fiquem condicionados a uma melhor forma de criatório. E assim, nesse ano fizemos essa mudança”, acrescenta.

Martins cria duas espécies, sendo que uma pode ser melhoradora de outros criadores. “Nosso objetivo é formar um sistema associativo para difundir essa tecnologia para que mais criadores se unam e consigam abater e atender o fantástico mercado de Passo Fundo. Mas hoje existe a falta de continuidade no fornecimento, esse é o grande limitante. Só temos em grande oferta em duas épocas Natal e Páscoa”, diz.

O produtor possui cerca de 80 matrizes, com margem de 140 animais em média por ano. A comercialização é feita para outros criadores para reposição por um preço entre R$ 700 e R$800.

Martins destaca que é uma atividade compensatória, com uma margem de lucro em torno de 30%, podendo ser extremamente rentável. Até porque utiliza na alimentação pastagem rotacionada. Todo esterco é utilizado na lavoura na forma de adubação.

Os animais são criados num ambiente de 200 metros quadrados, onde a expectativa é para que ainda nesse ano, o rebanho seja ampliado para 200 animais. E eles permanecem neste ambiente por quase todo o dia, saindo por cerca de 1h para pastejo no pomar, onde o produtor rural, cultiva cerca de mil pés de laranja.

Alimentação

Eles se alimentam com 400 gramas de feno/dia. Na propriedade há reserva alimentar para cerca de 2 anos.

Martins diz que entrou na criação de ovinos, assim como nas demais atividades da propriedade de 27 hectares no interior de Passo Fundo, para ter tecnologia, fazer um diferencial competitivo. “Teremos orgulho se conseguirmos atender o mercado de Passo Fundo”, diz. Na propriedade, todas atividades são autosuficientes.

Entrave: a competitividade dos grãos

Conforme o diretor da faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UPF, Helio Carlos Rocha, a criação de ovinos está enraizada com a cultura da população, e quem cria é para consumo próprio. Mas não há uma quantidade necessária que atenda demanda existente. Entretanto, em comparação há alguns anos, a criação aumentou. Em 1999 a UPF iniciou um trabalho de capacitação de técnicos em conjunto com a Emater e, na época, estimava-se haver na região 30 mil animais, sendo que esse número hoje atinge em torno de 50 mil animais. Mesmo assim, é insuficiente para atender a demanda.

No Brasil, o consumo médio per capita/ano é de 700 gramas, já de carne bovina é de 45 quilos/ano. “O preço é um fator restritivo, mas a oferta também é”, diz. Um exemplo é no Rio Grande do Sul, onde o consumo chega a 2,5 quilos per capita/ano, sendo que é o estado que possui um dos maiores rebanhos e, os três municípios que mais criam são Santana do Livramento, Alegrete e Bagé, onde o consumo per capita/ano é de 31 quilos. “Podemos observar que existe uma relação entre o efetivo de ovinos e o consumo da carne”, acrescenta.

Para Rocha, um dos principais problemas é que a cadeia da ovinocultura não é organizada, a exemplo do que ocorre com a avicultura ou bovino de corte. Ele diz que é uma alternativa de renda, podendo aproveitar o material originado a partir da soja ou milho, como a resteva, o resíduo da lavoura, com a integração da lavoura e pecuária. “Assim poderíamos ter um resultado melhor da atividade, por aproveitar todos esses recursos produzidos na propriedade e que parte acaba se perdendo se não há essa integração”, explica.

Para o professor, há uma dificuldade de aliar a ovinocultura, pela região ser produtora de grãos. “Pomos lembrar quando a soja teve o boom de preço e chegou ao patamar de R$ 50,00 pela primeira vez com a entrada na China comprando o produto. Naquela época, muitas atividades foram abandonadas e os agricultores passaram a cultivar apenas soja ou dando mais atenção a oleaginosa. Diante disso, talvez se tivermos alguns programas governamentais que fossem estabelecidos e que dessem ao produtor uma garantia, a ovinocultura se tornaria mais expressiva na região.

Fonte: Diário da Manhã - Passo Fundo

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