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Sistemas silvipastoris: benefícios para meio ambiente e competitividade para pecuária leiteira

A pecuária leiteira em Rondônia tem grande importância para o desenvolvimento econômico do estado, o qual ocupa o 1º lugar em produção de leite inspecionado na região Norte e o 9º no Brasil.


Publicado em: 04/09/2012 às 19:20hs

Sistemas silvipastoris: benefícios para meio ambiente e competitividade para pecuária leiteira

Por outro lado, o pouco uso de tecnologia por parte dos produtores de leite é preocupante porque evidencia a vulnerabilidade desse setor, quando consideramos a competividade dentro da cadeia produtiva nacional, um mercado consumidor cada dia mais exigente.

Para tornar a pecuária leiteira rondoniense mais competitiva, tanto em relação aos demais sistemas produtivos, quanto em relação à pecuária dos demais estados brasileiros, estudos devem ser conduzidos para buscar novas espécies forrageiras e tecnologias para a intensificação dos sistemas de produção. Além disso, para que essa atividade seja considerada mais sustentável do ponto de vista ambiental, essa intensificação deve ser baseada ou praticada predominantemente em áreas já desmatadas (degradadas) e que se encontram abandonadas ou subutilizadas, o que deve reduzir a necessidade de abertura de novas áreas para formação de pastagens, o que causa perda de biodiversidade e modificações do ecossistema devido ao desmatamento.

Por essa razão, os sistemas agroflorestais (SAF’s) são sugeridos como alternativa para contribuir com a recuperação da fertilidade do solo, o aumento da biodiversidade e a melhoria do uso dos recursos naturais. Os sistemas silvipastoris (SSP’s), uma modalidade de SAF’s, são sugeridos como alternativa para recuperar a biodiversidade em sistemas que agrícolas e pecuários. Os SSP’s consistem de uma combinação natural, ou não, de espécies arbóreas em uma área de pastagem formada por gramíneas e, ou leguminosas nativas ou cultivadas.

Em Rondônia, as condições para o estabelecimento de SAF's são extremamente favoráveis, em função das condições de clima, de solo e da biodiversidade de espécies arbóreas nativas com potencial para compor sistemas diversificados.

Em estudo conduzido em parceria com a Embrapa Acre, pesquisadores da Embrapa Rondônia identificaram espécies de crescimento espontâneo em áreas de pastagens cultivadas com potencial de uso múltiplo para compor sistemas silvipastoris. Entre as leguminosas arbóreas avaliadas, o bordão-de-velho (Samanea tubulosa), a baginha (Stryphnodendron pulcherrimum) e a jurema (Chloroleucon mangense var. mathewsii) foram as que mais se destacaram.

Em outro estudo conduzido pela Embrapa Rondônia, o impacto ambiental da implantação de sistemas silvipastoris foi avaliado em unidades de produção familiar participantes do “Projeto Silvipastoril: agricultores familiares promovendo o equilíbrio ambiental em Rondônia”, implementado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (Fetagro), no período de 2006 a 2009 com recursos financeiros obtidos via edital do Ministério do Meio Ambiente. Como os SSPs foram avaliados apenas um ano após o plantio das espécies arbóreas, foi possível observar um impacto ambiental pequeno, mas positivo, principalmente em relação ao aumento da biodiversidade da propriedade e à implantação do manejo da pastagem via lotação rotacionada, o que provocou uma melhora considerável na disponibilidade de pasto.

Os SSP’s estão relacionados com diversos benefícios para o meio ambiente, quando comparado às pastagens convencionais (sem a associação com árvores ou arbustos). Alguns destes benefícios são: a conservação do solo (diminuição de lixiviação e erosão) e dos recursos hídricos (aumento da eficiência do ciclo da água), o aumento na biodiversidade de fauna e flora e a promoção de bem-estar aos animais do rebanho devido ao fornecimento de sombra. Além disso, as pastagens adequadamente arborizadas podem contribuir para a redução da emissão de alguns gases relacionados com o “efeito estufa”, como o gás carbônico (CO2), o óxido nitroso (N2O) e o gás metano (CH4). Tais benefícios podem ser utilizados como estratégia de marketing e para agregar valor aos produtos produzidos nesse tipo de sistema, explorando um nicho de mercado em expansão mundial, que são os alimentos produzidos de forma ambientalmente correta e socialmente justa.

O reconhecimento dos benefícios gerados pelos SAF’s, em especial os silvipastoris, está em crescimento no Brasil, mas a sua utilização ainda é muito baixa. As principais limitações para implantação e uso de SSP’s são: econômicas (falta de recursos para investimento inicial e retorno em longo prazo), operacionais (necessidade de isolar a área por 2-3 anos e manejar um sistema mais complexo e que exige mais mão de obra e conhecimento técnico) e culturais (ainda existe resistência por parte de pecuaristas que acreditam que as árvores diminuem a produtividade da pastagem e, consequentemente, do rebanho).

A complexidade das interações entre os diferentes componentes (árvores, pasto e animais) dos SSP’s são específicas para cada localidade, dificultando o uso de recomendações embasadas em estudos realizados em outras regiões. Por essa razão, a troca de experiências entre técnicos e agricultores é fundamental, o que pode ser proporcionado por eventos e dias de campo que abordem o assunto. Daí a importância da geração de maior volume de informações técnicas, principalmente de indicadores socioeconômicos que possam embasar políticas públicas e programas de liberação de créditos financeiros específicos para implantação desse tipo de sistema.
 
Ana Karina Dias Salman
 , zootecnista, pesquisadora Embrapa Rondônia, e-mail: aksalman@cpafro.embrapa.br

 André de Almeida Silva , biólogo, mestrando do PGDRA - Universidade Federal de Rondônia, e-mail: andre.terra@ibest.com.br

Fonte: Embrapa Rondônia

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