Caprinos e Ovinos

Cordeiros, sombra e bem-estar

O bem-estar animal é cada vez item mais exigido em processos sustentáveis de criação. Na maioria dos casos, além de agregar valor ao produto, oferece novas alternativas de renda na propriedade


Publicado em: 20/03/2012 às 09:40hs

Cordeiros, sombra e bem-estar

Quem vem abrindo caminho neste sentido são as atividades de integração produtiva. Em crescimento nos últimos anos – e de olho em novas oportunidades de mercado -, a ovinocultura brasileira começa a apostar forte em estruturas silvipastoris como alternativa de diversificação produtiva, para certificação de produtos e como ambiente mais confortável para o rebanho. Tanto estudos técnicos quanto exemplos práticos surgem em várias regiões brasileiras.

Em dezembro passado, por exemplo, a Embrapa Gado de Corte lançou o livro “Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta: a produção sustentável” onde reserva um capítulo inteiro sobre “Produção de ovinos de corte em sistemas integrados”. A obra foi desenvolvida pelos pesquisadores José Alexandre Agiova da Costa (Embrapa Caprinos e Ovinos) e Carmen Iara Mazzoni Gonzalez, doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).

Enquanto isso, propriedades começam a adotar o sistema. Uma fazenda em Goiás, por exemplo, está trabalhando a criação de ovinos de corte em área cultivada com eucalipto e braquiária. Este sistema silvipastoril funciona paralelamente a uma central de genética. A ideia do proprietário é fazer da atividade referência - primeiro para o Centro-Oeste e posteriormente para o Brasil.

Esta busca pelo apuro tecnológico surge em um momento de expansão da atividade. Dados do Anuário da Pecuária Brasileira (Anualpec) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 dão conta de que o rebanho brasileiro de ovinos saiu de 16,02 milhões de cabeças em 2006 para 16,81 milhões em 2009. Salto maior aconteceu entre 2009 e 2010. De acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) 2011 do IBGE, a população de ovinos cresceu 3,4%, passando de 16,81 milhões para 17,38 milhões de cabeças.

Os estados do Rio Grande do Sul e da Bahia lideram a produção brasileira cada um respectivamente com 3.979.258 e 3.125.766 cabeças. A Região Nordeste conta com mais da metade do rebanho brasileiro – 9,85 milhões de cabeças – seguido do Sul (4,88 milhões) e Centro-Oeste (1,26 milhão).

Integrações

O estudo apresentado na publicação da Embrapa sugere a criação integrada de ovinos em três sistemas diferentes. O primeiro seria o desenvolvimento em uma mesma área com bovinos, em pastejo associado (pastejo misto). No segundo, discute as diversas possibilidades de terminação de cordeiros em áreas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) onde há rotação de culturas.

A terceira possibilidade é a criação em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) ou mesmo em Sistema Silvipastoril. De acordo com a publicação da Embrapa, a introdução de árvores, como o eucalipto, proporciona melhor bem-estar animal através do sombreamento, diminui a ocorrência de fotossensibilização e protege os animais de temperaturas externas.

Além disso, a fazenda ganha mais uma fonte de renda – celulose, carvão ou madeira - e abre a possibilidade de agregar valor aos seus produtos finais (carne, lã e leite) com a imagem de uma propriedade rural sustentável e até mesmo com a possibilidade de certificação.

30 hectares em GO

Exemplo de sistema de integração Silvipastoril na criação de ovinos de corte está sendo desenvolvido na Fazenda Sanga Puitã, de 400 hectares, em Cristalina, Goiás. Há três anos, o proprietário, Wilfrido Augusto Marques, decidiu cultivar 30 hectares com eucalipto. Há um ano colocou os primeiros animais – boa parte resultado de cruzamentos entre Dorper e deslanados. “Este é um lugar na fazenda que me entusiasma”, confessa.

De início, Marques está trabalhando com uma taxa de ocupação de 12 animais por hectare, mas almeja a possibilidade de atingir 20 animais/ha com a evolução do manejo. A gramínea escolhida foi a Braquiária Piatã (Brachiária brizantha), por ser o solo da propriedade bastante arenoso, com risco de umidade excessiva por pelo menos três meses por ano.

O produtor, no entanto, não descarta a utilização posterior de capim Massai (Panicum maximum) e da leguminosa Estilosantes Campo Grande (Estylosanthes capitata e Estylosanthes macrocephala).

A área Silvipastoril da Fazenda Sanga Puitã tem o objetivo primeiro de melhorar o ambiente para os animais. Futuramente, com o crescimento das árvores, é ideia utilizar a madeira para o consumo dentro da própria fazenda, em construções rurais e em cercas.

O sistema silvipastoril é considerado um ingrediente de aprimoramento do sistema produtivo da Sanga Puitã que reúne um rebanho total de 400 Dorper PO, 1.200 cruzados (com animais deslanados) e perto de 50 White Dorper, além de uma área de confinamento de bovinos com capacidade para 400 animais.

Vitrine nacional

O carro chefe da propriedade que determinou, inclusive, a instalação do espaço de integração silvipastoril, é a Sanga Puitã BioGlobal (SPBG), divisão da fazenda que responde por administrar o trabalho de genética e a central de transferência, tanto ovina quanto bovina. “Nosso objetivo é ser vitrine do agronegócio brasileiro”, comenta Marques.

De acordo com o consultor de pecuária, André Sório, o foco do pecuarista está em transformar a Sanga Puitã em referência em genética de Dorper e White Dorper para o Centro-Oeste e, em seguida, para o Brasil.

Também está sendo avaliada a implantação de filiais da SPBG no Paraguai e no Panamá, além da intensificação de comercialização de material genético. “É muito provável que a SPBG já seja a principal criadora de Dorper e White Dorper PO do Centro-Oeste, talvez de todo o Cerrado, pois é absolutamente incomum para o Brasil se encontrar em uma só propriedade tantos ovinos puros destas raças”, comenta.

No mercado interno, a SPBG vem marcando presença de forma sistemática. A central participa constantemente de leilões em praças brasileiras de ponta em São Paulo, Paraná e Bahia, além de efetuar venda direta para muitos outros estados.

As metas principais são chegar a 3.000 ovelhas cruzadas e ser o pivô do desenvolvimento regional de um projeto de produção de carne ovina que contemple 20 mil matrizes distribuídas por parceiros de todos os portes. Este projeto de produção de carne envolveria a operação de um frigorifico de pequeno porte, para atender o mercado de Brasília.

Importação e parcerias

Para atingir estes objetivos, a Sanga Puitã vem trabalhando internamente de olho na atividade desenvolvida no exterior e aberta para sistemas de parcerias. Em 2007, um ano depois da chegada dos primeiros animais deslanados comuns na fazenda, foi feita a importação de embriões de alta genética da Austrália. Os animais originários deste lote estão hoje identificados por uma coleira vermelha. “Em breve todos serão chipados”, garante o criador.

Em 2009 teve início uma parceria com a Cabanha SamMichele, de São Paulo, que culminou com a aquisição de 200 doadoras Dorper e White Dorper de alta genética. “A busca de animais no exterior, e a aquisição de lotes puros em alguns dos principais criatórios brasileiros mostram a nossa disposição em acelerar o desenvolvimento racial do rebanho”, comenta Marques.

Circulando pela propriedade, o criador não esconde o orgulho da estrutura que consegue disponibilizar para o desenvolvimento de seu rebanho de ovinos. Depois da área silvipastoril, ele faz questão de mostrar o seu curral modelo australiano. A sua disposição, o corredor e a altura dos compartimentos têm o objetivo de auxiliar e agilizar o manejo dos animais.

Assim como a área silvipastoril, todo o projeto de desenvolvimento da fazenda se encontra em plena implantação, apesar dos bons resultados já alcançados. Marques, por isso mesmo, sabe que muito ainda deverá ser trilhado. “Em uma escala de 01 a 10 ainda estados na fase 02”, avisa.

Fonte: Ariosto Mesquita

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